Açoriano Oriental
Trabalhadores de comércio e grande distribuição manifestam-se em Angra do Heroísmo

Perto de uma centena de trabalhadores de supermercados e hipermercados da ilha Terceira, nos Açores, manifestaram-se à porta da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), reivindicando um contrato coletivo de trabalho justo.

Trabalhadores de comércio e grande distribuição manifestam-se em Angra do Heroísmo

Autor: Lusa/AO Online

“Aquilo que nos foi apresentado foi uma proposta que aumenta muito significativamente o horário de trabalho para 60 horas semanais, sem qualquer compensação do ponto de vista financeiro”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo dos Açores (SITACEHT/Açores), Vítor Silva.

“Patrão, escuta, os trabalhadores estão em luta”, “Temos família, precisamos cuidar dela”, “Não brinquem connosco, merecemos que nos respeitem”, “A nossa saúde não tem preço” e “Merecemos o subsídio de alimentação” foram algumas das palavras de ordem ouvidas na manifestação, em frente à sede da associação empresarial representativa das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa.

Segundo Vítor Silva, os trabalhadores do comércio e grande distribuição destas três ilhas não têm contrato coletivo de trabalho há três anos e estão “revoltados” com a proposta apresentada pela câmara de comércio.

O sindicalista disse que apresentou uma proposta “bastante razoável” junto da câmara de comércio e que a contraproposta “não é aceitável”, sendo considerada pelos trabalhadores como “um insulto”.

“É a pior proposta de contrato coletivo de trabalho que conheço. Ainda consegue ser pior do que o contrato coletivo de trabalho da hotelaria, que já é vergonhoso por si”, frisou.

Vítor Silva adiantou que “foram os próprios trabalhadores que obrigaram o sindicato, independentemente do ponto de situação do processo negocial, a marcar esta manifestação”.

“Perante as tentativas do sindicato de voltar ao diálogo com a câmara de comércio, a resposta até agora foi pura e simplesmente em silêncio”, acrescentou.

Os trabalhadores reivindicam um horário de trabalho, no máximo, de 40 horas semanais e “aumentos de cerca de 10 euros em cada um dos níveis remuneratórios”.

O dirigente sindical acusou os patrões de “má vontade”, sublinhando que o setor “mesmo no período de pandemia vendeu sempre muito e teve sempre lucro”.

“A proposta que a câmara de comércio apresenta é o salário mínimo praticado na região. Existem empresas que estão a pagar acima daquilo que é proposto pela câmara de comércio”, referiu.

Segundo o coordenador do SITACEHT/Açores, foi apresentada ainda uma proposta de mobilidade, que obriga os funcionários a trabalharem em supermercados e hipermercados de outros concelhos na mesma ilha, “sem qualquer compensação remuneratória”.

O sindicalista pediu a intervenção do Governo Regional, alegando que os contratos coletivos de trabalho neste setor noutras ilhas têm melhores condições.

“O Governo Regional pode estender o contrato que é praticado num outro grupo de ilhas à nossa ilha, uma vez que a câmara de comércio não demonstra vontade para negociar o contrato coletivo de trabalho”, apontou.

Questionado pela Lusa, o presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, Marcos Couto, disse ter ficado surpreendido com a manifestação, acusando o sindicato de não ter apresentado uma contraproposta.

“Entregámos efetivamente uma proposta e não obtivemos resposta do sindicato, portanto não entendemos muito bem uma manifestação, quando supostamente estariam a decorrer negociações, em que há propostas e há contrapropostas. Nunca recebemos contraproposta deste sindicato”, afirmou.

Marcos Couto ressalvou que o direito à manifestação “assiste a todas as organizações numa sociedade livre”, mas considerou que o SITACEHT/Açores “tem pautado a sua ação por posições extremadas”, alegando que é “pouco produtivo” encarar estas situações como “lutas de empresários contra funcionários e sindicatos”.


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