Açoriano Oriental
Satélite pode vir a ser usado para detetar lixo marinho

Poderá o satélite ser usado para detetar lixo à superfície do mar nos Açores e, com grande eficácia, dar às autoridades regionais a capacidade de criar uma ‘barreira’ antiplástico à volta das ilhas?


Autor: Rui Jorge Cabral

A possível resposta a esta pergunta está a ser preparada através do projeto ‘Spectrometer for Marine Litter’, financiado pela Agência Espacial Europeia (ESA) e que é liderado pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) da Universidade do Porto.

Este projeto tem como parceiros o Centro de I&D Okeanos da Universidade dos Açores e o Atlantic International Research Centre - AIR Centre, que tem a sua sede no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira - Terinov.

O projeto teve uma sessão de testes recentemente na cidade da Horta, na ilha do Faial, com o recurso a um avião monomotor e a drones, mas a intenção final é que, através do satélite, seja possível a uma distância muito grande, detetar plásticos à superfície do mar em redor das ilhas, através de sensores de imagem hiper-espectral.

Os testes realizados na Praia de Porto Pim serviram para que os sensores pudessem registar as diferentes assinaturas espectrais dos vários tipos de lixo, permitindo assim a sua identificação futura.

Os testes foram, para já, realizados a baixas altitudes, entre os 20 e os 600 metros e em diferentes condições atmosféricas.

E conforme explica Hugo Silva, investigador do INESC TEC, citado num comunicado enviado à imprensa pelo AIR Centre, “numa primeira avaliação preliminar dos resultados obtidos, foi possível verificar que o lixo marinho tem uma assinatura espectral diferente do ‘fundo’, neste caso a água e, portanto, pode ser identificado utilizando sensores de imagem hiper-espectral. Esta assinatura espectral não varia consideravelmente com a altitude, nem com as condições atmosféricas e é similar aos resultados obtidos pelo mesmo material em ambiente laboratorial”.

O objetivo agora é comparar a assinatura espectral dos diferentes tipos de lixo marinho obtida nos voos de teste realizado no Faial com a assinatura espectral obtida pelo sensor multiespectral a bordo do satélite Sentinel-2.

O investigador Hugo Silva refere também que, no âmbito do projeto, vão ser desenvolvidos algoritmos de processamento automático para testar e validar se os materiais são “detetáveis” automaticamente e qual a concentração mínima do material por pixel para este ser detetável. E conclui afirmando que “estes fatores são importantes para se estudar a futura viabilidade da utilização destes sensores a bordo de satélites para deteção remota de lixo marinho”.

Foi com base nesse potencial que o projeto ‘Spectrometer for Marine Litter’ teve um financiamento de 200 mil euros por parte da ESA.

Em declarações ao Açoriano Oriental, o diretor regional da Ciência e Tecnologia e presidente não executivo do AIR Centre, Bruno Pacheco, falou sobre as vantagens de uma futura utilização desta tecnologia nos Açores, afirmando que esta irá permitir “desenhar campanhas de deteção de lixo marinho e, nomeadamente, plástico, com menos custos operacionais e com maior frequência”.

Isto, apesar desta tecnologia não permitir ainda detetar plásticos em profundidade. Bruno Pacheco afirma também que projetos como este são importantes “para afirmar os Açores como um local de testes para novas tecnologias, possibilitando, inclusive, que as nossas equipas científicas cruzem conhecimentos”.

E embora confirme o interesse da Região em aplicar esta tecnologia quando ela estiver disponível, o diretor regional da Ciência e Tecnologia salienta, no entanto, que se está ainda numa fase de investigação e de testes, não havendo para já uma data prevista para a sua validação e aplicação.

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