Açoriano Oriental
Covid-19
Cerco sanitário mudou a vida dos povoacenses

A criação de um cerco sanitário na Povoação face à pandemia de Covid-19, mudou já "completamente" as vidas dos povoacenses, que se dizem apreensivos quanto aos casos positivos do novo coronavírus no concelho açoriano.

Cerco sanitário mudou a vida dos povoacenses

Autor: Lusa/AO Online

"Mudou completamente o meu dia a dia, tinha sempre o hábito regular de sair do concelho. Agora estou em teletrabalho e só me desloco mesmo por necessidade", afirma à agência Lusa Jaime Câmara, residente na vila da Povoação, descrevendo que a medida deixou as ruas do concelho "ainda mais vazias".

O funcionário da Câmara Municipal, no departamento de recursos humanos, considera a implementação do cerco sanitário uma "boa medida para controlar o vírus", apesar de gerar uma "certa instabilidade emocional na população".

"Havendo muitos casos positivos, aqui cria-se uma certa instabilidade emocional, mas penso que, mesmo com esta instabilidade, as pessoas estão a fazer o que têm de fazer e a cumprir as regras exigidas", destaca.

Desde domingo que o concelho da Povoação está em cerco sanitário devido à identificação de transmissão local de covid-19, tendo sido registados nove casos positivos naquele concelho até ao momento.

Apesar de a maioria dos estabelecimentos estar encerrado, Rodrigo Moniz continua a deslocar-se para o trabalho como habitualmente, uma vez que é funcionário numa unidade hoteleira que se mantém aberta com um "pequeno número de pessoas" - adotou o plano de contingência -, apesar de estar "fechada ao público".

Mesmo com a "normalidade" do contexto profissional, Rodrigo Moniz, que costuma ir regularmente a Ponta Delgada, diz que o cerco sanitário alterou as vidas dos moradores.

"Acabou por ser uma boa medida para tentar prevenir e para ver se os casos não aumentam drasticamente. Mas não é fácil, condicionou a vida de todos. Uma pessoa só pode estar em casa. Claro que ficamos com receio de sair à rua e com medo", aponta.

Uma das seis freguesias do concelho é a de Furnas, uma das zonas turísticas mais procuradas na ilha, conhecida pelo cozido confecionado debaixo do solo, pelas fumarolas vulcânicas (as caldeiras) e pelas nascentes de águas termais.

Nas Furnas encontra-se o restaurante e bar Caldeiras e Vulcões, encerrado desde 18 de março, motivo que leva o proprietário Paulo Costa a "analisar os apoios do governo", porque 14 pessoas “estão em casa".

"O problema é que as Furnas são uma terra que vive principalmente do turismo, o que se torna muito complicado. Mesmo no verão e pondo já o melhor cenário, vai ser difícil. Vai ser um ano perdido. Já é bom se sairmos vivos daqui", comenta.

Paulo Costa avança que as ruas da freguesia estão "completamente desertas" ao ponto de o silêncio sentido na zona das caldeiras "até arrepiar" os que conhecem o local, habitualmente repleto de gente.

"As pessoas estão apreensivas com isso tudo que tem acontecido. Mas é como tenho dito: desde que fiquem em casa, respeitem a quarentena e desinfetem as mãos, está tudo bem. Há de correr tudo bem", assinala.

Na freguesia da Ribeira Quente, vila piscatória, vive António Rita, que, apesar de não "sentir grandes diferenças" ao nível do abastecimento de bens essenciais, diz que a obrigação de permanecer isolado no concelho afeta psicologicamente os seus residentes.

"Eu estava habituado a ir para Ponta Delgada e sempre que me faltava mais alguma coisa do que precisava eu sabia que poderia sair daqui. Agora, sabendo que nós não podemos sair do nosso concelho, psicologicamente afeta-nos um pouco mais", afirma.

António Rita é funcionário no porto de Ponta Delgada, mas atualmente encontra-se em casa face ao plano de contingência adotado pela empresa.

O residente na Ribeira Quente assinala que as ruas do concelho estão "irreconhecíveis" devido à falta de gente e que as pessoas "estão a cumprir as normas de segurança" nos estabelecimentos comerciais.

"As pessoas estavam a levar isso a sério, mas quando é longe as pessoas pensam que ainda não chegou cá. Agora já se nota um bocadinho mais de apreensão e de medo, porque já está próximo e entre nós", aponta.


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