Autor: Lusa/AO Online
“A longevidade desse subfinanciamento tem tido lesivas consequências no desenvolvimento das instituições insulares. Lamentavelmente, continua a não ser possível conjugar vontades e iniciativas políticas que permitam garantir a correção definitiva desta situação”, afirmou Susana Mira Leal, na cerimónia do 47.º aniversário da instituição, que decorreu na aula magna, em Ponta Delgada.
A reitora alertou que o financiamento da UAc é “manifestamente insuficiente e desadequado às especificidades insulares e ultraperiféricas”, uma vez que a academia continua dependente de “boas vontades” e “apoios pontuais” que “não garantem previsibilidade”.
“Do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior chegam promessas de uma nova forma de financiamento que corrigirá assimetrias e atenderá às especificidades das regiões insulares e ultraperiféricas. Estamos prontos e disponíveis para participar no processo”, declarou.
Além do subfinanciamento, a reitora elencou as “significativas taxas de insucesso e abandono escolar”, a “pequena dimensão do tecido empresarial” açoriano e a “baixa atratividade da região para recursos humanos qualificados” como “circunstâncias que constrangem o desenvolvimento” da UAc.
Susana Mira Leal apontou ainda como outras dificuldades as “exigências de acreditação das instituições de ensino superior”, o “envelhecimento do quadro pessoal”, a “necessidade de manutenção do quadro edificado” e a “baixíssima taxa de prosseguimento de estudos superiores pelos jovens açorianos”.
A reitora adiantou que as candidaturas da UAc às verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a construção de residências em Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada foram aprovadas, mas alertou que exigem um “investimento de capitais próprios” que a academia “não dispõe”.
“Em Angra do Heroísmo, o município cedo percebeu a importância estratégica do investimento e prontamente se disponibilizou para o viabilizar. Na Horta, o senhor presidente já se disponibilizou a apoiar, mas o capital ainda não se encontra totalmente garantido”, assinalou.
Relativamente a Ponta Delgada, a responsável disse que “o projeto está manifestamente comprometido por falta de financiamento”.
“Os investimentos têm de estar concluídos até ao início de 2026 e qualquer atraso e hesitação no seu arranque comprometê-los-á irremediavelmente”, salientou.
Susana Mira Leal avisou também que existem 700 estudantes deslocados em Ponta Delgada e “menos de 300 camas disponíveis”, estando “limitada a capacidade de atrair estudantes” para aquele 'campus'.
Em 2023, a UAc vai abrir novos concursos para professores catedráticos e lançar novos mestrados, doutoramentos e pós-graduações, revelou ainda.
Também numa intervenção na cerimónia, o presidente do Conselho Geral da UAc, Elias Pereira, considerou que a reitoria “não pode ter como prioridade a sobrevivência” e pediu medidas face ao “divórcio” entre a universidade e os alunos.
“Uma instituição de ensino superior tem de se envolver com a sociedade civil e contribuir para o sucesso da atividade económica e cultural. É verdadeiramente impensável que organização do curso de mestrado seja feito dentro de portas sem saber se existem destinatários”, realçou Elias Pereira.
A 06 de janeiro, a Assembleia da República chumbou dois diplomas que pretendiam reforçar o financiamento das universidades da Madeira e dos Açores, de forma a compensar os constrangimentos decorrentes da insularidade.
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