Autor: Lusa/AO Online
A propósito do Dia Internacional para a Redução das Catástrofes Naturais, a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) e a Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais (ANBP) reconhecem o esforço anual na divulgação de informação sobre prevenção de incêndios, mas defendem a mesma abordagem para o início da época de chuva, atendendo ao risco de cheias.
"Aposta-se quase tudo nos incêndios mas esquecem-se as cheias", disse à Lusa o presidente da ANBP, Fernando Curto, adiantando que "nos centros urbanos pode bastar uma sarjeta entupida para haver inundações".
O presidente da LBP, Duarte Caldeira, é da mesma opinião: "O único risco para o qual há um investimento em campanhas de difusão pública são os fogos florestais."
Duarte Caldeira considera "que não existe uma difusão tão massificada quanto seria desejável ao nível nacional e municipal" e que "não há uma efectiva agressividade na informação" de forma a atenuar a falta de cultura de prevenção.
"Prevenção e segurança são coisas de que só sentimos falta quando somos vitimados por alguma coisa. A nossa consciência é de risco. Andamos sempre no fio da navalha. O cidadão não é capaz de ver um taipal e desviá-lo preventivamente para não cair com o vento", referiu.
Fernando Curto defende, por exemplo, a divulgação de informação sobre prevenção de riscos no intervalo das telenovelas ou nos programas das tardes televisivas para abranger a população mais idosa.
Para o dirigente da LBP, "não há apenas em Portugal um défice de cultura de segurança, mas também uma ausência de estratégia de segurança".
Os dois dirigentes defendem, por isso, a inclusão da disciplina de protecção civil nos currículos escolares.
A ANBP já apresentou este ano ao Ministério da Educação um projecto curricular, que Fernando Curto diz que "foi bem recebido".
O dirigente realça, porém, que a aposta no ensino tem de ser contínua e não apenas episódica, de forma a poder "mudar mentalidades".
O presidente da LBP, que é simultaneamente presidente da Escola Nacional de Bombeiros, entende que os cidadãos não têm interiorizado o conceito de segurança, não sendo por isso "valorizado".
"Um cidadão que não está consciente do direito à prevenção, naturalmente que não exerce a mesma pressão junto dos decisores políticos", frisa.
Duarte Caldeira sublinha que a falta de cultura de prevenção não é só dos cidadãos, mas também do poder político local.
"Não há o cuidado de fazer a prevenção na rede de escoamento de águas. Depois acontece o que sucedeu nos últimos dias. A chuva que caiu nos últimos dias não foi uma anormalidade mas causou cheias", disse, lembrando que "todos sabemos" quando é a época de chuvas e quando é a época de incêndios.
Depois das eleições legislativas e em vésperas de autárquicas, Duarte Caldeira apela aos novos poderes autárquicos para que tornem possível "dar passos qualitativos na articulação a vários níveis, nomeadamente do sistema de protecção civil".
O responsável considera que há uma "ausência de concertação estratégica e operacional entre o poder central e municipal".