Açoriano Oriental
Estreia hoje no Teatro Angrense
Ópera “Boas Festas, Senhor Natal!”, de Álamo Oliveira e Antero Ávila

O pano vai abrir-se no Teatro Angrense, na ilha Terceira, esta sexta-feira à noite, para a grande estreia da ópera “Boas Festas, Senhor Natal!”, uma produção inédita, saída do engenho de dois nomes bem conhecidos da música e da literatura: o compositor picoense Antero Ávila e o escritor terceirense Álamo Oliveira.


Autor: Célia Machado/AO Online

A ideia partiu do padre Duarte Rosa, a assessorar o Governo Regional na elaboração da Temporada Cultural. A sala estará lotada já que os bilhetes esgotaram há vários dias, para aquela que é uma iniciativa da Direção Regional da Cultura.

A ópera, criada de raiz pelos dois açorianos, foi pensada tendo em conta as características das salas de espetáculos dos Açores e dos coros da Região, e junta mais de oito dezenas de pessoas, entre coralistas (coro infantil, Coro Tibério Franco e Coro Tomás de Borba da Academia Musical da Ilha Terceira), cantores solistas, instrumentistas e atores do Grupo de Teatro Alpendre.

A história? No fundo, é a do nascimento de Jesus, incluindo os momentos que antecederam a sua chegada ao mundo, mas devidamente enquadrada nos tempos atuais. “Pedi um tema natalício mas que trouxesse alguma novidade. E, assim, temos a história de há mais de dois mil anos mas no contexto de hoje e numa dimensão universal, o que resultou numa ópera passada no ambiente dos refugiados: uma grávida que representa a maternidade humana, a Mãe de todos. E termina com uma lição de esperança, porque ainda é possível acreditar na mudança das pessoas para termos um mundo melhor”, revela o padre Duarte Rosa, apaixonado por este género de espetáculo.

A ideia surgiu há cerca de um ano e teve como objetivo primeiro a dinamização de agentes culturais, já que a pandemia afetou fortemente a cultura ao obrigar a uma paragem nos eventos. Por outro lado, possibilita a aquisição de novos conhecimentos por parte dos coralistas, uma vez que profissionais e amadores trabalham lado a lado: “Temos cantores solistas a fazer carreira no continente e que vão estar connosco e também outros que estão noutras ilhas. E vêm ainda dois que não são dos Açores”.

No sábado de tarde, a ópera volta a ser apresentada e, em 2022, vai chegar ao Pico, Faial e São Miguel, não com os coralistas e instrumentistas da Terceira mas sim com o envolvimento dos músicos e coros dessas ilhas. “É um projeto que teve alguns custos iniciais mas temos a partitura, o libreto, a encenação, os adereços. Portanto, a partir daqui, é mais possível montá-lo em diversas ilhas”, conclui Duarte Rosa.


“Estão a dar-me vida e alegria”

Para Álamo Oliveira é uma aventura que o tem surpreendido e que ganhou, para o próprio, uma importância que não esperava. “A primeira coisa que eu diria é que a gente devia ter juízo quando aceita uma aventura destas. De facto, para mim, foi uma aventura e um gosto muito especial, também, fazer um libreto para ser musicado pelo Antero Ávila”, declara.

“Também sinto, por estes dias, muito receio. Neste momento, gostaria de estar mais convencido daquilo que fiz do que estou. No entanto, vejo o entusiasmo de todos os intervenientes, desde as vozes, passando pelos músicos, aos solistas, o que, para mim, é extremamente importante. Eles estão a dar-me vida e alegria sem saberem que estão a fazê-lo. Nesta idade, é uma coisa que já não costumamos ter”, continua.

O escritor assume também a função de encenador da ópera, o que tem sido uma tarefa menos difícil do que se poderia pensar: “A encenação é mais simples e envolve gente que, felizmente, canta melhor do que representa. E tenho de dizê-lo porque, se calhar, numa ópera a música é muito mais importante do que a história que se conta e da maneira que é contada”, sublinha.


“Tem tudo para ser um grande sucesso”

Se o libreto foi rápido de escrever, o mesmo não se pode dizer da partitura - Antero Ávila começou em fevereiro e terminou há menos de três meses. Com duração superior a uma hora, é a peça mais longa que alguma vez assinou. Ao longo do processo criativo, teve vários fatores em conta: “Quando componho gosto de pensar que tenho toda a liberdade mas, neste caso, tive presente que estava a compor para vozes de coro, que são amadoras, para solistas, que são profissionais, para uma pequena orquestra e que ia ter pouco tempo de ensaio. Se não pensasse nestes aspetos, corria o risco de ser impraticável”, conta-nos o músico, que está muito satisfeito com a oportunidade de compor uma ópera que, espera, passe “a fazer parte da nossa cultura”, até porque não tem conhecimento de alguma vez ter sido criada uma ópera no arquipélago. Aliás, salienta a importância deste género de obra pelo que devem ser promovidos nos Açores mais espetáculos semelhantes para que as pessoas “ouçam e sintam” e ganhem maior interesse. A existência de uma ópera nascida nas nossas ilhas pode ajudar a fazer essa aproximação por parte dos açorianos. Pronto para compor outra? Responde afirmativamente, ainda antes de estrear a primeira. Sob a sua batuta vai estar uma orquestra com 19 elementos, num fosso improvisado.

É um espetáculo “extremamente complexo e difícil de organizar porque tem texto, música, representação cénica e expressividade. E se os coros estão habituados a tratar da música e do texto, também é verdade que não estão tão familiarizados com a teatralidade”, sublinha Antero Ávila que, só nesta última semana, teve todos os elementos a ensaiar em conjunto.

Noutro lugar, esta “seria uma produção para ser trabalhada durante duas ou três semanas. Aqui é a loucura para montar tudo em três ou quatro dias”, diz-nos o instrumentista, compositor e maestro, que afirma convicto que “Boas Festas, Senhor Natal!” tem “tudo para ser um grande sucesso”.


Novos projetos

O padre Duarte Rosa desvenda que, para 2022, há novos eventos em preparação por parte do Governo Regional. Um deles o festival “Nove musas” que servirá para valorizar nove compositores açorianos que irão compor, propositadamente, para a iniciativa, que passará por todas as ilhas.

“Se tudo correr como previsto” - continua - “será igualmente apresentado um bailado, feito de raiz, com música e guião originais. Pretendemos que seja o António Casalinho a fazer o papel de bailarino principal”, finaliza.





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