Açoriano Oriental
Covid-19
Cai última cerca sanitária do país, no Nordeste, num misto de dor e alegria

O concelho de Nordeste, o último do país sujeito a cerca sanitária, viu na segunda feira esta medida ser levantada, com a população feliz pelo seu fim mas, simultaneamente, triste pelas 12 mortes registadas numa comunidade de quatro mil habitantes.


Autor: AO Online/ Lusa

Num dia de sol intenso no concelho, na praça principal daquele município da ilha de São Miguel vislumbrava-se, em tempos de Covid-19, um nome considerável de cidadãos junto aos bancos e à farmácia, enquanto outros aproveitavam para tomar um café no exterior de um estabelecimento.

Alberto Borges é natural de Ponta Delgada e aproveitou o fim das cercas sanitárias para estar com a mãe e a irmã, residentes na freguesia de São Pedro Nordestinho, no Nordeste, que “já não via há cerca de dois meses”.

A sua mãe, Filomena Borges, de 80 anos, “conhecia alguns” dos 12 idosos do lar de Nordeste que morreram com a doença e afirma que “as pessoas sentiram muito essas mortes”.

Mas não deixa também de “estar feliz” pelo levantamento das cercas sanitárias e a possibilidade de estar, de novo, em família, sendo que as saídas de casa limitavam-se aos domingos, quando o genro a ia apanhar.

Apesar dos 80 anos, recusa-se a ficar imóvel: “vou para o meu quintal, arranjar o jardim, ocupando assim o tempo” em tempos de pandemia, disse à Lusa.

A cerca sanitária naquele concelho foi implementada em 10 de março, depois de terem sido detetados 12 infetados por Covid-19 no lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste.

No total foram infetadas com o novo coronavírus 54 pessoas no concelho do Nordeste, incluindo 38 utentes e 12 funcionários do lar.

Na origem do surto detetado no lar esteve uma utente, de 88 anos, infetada por uma profissional de saúde no hospital de Ponta Delgada.

Em declarações à Lusa, José Amaral diz estar “muito satisfeito” com o fim da cerca sanitária, mas salvaguarda que “ainda é preciso ter algum cuidado”, acrescentando que “conhecia algumas das senhoras que morreram” do lar da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste.

Para António Ferreira, funcionário dos Serviços Florestais, da Fazenda de Nordeste, que aproveitou a saída para tomar café, “sempre é melhor estar sem cerca sanitária”, uma vez que “as coisas como estavam, não estavam bem”.

Há dois meses que está "confinado em casa", saindo "apenas por razões profissionais".

“É um misto de tristeza pela dor e alegria pela abertura. Não se esperava isso (as mortes).Isso mexe com as pessoas”, declara, para adiantar que, numa comunidade pequena como a do Nordeste, "quase todas as pessoas conheciam algumas das vítimas".

O proprietário de um café no centro da vila não esconde a satisfação pelo fim do confinamento em cercas sanitárias, esperando que a reabertura tenha lugar, como previsto, no final do mês, para “dar ânimo ao negócio”, que “basicamente vive do ‘take-away’”.

O taxista José Agostinho tem razões acrescidas para estar feliz, uma vez que o levantamento da cerca significa que está mais perto o regresso da mulher, que foi a Inglaterra assistir, a 9 de março, ao nascimento de uma neta, e por lá ficou, retirada por falta de voos.

“A minha mulher está com a minha filha na sua casa e não está mal, mas a sua vida é aqui, no Nordeste”, afirma, para não esconder que financeiramente, sem clientes e com a sua ausência da mulher do trabalho, a vida "ficou mais difícil".

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