Açoriano Oriental
Baixos salários estão a causar dificuldades aos trabalhadores da saúde na Venezuela

Os baixos salários estão a dificultar a sobrevivência dos trabalhadores da saúde na Venezuela, com alguns profissionais levados a realizar outras atividades, incluindo fazer café para vender, para complementar os rendimentos.

Baixos salários estão a causar dificuldades aos trabalhadores da saúde na Venezuela

Autor: Lusa/AO Online

“Estamos nas ruas para exigir um salário digno para os trabalhadores da saúde, de cada hospital”, disse uma porta-voz do setor.

Sílvia Bolívar falava à Lusa, em Chacaíto (leste de Caracas), durante uma concentração de enfermeiros, professores, profissionais de outros setores e reformados para exigir melhores salários.

“Como pode um trabalhador ir trabalhar todos os dias para receber (um ordenado de) sete dólares [seis euros] por mês e ainda exigem uniformes, sapatos e horários de trabalho”, questionou.

Sílvia Bolívar insistiu que os profissionais da saúde e de outros setores vão continuar nas ruas, também para denunciar os atropelamentos de que são alvo, de parte de organizações e de “coletivos” [motociclistas armados afetos ao regime] quando saem em protestos, para impedir que "digam a verdade.

“Temos bastantes trabalhadores que se desmaiam de fome, que não têm como alimentar os seus filhos (…) que deixaram de trabalhar nos hospitais para vender café e doces nos autocarros, porque isso dá muito mais do que um salário mínimo diário”, explicou.

Sílvia Bolívar disse que “é doloroso” porque há 23 dias que aqueles profissionais realizam protestos e não recebem resposta do Governo, por isso diferentes setores estão a unir-se contra “um sistema que atropela todos por igual”.

A enfermeira referiu que, recentemente, foi apontada a possibilidade de elevar os salários a 50 dólares [45 euros] mensais, mas com o pagamento em bolívares, "que se desvalorizam" e são "devorados pela inflação".

“Falam de um bloqueio [económico contra o país] que não existe. Aqui há de tudo. Está a ‘Avanti’ [loja de produtos de luxo inaugurada em Caracas] e grandes carrinhas que nenhum trabalhador, enfermeira ou professor, tem porque somente eles [do regime] comem bem, vivem bem e nós, os venezuelanos, não temos direitos à educação, à saúde, a ter uma casa própria”, acusou.

A trabalhar há mais de 20 anos na Maternidade Concepción Palácios, Sílvia disse sentir dor “porque agora chegam muitas raparigas desnutridas para dar à luz”. As crianças podem morrer de desnutrição, de doenças ou patologias que os pais não vão ter como responder, acrescentou.

“Temos visto companheiros que os filhos morreram porque não têm como dar-lhes sustento”, frisou.

Na concentração estava também Ofélia Rivera, coordenadora de trabalhadores do setor educativo, que destacou que os professores vão vítimas de perseguição e assédio no país, onde pais e encarregados de educação são usados para aterrorizar os professores.

“Felizmente, os pais e professores estão a organizar-se em muitas cidades e povoações”, disse a professora reformada.

A Venezuela está a passar por uma crise humanitária, que também está a afetar as crianças, considerou.

“O baixo salário incide na capacidade de comprar alimentos (…) temos mais de 30% de afetados com desnutrição nas povoações mais distantes do país e isto é grave”, concluiu.

Carlos Timaure, funcionário da UCV, quer ver compensada a “pulverização do salário dos trabalhadores”, de modo a que o rendimento atual, de cinco dólares (4,5 euros) mensais, esteja em correspondência com o cabaz básico alimentar que ronda os 500 dólares (455 euros).

“Exigimos um aumento geral dos salários, a liberdade dos que foram presos por lutar, que se cumpra a Constituição, o direito a viver dignamente”, disse.

Timaure indicou que o ordenado é insuficiente para comprar medicamentos, referindo que os economistas estão a advertir para um regresso do país à hiperinflação.

“O salário está ancorado à miséria, à fome e à pobreza. 90% da população venezuelana está em situação de pobreza, num país que tem todos os recursos do mundo, entre eles petróleo, ouro e diamantes”, destacou.


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