Açoriano Oriental
Marcha das Oportunidades junta mais de 300 pessoas
Mais de 300 pessoas, na sua maioria deficientes mentais, marcharam esta segunda-feira pelas ruas da cidade de Santarém, com balões coloridos e ao som de tambores e de um acordeão, pedindo a quem passava "não discrimines, integra".

Autor: Lusa / AO online
"Escolhemos a marcha para assinalar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, porque é fundamental que as pessoas os vejam, olhem para eles, vejam passar um conjunto de pessoas que têm direito a viver como os outros", disse Maria do Céu Dias, directora pedagógica da Associação de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM).

Segundo disse, apesar de muito se falar em pessoas diferentes, continua a sentir-se que, "ou por ignorância ou por receio, a pessoa com deficiência mental é vista como alguém com um comportamento incerto, quando são pessoas educadas, correctas e altamente cumpridoras".

A Marcha das Oportunidades, que partiu cerca das 10:30 do largo da Escola Prática de Cavalaria e percorreu as principais avenidas da cidade, foi organizada pela APPACDM/Santarém em colaboração com a autarquia e o Governo Civil, estando marcada para a tarde, no Cartaxo, uma Marcha pelas Acessibilidades.

Criada em 1972 por um conjunto de pais cujos filhos eram impedidos de frequentar a "escola dita regular", a APPACDM cresceu ao longo dos últimos 35 anos, sendo actualmente frequentada por 210 cidadãos com deficiência mental, 40 dos quais habitam na instituição, em dois lares residenciais (um a funcionar todos os dias e outro de segunda a sexta) e numa residência autónoma.

"As crianças que entraram com 10 anos na instituição são agora adultos, com os pais a chegarem ao fim da vida ou internados em lares de idosos, pelo que é urgente pensar nestes equipamentos", disse, lamentando as exigências "desproporcionadas" impostas pelo Governo, que agravam desnecessariamente os custos dos equipamentos.

Maria do Céu Dias frisou que nem tudo é mau, pois a instituição tem conseguido um grau de integração dos seus utentes no mercado de trabalho "muito bom", da ordem dos 60 por cento dos jovens que frequentam os seus cursos de formação profissional.

Segundo disse, apesar de não ter tido apoios, a APPACDM avançou com o projecto "Consigo", que visa colocar em ocupação os jovens que estão dentro da instituição "e que não precisam de estar".

Como exemplo citou o caso de Isabel Oliveira, que fez o programa ocupacional numa cabeleireira duas vezes por semana e que agora vai trabalhar todos os dias, se bem que em regime de voluntariado, até surgir uma oportunidade.

Oportunidade foi o que os participantes na marcha pediram, entregando a quem passava, ou estava dentro dos carros parados nas filas que se formaram à sua passagem, folhetos coloridos onde pedem oportunidade para "crescer, brincar, aprender, comunicar, ser ouvido, amar, conviver, trabalhar, divertir, fazer desporto, aceder, ser feliz".

O Governador Civil de Santarém, Paulo Fonseca, afirmou que a presença nesta iniciativa, como na que está agendada para sexta-feira em Fátima e no Comboio das Oportunidades, que dia 11 vai ligar Santarém a Castelo Branco, visa criar uma "nova consciência de cidadania", porque "não há Estado que chegue se os cidadãos não tiverem uma atitude de solidariedade".

Segundo dados provisórios de um "levantamento das realidades ao nível das pessoas portadoras de deficiência", que está em curso no distrito de Santarém, numa população de 454.517 habitantes 31.271 são pessoas com deficiências.

O levantamento, o primeiro do género feito no país, cuja conclusão estava anunciada para Maio último, está a ser desenvolvido no âmbito de uma parceria que envolve o Centro Distrital de Segurança Social, a União dos Centros de Recuperação Infantil do Distrito de Santarém e Outros (UNICRISANO), o Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência e a APPACDM.
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