Açoriano Oriental
Produtores biológicos da Terceira acreditam no futuro mas admitem resistência à mudança

Os produtores biológicos da ilha Terceira, nos Açores, acreditam que o futuro da agricultura passa por este modo de produção, mas admitem que a maioria dos agricultores ainda não está sensibilizada.

Produtores biológicos da Terceira acreditam no futuro mas admitem resistência à mudança

Autor: Lusa /AO Online

“A tendência será sempre o biológico. Quem estiver na linha da frente, numa fase inicial será difícil mas, se calhar, para o futuro, terá os proveitos”, afirmou, em declarações à Lusa, Sérgio Almeida, produtor de carne, que tem uma exploração em conversão para modo biológico há um ano.

O produtor falava, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, à margem da sessão de abertura da sétima edição da Biofeira, uma iniciativa dedicada à produção em modo biológico organizada pela cooperativa Bio Azórica.

Segundo dados do Governo Regional dos Açores, a área de produção em modo biológico no arquipélago aumentou 630%, entre 2019 e 2022, ocupando 3.569 hectares, e o número de produtores cresceu 130%.

Sérgio Almeida está ainda a dar os primeiros passos na bovinicultura, mas decidiu diferenciar-se do que já existia no mercado, apostando no modo de produção biológico.

“Achei que podia ser a melhor forma de rentabilizar a minha exploração”, explicou, acrescentando que acredita que é um mercado “em expansão”.

O período de conversão para modo de produção biológico decorre já há um ano e o produtor admite que o processo é “trabalhoso”.

“Trabalhar num modo biológico é muito complicado, devido à falta de mão de obra que existe. Não podemos usar os produtos, temos de recorrer a mão de obra”, frisou.

É esse um dos motivos que leva a maioria dos produtores a manter a produção convencional, na opinião de Sérgio Almeida.

“Há alguma resistência. Tem a ver com o facto de as pessoas estarem habituadas a trabalhar de uma determinada forma, e depois existe o tal bloqueio da mão de obra. Dizer a um jovem que, em vez de aplicar um herbicida, tem de roçar com uma máquina, é muito diferente”, avançou.

“Não acredito que os jovens estejam ainda muito vocacionados, porque ainda não existe um rendimento que o jovem diga que prefere ter mais trabalho para ter mais rendimento”, acrescentou.

O produtor acredita, ainda assim, que há mercado para este tipo de produtos, com clientes dispostos a pagar mais, e que os Açores, pela sua dimensão, devem apostar na produção em modo biológico.

“Temos de fazer algo diferente do que os países com grandes dimensões conseguem fazer”, justificou.

Há cerca de seis anos que Maria do Carmo Lima e o marido têm uma exploração certificada em modo biológico de frutas e ervas aromáticas.

A produção agrícola sem recurso a químicos começou muito antes, devido à preocupação com a alimentação.

“Há mais de 20 anos que começámos a produzir para nós. Limpámos a terra de todos os adubos e produzíamos para casa, sempre em modo de produção biológica, até que chegou a um ponto em que a nossa produção era mais do que consumíamos e decidimos começar o processo de certificação”, adiantou.

O casal começou já a embalar ervas aromáticas e, em breve, conta abrir um espaço para venda dos seus produtos.

Maria do Carmo considera que as “gerações mais novas estão muito mais sensíveis” para consumir produtos biológicos e que o setor tem crescimento assegurado no futuro.

“Acho que, no geral, as pessoas estão mais despertas para serem mais saudáveis, incluindo o consumir biológico e usar produtos mais naturais”, frisou.

António Soares começou a produzir leite em modo biológico há 18 anos, mas só quando a indústria decidiu criar um produto biológico passou pelo processo de certificação.

Depois de três anos de conversão, está há outros três a produzir em modo biológico, de forma certificada, e garante que “não volta atrás, de maneira nenhuma”.

“Dá muito menos trabalho, muito menos custos, respeita o ambiente, respeita o bem-estar dos animais”, justificou.

Apesar de ter reduzido a dimensão da exploração agrícola, o produtor garantiu que aumentou a rentabilidade.

“O objetivo não é produzir quantidade, é não gastar. É o que se passa com as nossas explorações. Gastamos pouco ou nada. O que se produz é quase tudo lucro”, apontou.

António Soares admitiu que a maioria dos produtores de leite da ilha ainda não está convencida das vantagens deste modo de produção, mas defendeu que o futuro terá de passar pelo biológico.

“Eles vão ser obrigados a mudar. Em 2030, 25% da produção agrícola da Europa tem de ser biológica e, em 2050, 50%”, vincou.

“Com esta guerra, estamos a ver que foi um erro produzir-se como se estava a produzir. Estão dependentes de fatores de produção que vêm do exterior, nós praticamente usamos o que produzimos na nossa exploração. É à base de pastagem”, acrescentou.


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