Açoriano Oriental
Açores alargam aplicação do programa de prevenção "Eu e os outros"

Os Açores estão a alargar o programa de prevenção universal “Eu e os outros” aos centros de desenvolvimento e inclusão juvenil (CDIJ) da região, depois da “boa adesão” num projeto-piloto iniciado em 2015, revelou hoje o coordenador.

Açores alargam aplicação do programa de prevenção "Eu e os outros"

Autor: Lusa

“Foi possível concluir que há uma boa adesão por parte dos miúdos e refletir sobre as dificuldades de implementação. A aposta foi muito nas escolas e as escolas estão muito sobrecarregadas. A adesão dos professores não foi plena e considerou-se que era mais importante passarmos a trabalhar com populações de risco, daí que tenhamos passado a intervir com os CDIJ com uma dinâmica diferente, que vai no segundo ano de intervenção”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o coordenador do projeto, Raul Melo.

O responsável do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD) iniciou hoje uma formação, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, com técnicos de vários CDIJ dos Açores.

Promovido pelo SICAD desde 2007, o programa, dirigido a jovens entre os 10 e os 18 anos, “visa o desenvolvimento de competências sociais e emocionais”, com base em histórias que abordam comportamentos aditivos e que são contadas de forma a que os participantes se possam identificar com as personagens e tomar decisões, “antecipando as consequências e os riscos associados”.

“O projeto o que tenta fazer é não focar excessivamente sobre as questões das substâncias. Aquilo que à partida é protetor relativamente aos comportamentos aditivos tem a ver com competências mais alargados. As questões de autoestima, a capacidade de comunicar, como comunicar afetos, a capacidade de resolver e tomar decisões são transversais. Eu posso estar a trabalhar isto com outros temas e estar a fazer prevenção na área dos comportamentos aditivos”, revelou Raul Melo.

Segundo Patrício Vieira, um dos animadores socioculturais da Casa do Povo de Santa Bárbara que implementou o projeto-piloto nos Açores, os jovens aderiram bem ao programa e “têm vontade de continuar”.

“Dá-lhes ferramentas, põe-nos a pensar, põe-nos a discutir uns com os outros, ensina-os muito. E, para nós, que estamos do outro lado, ajuda-nos a dar muitas ferramentas, que depois podemos usar noutro tipo de intervenções. É um programa muito rico, que a gente espera continuar a fazer, porque para nós e para os miúdos é muito bom”, afirmou.

A forma como a abordagem é feita permite também uma melhor recetividade por parte dos jovens.

“Quando fazemos este tipo de dinâmicas, eles estão a aprender durante aquele tempo, são incentivados a discutir. Conseguem discutir e expor as suas ideias e, por isso, é que há menos resistência”, explicou Patrício Vieira.

Raul Melo defendeu que esta abordagem é mais eficaz do que a abordagem informativa, porque, em vez de apontar soluções, os promotores procuram ajudar os jovens a encontrar soluções.

“Os miúdos mais opositores, provavelmente se lhes apontam uma direção vão considerar que a decisão não é boa. Ajudá-los a descobrir as suas próprias opções é uma forma de trabalhar com estas populações vulneráveis e de lhes proporcionar um sentimento de competência, que é aquilo que eles precisam de ter, em vez de sentirem que a vulnerabilidade os coloca a serem vistos de uma forma diferente”, salientou.

Segundo o coordenador do projeto, na avaliação que é feita após a aplicação do programa tem sido possível observar “atitudes contra o consumo” de substâncias.

O SICAD está agora também focado na abordagem de comportamentos aditivos sem substâncias, como as dependências da Internet ou dos jogos, “realidades que estão a emergir" e que obrigam a "ter respostas”.

Os Açores são uma das regiões do país com maiores consumos de substâncias aditivas entre os jovens.

O secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, sublinhou que a prevenção é a forma mais eficaz de combater o problema.

“Tudo o que seja tratamento, reinserção, já estamos a trabalhar num fim de linha que tem um escasso grau de possibilidade de sucesso, mas apenas de minimização de danos e de redução de riscos. A nossa aposta é clara e convictamente a de promover tudo aquilo que esteja ao nosso alcance para garantir melhores ferramentas de prevenção”, assegurou.


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