Autor: Arthur Melo
Como caracteriza a sua primeira temporada como presidente da Santa Clara Açores – Futebol SAD?
Foi uma época muito difícil desportivamente, por uma série de fatores. Infelizmente não contávamos com a despromoção da equipa. O período de compra da SAD alongou-se muito e acho que isso foi um fator preponderante e quando finalizamos a compra estava muito perto do início do campeonato e do final das inscrições. Sentimos muitas dificuldades com as saídas que ocorreram e com as contratações. Os jogadores que trouxemos demoraram mais do que o esperado para se adaptarem e começarem a render. Alguns só começaram a render no final da época. Desportivamente foi uma época muito difícil e esperamos que a próxima seja de alegria, porque essa foi muito difícil.
A descida do Santa Clara à II Liga vai alterar de forma significativa o projeto que têm?
Acho que atrasa! Não posso mentir para os adeptos: atrasa no mínimo uma época, porque o Santa Clara é um clube que representa uma Região e tem que estar na I Liga. Agora o nosso principal desafio é devolver o Santa Clara para o lugar que lhe pertence e vamos fazer todos os esforços possíveis nesta época.
Em termos estruturais não muda nada. Vamos continuar a avançar com o Centro de Estágio que considero primordial. Acho que a partir do momento que a gente tiver o Centro de Estágio vamos conseguir atrair e manter os melhores talentos dos Açores nos Açores, como atrair os melhores talentos do continente para a formação do Santa Clara.
O regresso à I Liga no final da temporada de 2023/2024 já disse, é o objetivo. A pergunta é: mais do que um objetivo, será uma obrigação?
Acho que é uma obsessão. Temos que procurar, obsessivamente, subir. É difícil falar obrigação no futebol porque ela traz uma responsabilidade que já existe. A II Liga é uma competição difícil e a gente tem que respeitar os nossos adversários. A partir do momento que você fala que é uma obrigação, você está faltando ao respeito com os seus adversários. Então, acredito que seja uma obsessão devolver o Santa Clara para o seu devido lugar.
No dia em que o Santa Clara viu confirmada a descida à II Liga, o diretor-geral da SAD, Klauss Câmara, revelou que a próxima temporada já estava a ser preparada pela administração. Danildo Accioly, o treinador que encerrou a temporada como técnico principal, vai manter-se na estrutura da próxima equipa técnica?
Sim. O Accioly é uma pessoa da minha total confiança. Ele assumiu num momento dificílimo do clube, o que mostra o amor e o carinho que ele tem pelo clube. É uma pessoa da minha total confiança. Acredito que ele seja muito importante para a estrutura.
Qual é o perfil e que tipo de treinador pretende a SAD do Santa Clara contratar para a próxima época?
Estou à procura de um treinador que já tenha experiência na II Liga, de preferência com experiência de subida. Não necessariamente como treinador, pode ter sido adjunto também. Existem poucos nomes no mercado, não sei se vamos conseguir contratar um deles, mas é esse o perfil: um treinador com experiência, principalmente em subida de II Liga.
Há um prazo para a definição da nova equipa técnica?
Estou a ter muito cuidado e a conversar com vários nomes porque não podemos errar com o treinador. Não vou colocar um prazo, porém estamos trabalhando para ser o mais rápido possível, até porque gostaria que o treinador trabalhasse o máximo na constituição do plantel, o que já vem sendo feito enquanto ainda não temos treinador.
Do plantel que cumpriu a temporada que agora findou, tirando todos os jogadores que estavam emprestados, mais o que terminaram contrato e decidiram sair, o grupo fica com 17 elementos. Para além destes, existem mais 10 atletas que pertencem aos quadros do Santa Clara, mas que estiveram a rodar em outros clubes. Qual vai ser a política da SAD em termos de jogadores, no fundo, os principais ativos e mais-valias do Santa Clara?
Temos jogadores emprestados que fizeram boas temporadas. A ideia é reintegrar esses jogadores. Temos a intenção de reintegrar quatro jogadores, mas não posso revelar os nomes porque ainda tenho que conversar com o futuro treinador. Os outros, que não fizeram boas temporadas, provavelmente vão ser negociados.
Entretanto, posso adiantar que tanto o Bruno Almeida como o MT vão ficar. São dois jogadores que estiveram esta época e que acreditamos que nos vão ajudar bastante na II Liga.
Como estão as negociações para conseguir um novo empréstimo do Gabriel Silva?
Empréstimo é praticamente impossível. O Gabriel Silva tem propostas de equipas da I Liga e propostas de fora de Portugal. Ele gosta muito dos Açores, temos tentado conversar com ele e com o Palmeiras, mas é uma negociação difícil. O Palmeiras não tem intenção de voltar a emprestar o Gabriel Silva. Tem intenção só de vender.
Dois assuntos que estão diretamente relacionados com a equipa profissional: infraestruturas e a equipa de Sub-23. Comecemos pela primeira: existe a intenção de construir um Centro de Estágio. Nesta altura em que fase está este projeto e quando perspetiva que estas infraestruturas estejam prontas a ser utilizadas?
Temos quatro terrenos para selecionar e estamos em fase de negociação. Após a aquisição do terreno dependemos das licenças, mas pretendemos iniciar a construção o mais rápido possível e o nosso objetivo é terminar o Centro de Estágio antes do final da época.
Que tipo de infraestruturas vão ser criadas no Centro de Estágio?
Depende muito do terreno. Se for apenas para a equipa profissional, vai ser um Centro de Estágio menor com dois campos. Se for um Centro de Estágio maior, para comportar também a formação do clube, aí vamos ter que comprar um terreno maior e vai ser um projeto junto com o clube.
Estamos a falar de um avultado investimento financeiro para uma empreitada desta natureza. Qual o valor global deste investimento e de que forma a SAD vai conseguir fundos para tornar este projeto uma realidade?
Não vou adiantar valores porque depende do tamanho do Centro de Estágio que vamos fazer. Seria leviano da minha parte falar aqui um número. É um investimento alto, depende muito do Centro de Estágio ter, basicamente, dois ou quatro campos, porque quase que dobra o valor do investimento.
A SAD não tem condição financeira para construir um Centro de Estágio. Este será um investimento da minha família que está a investir aqui, tanto na aquisição do terreno, como da construção.
A SAD do Santa Clara entregou na Federação Portuguesa de Futebol a candidatura para a equipa de Sub-23. Já existe luz verde?
Fomos licenciados pela federação. Porém, a gente depende de um convite da Federação. Vou ter uma reunião na Federação para mostrar a importância que este projeto tem para o futebol de formação dos Açores. Não apenas para o Santa Clara, mas também para toda a formação nos Açores. A partir do momento que tens uma equipa de Sub-23, os melhores talentos açorianos não têm que ir para o continente. Eles podem fazer a transição e a formação aqui no arquipélago.
Sendo feito o convite, onde esta equipa de Sub-23 vai jogar e realizar os seus treinos enquanto o Centro de Estágio não estiver concluído?
A equipa vai jogar no Estádio de São Miguel. A segunda opção é Laranjeiras. O campo das Laranjeiras precisa de algumas pequenas obras, mas já está licenciado. Treinar... estamos fazendo uma parceria com um outro clube aqui da ilha para usar as suas estruturas para treinar. Seja a equipa de Sub-23, seja a equipa ‘B’ também, que vamos ter no ano que vem.
A equipa ‘B’ também vai avançar na próxima temporada. Para competir em que escalão?
Sim. No último escalão. Primeiro a distrital, depois o campeonato dos Açores e ir subindo.
Como é que encontrou, financeiramente, a Santa Clara Açores – Futebol SAD, quando assumiu a sua presidência há cerca de 10 meses?
É público que o Santa Clara tinha muitas dificuldades financeiras, com dívidas de curto prazo. Essas dívidas veem sendo quitadas e renegociadas. Já chegamos, entre quitado, de quatro milhões e meio a quatro milhões e oitocentos mil euros de dívidas que a SAD tinha. Não digo eu, mas se não entrasse um investidor, uma pessoa com músculo financeiro para ajudar a SAD, invariavelmente podia ter a pessoa que fosse na SAD que ia ter muitas dificuldades no curto prazo. Tínhamos dívidas vencendo na FIFA, que são dívidas que trazem ‘transfer ban’ (n.d.r. O ‘transfer ban’ é uma punição administrativa que a FIFA aplica aos clubes pelo não pagamento de transferências internacionais, impedindo-os de registar novos contratos). O Tondela teve o ano passado e o Santa Clara não teve por meses, porque conseguimos negociar a dívida do Cryzan com o Athletico Paranaense. Pela amizade que tenho com o presidente do Athletico Paranaense, ele aceitou um parcelamento que estamos a acabar de quitar. Tinha muitas dificuldades, tão sendo quitadas com o tempo, sendo renegociadas. Óbvio que tem coisas que são devidas e outras que não são devidas. O que não é devido a gente vai discutir na justiça, o que é devido está sendo quitado.
Desde a primeira hora que o Bruno Vicintin deixou bem claro que pretende caminhar em estreita comunhão com o clube. Esta é também a forma de mostrar aos sócios do clube, aos adeptos e aos açorianos em geral, que veio para os Açores para ficar por muito tempo?
Acho que é a melhor forma. Hoje a minha família tem casa aqui nos Açores, sou apaixonado pelos Açores, estou até me incomodando quando falam que eu sou brasileiro, estou preferindo ser chamado de açoriano (risos). Um dia serei! É um projeto para ficar, não é um projeto para sair. Infelizmente aconteceu esta descida, mas vamos trabalhar e não vamos medir esforços para devolver o Santa Clara para a I Liga.
Mas esta relação que tem com o clube, em especial com o presidente do clube, o Ricardo Pacheco, que também tem lugar no conselho de administração da SAD...
A relação é fenomenal! O presidente Ricardo Pacheco ajuda-me demais. Como presidente do clube ele tem um papel fundamental institucional. Ele alivia-me muito nesta parte institucional, de ter que me representar.
Por mais que adore estar nos Açores - e para mim é um prazer -, tenho uma dificuldade de tempo porque tenho outras empresas. Vivo no Brasil também e hoje divido muito o meu tempo. O presidente ajuda-me a representar o Santa Clara. Hoje é o presidente de clube mais presente na Liga, até porque me representa muito e me alivia muito. Não só ele como todas as pessoas. O povo açoriano, em geral, é muito hospitaleiro e sempre disposto a ajudar o Santa Clara. Por exemplo, o presidente da associação, o Robert Câmara, fez um esforço tremendo para os Sub-23. A partir do momento que você tem uma associação de futebol que mostra para a federação a importância do futebol, não só para São Miguel, mas para todos os Açores.
Temos sido ajudados por muitas pessoas, por muitos açorianos. O Pedro Pauleta tem sido de uma prestação tremenda, de aconselhar, de ajudar. Fico muito feliz da reaproximação dele com o Santa Clara, que não existia no passado recente. A gente é muito bem acolhido aqui por todos. Só tenho que agradecer. Fico até envergonhado por não ter tido resultados desportivos que justifiquem tamanha recetividade.