Açoriano Oriental
Investigação "Luxúria" sobre abusos sexuais na igreja questiona reais intenções do papa

O jornalista italiano Emiliano Fittipaldi, julgado em 2016 por ter escrito sobre corrupção no Vaticano, decidiu investigar os inquéritos judiciais em curso por abusos sexuais e pedofilia cometidos por membros da Igreja, produzindo um livro ao qual chamou "Luxúria".

Investigação "Luxúria" sobre abusos sexuais na igreja questiona reais intenções do papa

Autor: Lusa/AO online


“O motivo porque escrevo este livro é porque tenciono medir a distância entre as palavras, as promessas, e os factos. O que o poder religioso, político e económico diz e o que realmente faz", explicou o jornalista em entrevista à agência Lusa.

Foi nesta tentativa de apurar medidas anunciadas pelo papa Francisco, como moralizar as finanças do Vaticano e combater a pedofilia e os abusos do clero, que Emiliano Fittipaldi avançou para o seu primeiro livro “Avareza” e agora para o “Luxúria”, dois dos sete pecados capitais.

“Depois de ter visto que o papa prometia mudar toda a igreja do ponto de vista financeiro, fiz o “Avareza” e demonstrei que a igreja pobre para os pobres como Francisco afirmava ainda estava longe da realidade. A igreja é rica para os ricos”, frisou.

Em “Avareza”, o jornalista reuniu provas documentais internas do Vaticano, que garante nunca terem sido desmentidas, que lançam um retrato perverso do império financeiro da Igreja: os luxos que se concedem aos cardeais, as fraudes fiscais, os avultados investimentos imobiliários por todo o mundo e os gastos exorbitantes da Cúria.

Após a publicação deste livro, Emiliano Fittipaldi foi processado mas absolvido pelo tribunal de primeira instância do Estado do Vaticano por defeito jurisdicional, já que, segundo os juízes, “os factos evidenciados no processo (a publicação dos documentos secretos) foram cometidos fora do âmbito do Vaticano”.

Já no que se refere ao novo livro “Luxúria”, Emiliano explica que a ideia surgiu quando o papa Francisco disse que lutaria contra a pedofilia sem piedade para com os padres pedófilos.

Numa investigação que o levou da Austrália ao México, da Espanha ao Chile e Italiana, o jornalista revela nesta sua nova obra, documentos sobre elementos do Vaticano que violam o sexto mandamento: “Não cometerás atos impuros”.

“Fui investigar se o que dizia era real na prática. Descobri que nada mudou. Que não há transparência, que a Congregação da Doutrina da Fé esconde os casos, que os pedidos da ONU sobre os processos não têm resposta e que a comissão contra a pedofilia criada pelo papa não serve para nada, tendo-se reunido apenas cinco ou seis vezes em cinco anos”, disse.

Na verdade, explica, “Francisco promoveu um conjunto de cardeais que num passado ocultaram, de uma forma séria, os casos de abusos”, como é o caso do cardeal australiano George Pell, o braço direito do papa para as questões financeiras, que atualmente enfrenta um processo na Austrália.

“Se eu conhecia alguns destes casos ele também os devia conhecer. Então porque promoveu estas pessoas? Porque a luta contra a pedofilia não é uma prioridade do papa Francisco? Porque se fosse comportar-se-ia de outra forma“, defende.

A investigação que agora apresenta em livro, adianta o jornalista, tem dados que permitem uma avaliação ética a uma série de comportamentos dos princípios da Igreja preconizados pelo cardeal Pell, mas também por outros, tentando esconder os atos dos padres pedófilos.

O cardeal australiano foi formalmente acusado a 29 de junho.

Não é a primeira vez que o agora cardeal é acusado de abusos sexuais, já que em 2002, quando era arcebispo de Sydney, um homem disse ter sido abusado sexualmente por ele em 1961, quando tinha 12 anos. As investigações ilibaram o sacerdote.

George Pell foi nomeado cardeal pelo papa João Paulo II em 2003 e há três anos foi escolhido pelo papa Francisco para a secretaria de Economia da Santa Sé, um posto criado pelo líder católico para enfrentar os escândalos em torno das finanças do Vaticano.

O cardeal é apenas um dos casos referidos no livro “Luxúria”, mas para o jornalista italiano “personifica a hipocrisia do Vaticano ao transformar um homem indigno do ponto de vista moral no braço direito do papa”.


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