Açoriano Oriental
Da Graciosa se vê como vai ser o clima do futuro

Criado há 10 anos, a ENA Graciosa Island ARM Facility é um importante laboratório mundial, onde a investigação científica se centra no clima e nas alterações climáticas na bacia atlântica


Autor: Nuno Martins Neves

Da segunda mais pequena ilha do arquipélago dos Açores há um laboratório que vai muito para além do mar que a circunda. Criado há 10 anos e de olhos postos no céu, a ENA Graciosa Island ARM Facility (plataforma internacional de estudos climáticos avançados no Atlântico) é tida como um dos mais importantes laboratórios para o estudo sobre o clima e as alterações climáticas na bacia atlântica.

Reflexo disso são os 130 artigos científicos publicados em revistas como a reputada Nature, a partir dos dados obtidos na última década de funcionamento, que permitiram aprofundar o conhecimento e que integram os modelos interpretativos dos fenómenos que estão na base da previsão do estado do tempo e da simulação do nosso clima futuro.

É por isso que Eduardo Brito de Azevedo, project manager da ENA, faz um balanço positivo, trazendo à conversa as palavras de Corydon Ireland, investigador da Universidade de Harvard, que classificou os dados recolhidos pela ENA como “o maior património mundial de dados contínuos e de longo prazo sobre as condições atmosféricas das latitudes médias marinhas da Terra”.

Para Eduardo Brito de Azevedo, não há dúvidas que “a ENA é um dos melhores, de maior longevidade e mais bem equipados laboratórios de investigação científica sobre o clima e alterações climáticas vocacionado para as interações oceano/atmosfera que ocorrem na bacia atlântica, em particular para o estudo da complexidade dos fenómenos associados à geração presente e futura das nuvens que, como sabemos, controlam em larga medida o balanço energético planetário”.

Mas como surgiu o ENA e porquê na Graciosa? Devido à localização da ilha, no centro do atlântico norte e por ser uma ilha pequena e de baixa altitude, o que reduz a interferência com os processos que se pretende medir.

Depois de um período (2009-2010) em que a recolha de dados da radiação atmosférica era feita por um aparelho móvel no aeródromo da Graciosa, a ideia vingou e teve sequência.

“A partir do êxito dessa primeira campanha, e após uma proposta do então Centro do Clima da Universidade dos Açores, foi decidido prolongar a experiência através da instalação de infraestruturas com caráter mais permanente que permitissem o apuramento de séries climatológicas mais longas, condição fundamental no domínio dos estudos climáticos”, explica o também investigador.

É então assim que surge a estação, que passa a integrar as infraestruturas do programa internacional ARM (medição de radiação atmosférica), promovido pelo gabinete de ciência do Departamento de Energia dos Estados Unidos da América, “que tem como objetivo o estudo de parâmetros relevantes para a melhoria da modelação climática em diferentes enquadramentos geográficos, em particular a modelação do clima futuro da Terra”.

O projeto ENA está submetido ao Laboratório Nacional de Los Alamos, infraestrutura conhecida por ter sido fundada durante a 2.ª Guerra Mundial, para o Projeto Manhattan (onde foi testada a bomba atómica), é apoiada pelo Governo Regional dos Açores e pela Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, e é operacionalizado através da Fundação Gaspar Frutuoso, pelo Grupo do Clima do IITAA da Universidade dos Açores que integra diferentes linhas de investigação.

A ENA é constituída por um grupo de técnicos de “excecional capacidade”, recrutados localmente e que, além da ENA Graciosa, prestam assistência às diferentes estações do programa ARM, do Polo Norte à Antártida.

Eduardo Brito de Azevedo sublinha a importância dos Açores no domínio da climatologia e meteorologia, devido à sua localização geográfica, no contexto da circulação atmosférica e oceânica. O que, associado à tecnologia instalada na ilha Graciosa, permite encarar a próxima década de forma positiva.

“Tendo como base os indicadores científicos normais nestas circunstâncias, designadamente o número de publicações e o seu fator de impacto, bem como o interesse internacional por esta plataforma para o desenvolvimento de vários projetos científicos, estamos confiantes na permanência da ENA na Ilha Graciosa por muitos e bons anos”. Até porque, além das linhas de investigação já realizadas, o potencial da estação está “muito longe de ser esgotado”, acrescenta.

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