Autor: Lusa/AO Online
A pesquisa feita pela Lusa aos requerimentos entregues pelos partidos políticos no Parlamento sobre o hospital de S. José mostram que o Bloco de Esquerda alertou quatro vezes, desde 2013, o Ministério da Saúde sobre a falta de tratamento dos aneurismas cerebrais no hospital de São José aos fins de semana e que agora terá causado a morte do jovem David Duarte.
Também o Diário de Notícias chamou a atenção para a gravidade da situação a 26 de janeiro de 2015 ao noticiar em primeira página "São José sem tratamento para aneurismas ao fim de semana".
O BE questionou o Governo PSD/CDS-PP em junho de 2013 sobre o problema da escala de Neurorradiologia de Intervenção no Centro Hospital de Lisboa Central/CHLC (que integra São José), tendo o gabinete do ministro Paulo Macedo reconhecido o problema e respondido esperar que "este constrangimento esteja ultrapassado brevemente".
Em novo requerimento ao ministro, a 30 de janeiro de 2015, o BE refere que, volvido mais de um ano, a situação "não só não foi ultrapassada como se deteriorou", já que, em meados de 2014, o hospital de São José deixou de ter equipa de Neurocirurgia Vascular ao fim de semana.
"Como tal, desde então, todas as pessoas que deem entrada nesta unidade hospitalar com aneurisma a partir de sexta-feira às 16:00 terão de aguentar até ao dia útil seguinte (segunda-feira) para tratar do aneurisma. Esta é uma situação desadequada do ponto de vista clínico que pode sujeitar os doentes a consequências graves e irreversíveis", refere o requerimento apresentado.
No documento de janeiro de 2015, os então deputados do BE João Semedo e Helena Pinto alertam novamente sobre a falta de assistência aos doentes com aquela patologia ao fim de semana, lembrando que após o corte imposto em 2013 pelo governo PSD/CDS-PP no pagamento de horas extraordinárias a todos os funcionários públicos, a equipa de neurorradiologia de intervenção recusou continuar a assegurar a escala de fim de semana porque "implicaria estarem 48 horas sempre disponíveis a um preço inaceitável".
O BE entrega novo requerimento a 23 de março de 2015 ao constatar que o governo "não responde a grande parte das perguntas endereçadas no prazo regimental de 30 dias" e depois de o gabinete do Ministro da Saúde ter dito esperar que "este constrangimento esteja ultrapassado brevemente".
A 27 de maio, o BE procede a novo reenvio da pergunta "Tratamento dos aneurismas cerebrais no hospital de São José", alegando que o governo insiste em não responder a "grande parte das perguntas endereçadas" e que o prazo de resposta "se encontra ultrapassado".
"Urge aferir quais os procedimentos que vão ser adotados para resolver esta situação, de modo a assegurar o tratamento de aneurismas ao fim de semana, seja no hospital de São José seja garantindo a transferência dos doentes para outra unidade onde o procedimento se efetue", lê-se no requerimento da então deputada Helena Pinto.
A 29 de setembro de 2015, o gabinete do ministro Paulo Macedo responde ao BE, dizendo que, segundo o Conselho de Administração do CHLC, não houve conhecimento de qualquer queixa ou reclamação, através do gabinete utente/cidadão, relativamente à não realização de cirurgia de embolização precoce.
Quanto à transferência de doentes para outras unidades hospitalares, o gabinete de Paulo Macedo esclarece que esta é "de facto limitada na medida em que, a imobilização e transporte na fase aguda da hemorragia subaracnoídea por aneurisma roto, não se revela como a mais adequada conduta médica".
"O CHLC poderá, no entanto, ter de recorrer à transferência dos doentes, em casos de necessidade extrema que em função de análise de risco/benefício, não se verificou desde abril de 2014", responde Luís Vitório, chefe de gabinete do ministro.
Após a morte de David Duarte, o Ministério Público abriu inquérito para apurar eventuais responsabilidades criminais enquanto o CHLC instaurou um inquérito interno para averiguar esta e outras mortes imputadas à falta de assistência médica a doentes com esta patologia durante o fim de semana.