Açoriano Oriental
Produtores alertam Governo que não pode usar o leite para segurar inflação

O leite não pode ser usado pelo Governo para segurar a inflação e tem que ser valorizado, defenderam hoje cerca de uma centena de produtores reunidos no concelho de Alcobaça, num encontro nacional alargado a toda a fileira.

Produtores alertam Governo que não pode usar o leite para segurar inflação

Autor: Lusa /AO Online

“O leite é um produto essencial, que entra no cabaz dos produtos básicos que determinam a inflação, mas não pode ser usado pelo Governo para segurar a inflação”, afirmou hoje o secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), Carlos Neves, durante um debate para ouvir as preocupações do setor em relação ao aumento dos custos de produção.

Para os produtores de leite “o problema está claro”, numa conjuntura em que não controlam “os mercados internacionais, os preços das matérias-primas, em que o custo da ração e cerca de 60ou 70% [do custo] da produção do leite”.

Só que, enquanto pagam “a comida das vacas ao mesmo preço que o agricultor francês ou holandês” os produtores nacionais queixam-se dos baixos preços pagos ao produtor, e alertam que “se não houver apoios nesta altura, e se não houver uma atualização mínima do preço do leite, por exemplo de cinco cêntimos por litro, arriscamo-nos a, no futuro, ficar sem leite”, disse à Lusa Carlos Neves, lembrando o setor está a perder “cerca de 200 produtores por ano”.

No encontro em que participaram organizações de produtores de cereais, da indústria transformadora, e dos produtores de leite do Açores, ficou a faltar o setor da distribuição que se mostrou indisponível.

A ideia era ouvir todos os setores e “encontrar soluções conjuntas para não deixar a nossa indústria ficar sem fornecimento e para que os portugueses possam continuar a consumir leite”.

“Vamos encontrar formas de valorizar o leite, de exportar, de valorizar a opção que o mercado possa e subir o mínimo possível ao consumidor”, disse o secretário-geral, sublinhando a necessidade de explicar a quem compra “que de facto tem que pagar um pouco mais e a distribuição não pode usar o leite como isco naquela guerra de conquistar o mercado aos outros”.

A associação pretende “elaborar um documento conjunto com os restantes setores da fileira e tentar apontar soluções, com a ilusão que isto se resolve de um dia para o outro”, mas como um passo para “um setor sustentável” e que consiga sair “cauda da Europa em que estamos agora”, concluiu.

O debate foi antecedido de uma visita do secretário de Estado da Agricultura, Rui Martinho à Vacaria e Queijaria Flor do Vale onde ouviu as preocupações do setor e fez “um ponto de situação sobre a concretização de medidas que já estavam anunciadas”, disse o governante à agência Lusa.

”Vamos avançar durante os próximos dias com o adiantamento das ajudas [comunitárias] que só seriam pagas em outubro, justamente permitir às empresas dispor de alguma tesouraria para fazer face a este acréscimo de custos e às necessidades de liquidez e de tesouraria com que estão confrontados”, afirmou o secretário de Estado, estimando que as ajudas possam começar a ser pagar “a partir da próxima semana”.

Rui Martinho adiantou ainda que o Observatório de Preços "Nacional é Sustentável", “está a trabalhar internamente no processo de aquisição de serviços para recolher informação junto do consumidor que permita fazer análises para passar para o mercado”.

A expectativa é de que “até ao final do ano, no essencial, todos os pilares do Observatório estejam operacionais” para um grupo de produtos “essenciais ao consumidor”, entre os quais o leite.

A APROLEP tem cerca de 400 associados entre cerca de 1.600 produtores de leite do continente.


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