Açoriano Oriental
Trabalhadores do comércio da ilha Terceira manifestam-se pela segunda vez em três meses

Os trabalhadores de comércio e escritórios da ilha Terceira, manifestaram-se em Angra do Heroísmo, pela segunda vez em menos de três meses, reivindicando um contrato coletivo de trabalho “digno”, com melhores horários e salários.


Autor: Lusa/AO Online

“Estamos a lutar para defender os nossos direitos laborais e para ter um contrato digno, a lutar por horários de trabalho sem adaptabilidade, sem banco de horas e que permitam que os trabalhadores possam conciliar a vida profissional com a vida pessoal. Estamos a lutar pelo aumento dos salários, pelo subsídio de alimentação e pelas diuturnidades”, afirmou, em declarações aos jornalistas, Magda Machado, delegada sindical e funcionária de um supermercado na ilha Terceira.

No centro de Angra do Heroísmo, mais de uma centena de pessoas protestaram com cartazes e cânticos, como “Câmara de comércio escuta, os trabalhadores estão em luta”, “Não podemos aceitar empobrecer a trabalhar” ou “Para além do trabalho temos vida pessoal”.

Segundo Magda Machado, o contrato coletivo de trabalho proposto pela Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) prevê que a carga horária semanal possa chegar às 50 horas.

“Nós também temos família, temos vida pessoal, queremos poder organizar a nossa vida quando o nosso horário sai, sem sermos prejudicados, por ser dito de véspera que temos de fazer mais horas no dia a seguir”, salientou.

O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo dos Açores (SITACEHT/Açores), Vítor Silva, acusou a câmara de comércio de ter negociado um contrato de com um sindicato sem “representatividade” e sem “legitimidade no setor do comércio e escritórios”.

“Se for assinado, nós fazemos oposição e não se aplica aos nossos associados. Nós não vamos permitir, de maneira nenhuma, que brinquem mais com os trabalhadores da ilha Terceira”, frisou.

O sindicalista reconheceu que a segunda proposta apresentada tinha algumas melhorias, como a introdução de diuturnidades e o fim do período experimental de 180 dias, mas alegou que está ainda está “muito longe” do que os trabalhadores reivindicam.

“Estas pessoas, com uma carga horária destas, deixam de ter vida pessoal. Além disso, temos vencimentos extremamente baixos num setor que até tem crescido. Mesmo em altura de pandemia, o setor do comércio foi aquele que mais cresceu”, salientou.

Vítor Silva avançou que o contrato prevê que os que os trabalhadores sejam forçados a trabalhar em estabelecimentos noutro concelho sem serem compensados pela deslocação.

“Não se consegue compreender que as câmaras de comércio se andem a queixar com o aumento dos preços da energia e dos combustíveis e depois não se lembrem que os trabalhadores também têm os mesmos custos”, criticou.

O dirigente sindical acusou ainda os patrões de terem chamado os trabalhadores, “um por um, para pedirem que não viessem a esta manifestação”.

“A resposta está aqui. Perante essa ameaça, os trabalhadores não tiveram medo, vieram aqui e estão a dar a cara”, sublinhou, admitindo novas ações de luta.

Questionado pela Lusa, o presidente da CCAH, Marcos Couto, manifestou-se surpreendido com a manifestação, alegando que já existe um “contrato coletivo de trabalho assinado”, “pautado por uma grande seriedade”, com “cedências de ambas as partes”.

“É um contrato coletivo que encontra um ponto de equilíbrio, quer para colaboradores, quer para empresários”, afirmou.

Marcos Couto disse que o SITACEHT “nunca esteve interessado em negociar rigorosamente nada com a câmara de comércio”, preferindo entrar numa “vertente radical”.

“Ninguém ganha com este tipo de manifestações radicais. A única entidade que ganha com isto é o próprio sindicato”, vincou.

O presidente da associação empresarial rejeitou que o contrato preveja um horário de 50 horas semanais, frisando que “está perfeitamente enquadrável na lei geral do trabalho”.

“Julgo que o grande problema destes trabalhadores e provavelmente até do dirigente sindical é que não conhece nem a lei, nem o contrato que foi assinado, o que tem levado a este tipo de situações que são lamentáveis”, referiu.

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