Escritora Clara Pinto Correia morre aos 65 anos

A escritora Clara Pinto Correia morreu, aos 65 anos, confirmou a editora Exclamação, que publicou o seu último livro, “Antares”, em junho do ano passado, sem adiantar mais pormenores



De acordo com o jornal Correio da Manhã, Clara Pinto Correia, que há já alguns anos se afastara do meio mediático, foi encontrada morta na sua casa, em Estremoz.

Escritora, bióloga e professora universitária, a autora do romance “Adeus Princesa”, publicado aos 25 anos, destacou-se tanto ao nível das ciências, como da literatura, tendo ainda sido cronista, jornalista, apresentadora e até atriz, no filme “Kiss me” (2004), de António Cunha Telles.

Licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1984, doutorou-se em 1992 em Biologia Celular, pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, embora já estivesse integrada no corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, na área de biologia celular e histologia e embriologia.

Viveu nos Estados Unidos, onde continuou os estudos, fez investigação e publicou obras científicas, regressando a Portugal em 1996, para se dedicar à docência universitária.

A par da biologia, área por que se apaixonou ainda na infância, durante o período em que viveu com os pais em Angola, Clara Pinto Correia desenvolveu uma profícua carreira de escritora.

Muito para lá dos livros científicos, Clara Pinto Correia cedo se começou a dedicar à literatura, tendo publicado aos 23 anos, em parceria com outras escritoras, o livro “Anda uma mãe a criar filhas para isto”.

Dois anos depois publicou aquele que se tornaria o seu mais conhecido romance, “Adeus, Princesa”, que teve na altura, um grande impacto junto da crítica, que chegou a classificá-lo como “um dos livros notáveis de 1985”.

“Ponto Pé de Flor”, “A Mulher Gorda”, “Domingo de Ramos”, “Clonai e Multiplicai-vos”, “A Ilha dos Pássaros Doidos”, “A Deriva dos Continentes” e “Mais que Perfeito”, são apenas alguns dos títulos da quase meia centena que publicou.

Durante muitos anos, a autora foi uma figura pública marcante em Portugal, quer pelas suas obras, como pelo cruzamento que fez entre ciência, literatura e comunicação, mas também pela sua presença mediática.

No entanto, sofreria uma queda do palco mediático para uma vida de dificuldades pessoais e profissionais, tendo perdido o emprego e enfrentado problemas financeiros, vendo-se obrigada a sair da sua casa de longa data, em Sintra.

Clara Pinto Correia contou esta sua história, numa entrevista à revista Sábado em janeiro de 2025: “Fiquei sem emprego, sem qualquer espécie de trabalho. Primeiro que começasse a receber o subsídio de desemprego foram quase dois anos. Nas filas da Segurança Social olhavam para mim de esguelha. A minha senhoria da casa no Penedo [perto de Colares, Sintra] pôs-me uma ordem de despejo. Há 30 anos que lhe arrendava a casa e dava-me lindamente com ela”.

Em 2003, foi acusada de plágio relativo a um artigo de opinião publicado na revista Visão, a que na altura reagiu afirmando nem sequer saber do que se estava a falar.

No ano passado publicou “Antares”, um romance que decorre ao longo de uma única noite, sob o brilho constante da estrela vermelha que lhe dá nome, e que a própria autora diz ter escrito como uma “mensagem de esperança”, para “que as pessoas não se esquecessem de todas as coisas boas que a vida lhes ofereceu”.


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