Açoriano Oriental
Religião
Portuguesa no Vaticano considera prescindível sacerdócio feminino
Teresa Gonçalves, recém-nomeada como nova consultora do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, considerou hoje desnecessário o sacerdócio feminimo, argumentando que as mulheres já desempenham um papel importante na Igreja enquanto fundadoras de movimentos e congregações.


Autor: Lusa/AO
"Não vejo necessidade... não vejo o sacerdócio como cume. Há mulheres fundadoras de movimentos leigos e congregações que, não sendo sacerdotes, bispos, não fazem pior do que os melhores bispos", respondeu, em declarações telefónicas à Agência Lusa, a partir de Roma, onde vive há 43 anos, quando confrontada com a possibilidade de as mulheres serem ordenadas padres.

    Teresa Gonçalves lembrou, a este propósito, que a congregação "Missionárias da Caridade", fundada pela missionária católica albanesa Madre Teresa de Calcutá, falecida na Índia em 1997, apoia os mais desfavorecidos um pouco por todo o mundo, sendo o seu papel reconhecido internacionalmente.

    A portuguesa entende, sem se alongar na reflexão, que a ordenação de mulheres sacerdotes exige, antes de mais, uma "discussão" do "conceito de hierarquia" na Igreja Católica.

    Teresa de Jesus Osório Gonçalves, 65 anos, foi nomeada terça-feira por Bento XVI como nova consultora do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, organismo do qual foi membro entre 1988 e 2004.

    O Conselho "regula as relações com os membros e os grupos das religiões que não são compreendidas sob o nome cristão e também com aqueles que, de algum modo, possuem o sentido religioso", segundo a agência noticiosa católica Ecclesia, citando a constituição apostólica Pastor Bonus, de João Paulo II.

    Questionada pela Lusa sobre temas sensíveis como o aborto, a eutanásia, a pena de morte, o casamento e a adopção de crianças por casais homossexuais, Teresa Gonçalves, católica, escusou-se a pronunciar-se sobre assuntos "muito complexos", embora se afirme pela "opção da defesa da vida" e de "uma vida sexual normal".

    Além de Teresa Gonçalves, o Papa nomeou uma outra mulher, uma religiosa italiana, como consultora do Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que congrega um total de 18 consultores, com "mandato" de cinco anos.

    Sobre as novas funções que vai desempenhar, a portuguesa disse aguardar orientações.

    "Mas será uma participação externa, pode ser num congresso...", referiu.

    Durante os 16 anos em que foi membro do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, Teresa Gonçalves aprofundou o estudo sobre as seitas e os novos movimentos religiosos, que, crê, se têm "intensificado" um pouco por todo o mundo, em especial nos Estados Unidos.

    "Nos Estados Unidos, a divisão do Cristianismo, com toda a liberdade, deu origem a vários movimentos", advogou a portuguesa, considerando que "a fragmentação de movimentos religiosos, menor no mundo islâmico", resulta da "busca de coisas novas, coisas diferentes dos caminhos habituais".

    "Faz parte da natureza humana procurar caminhos diferentes", insistiu, ressalvando que "pode haver interesses económicos e políticos" associados aos movimentos religiosos.

    "Movimentos de interesse de poder com a 'capa' de interesse religioso", admitiu, sem concretizar exemplos.

    Natural da Amadora, Teresa de Jesus Osório Gonçalves licenciou-se em Românicas em Coimbra, tendo em 1964 partido para a capital italiana para estudar Teologia, curso que não havia para mulheres em Portugal.

    Especializou-se, em 1971, em Ciências Religiosas no Instituto Regina Mundi, instituição ligada à Universidade Gregoriana que se dedica à formação teológica de mulheres.

    Posteriormente, trabalhou na secção portuguesa da Rádio Vaticano e na Embaixada do Brasil junto da Santa Sé, onde esteve oito anos.

    Reformou-se após ter exercido funções no Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, para o qual foi agora nomeada como consultora.

    Assume-se como "romana", pelo que só vai a Portugal para visitar familiares.

    Além da portuguesa, foram nomeados pelo Papa consultores do Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos e Taiwan, entre outros países.

    O Conselho Pontifício, presidido pelo cardeal Jean-Louis Tauran, tem cinco novos membros, entre os quais os arcebispos Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura.
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