Autor: Ana Carvalho Melo
Nina Medeiros, artista plástica nascida em Ponta Delgada em 1963, desenvolveu um percurso artístico marcado pelo ecletismo e pela constante evolução. Com uma licenciatura em Artes Plásticas/Pintura pelo Montserrat College of Art e em Educação Artística pela Universidade de Massachusetts - Dartmouth, regressou à sua terra natal, São Miguel, em 1991, onde iniciou a sua carreira expositiva no ano seguinte.
O começo do seu percurso nas artes não foi, curiosamente, um plano inicial. Durante a sua adolescência nos Açores, Nina Medeiros era fascinada pelos Estados Unidos, especialmente pela cultura hippie, pelo cinema e pela música. Motivada pelo desejo de experimentar a diversidade cultural e a liberdade, convenceu os pais a deixá-la estudar nos Estados Unidos, inicialmente sem uma clara inclinação para as Artes.
“Não tinha as Artes em mente (como profissão ou carreira), estava mais empenhada nas Ciências e Psicologia. Contudo, desenhava muito, mas não tinha muitas referências na área visual, além dos quadros do Domingos Rebelo e do Tomaz Borba Vieira”, recorda.
Foi durante o ensino secundário, numa escola artística em Providence, Rhode Island, que descobriu o seu talento no desenho, direcionando-a para a pintura.
“Deve-se inteiramente à frequência de aulas de foro artístico, desenho e gravura, na high school (School One) em Providence, RI. Uma escola privada artística na qual os alunos eram selecionados pelo talento. O meu ‘talento’ chamou a atenção e fui indicada para organizar um portefólio para me candidatar à universidade”, conta.
Desta forma surgiu Boston, aonde se dedicou de corpo e alma à arte. A formação universitária, com as constantes visitas a museus e o acesso a um ambiente intelectual dinâmico, transformou a pintura numa necessidade tanto plástica, quanto intelectual e espiritual, para Nina Medeiros.
“O ambiente universitário foi uma experiência muito enriquecedora, forneceu-me imenso conhecimento, como as frequentes visitas aos museus de Boston e Nova Iorque (história das artes e contexto contemporâneo). A pintura passou a ser uma necessidade, tanto no sentido plástico do objeto (pintura), como no intelectual e espiritual. Daí a minha constante insistência ou continuidade nesta área”, explica.
No entanto, quando terminou a licenciatura em Pintura, tornou-se mãe: “Não estava nos planos, mas lá está, não se controla a vida. Fiz uma pausa, contudo, a fome criativa estava lá. Mas afirmo que é muito complicado conciliar família e duas carreiras, a do ensino e a artística”, realça.
Mas continuou a pintar, porque “a insistência na pintura, digo que é destino, faz parte do meu entendimento do mundo, do que me rodeia, bem como daquele outro mundo que desejo conhecer”.
Assim, a sua obra evoluiu com uma forte conexão à natureza e às sensações que esta provoca, sendo as formas orgânicas e as cores elementos recorrentes na sua expressão.
“A minha pintura recorda sensações na natureza, em lugares específicos, através das formas orgânicas e das cores; por vezes, a figuração é introduzida. Igualmente, tento recorrer a narrativas ou ficções (geralmente desdobradas em várias telas), nestas sequências, por vezes incorporo fotografia digital como colagem ou como elemento estruturante da organização do quadro (por vezes assumindo o papel principal no que respeita à técnica)”, descreve.
“Gosto muito de pintar a óleo por ser um material orgânico. Desenho muito, tenho projetos esboçados que nunca foram apresentados, porque seriam dispendiosos na sua execução e de grande escala. Precisam de um mecenas e de um espaço próprio para serem apresentados com a devida honra”, acrescenta.
Ao longo dos anos, Nina Medeiros passou a explorar outras formas de expressão artística, como a gravura, a fotografia digital e a videoarte. A expansão para novas técnicas reflete a sua abordagem multidisciplinar e a coragem de arriscar, característica marcante do seu trabalho. Como revela a artista, cada projeto desenvolvido representa quase uma rutura com o anterior, mostrando o desejo de explorar novos territórios criativos.
A sua obra, especialmente, na Pintura, revela influências do expressionismo abstrato, com artistas como Willem de Kooning e Clyfford Still, a servirem de referência inicial.
Nina Medeiros aprecia trabalhar em grandes formatos, valorizando o envolvimento do corpo e da mente no processo criativo, com gestos amplos que conferem vida às suas obras. Gosta de usar materiais como o óleo, pela sua natureza orgânica, e frequentemente incorpora elementos de fotografia digital como parte integrante das suas composições.
Apesar de ter uma carreira reconhecida, Nina Medeiros optou por gerir o seu percurso de forma individual, enfrentando desafios num meio artístico muitas vezes dominado por lóbis. A sua persistência, porém, tem dado frutos, com exposições financiadas principalmente por ela, contando com alguns apoios institucionais, como a Direção Regional da Cultura, câmaras municipais ou os museus Carlos Machado ou de Angra do Heroísmo. Destacam-se no seu percurso exposições em diversos locais e uma residência artística no Espírito Santo, Brasil.
“Foi uma opção gerir o meu percurso individualmente (obviamente com a ajuda de algumas pessoas). É mais complicado porque enfrento os lóbis da cultura sozinha. A mecânica estabelecida, na minha opinião, é completamente uniformizada (fala-se do mesmo modo, apresenta-se identicamente), deixou de me importar fazer parte deles. Tenho a sensação de déjà vu”, revela.
Conta ainda que vender uma obra de arte é mais do que uma transação financeira: é o reconhecimento do seu trabalho e uma forma de alimentar o ego artístico, além de reafirmar o papel do artista como profissional.
“A minha pintura, em contextos expositivos, alicia compradores, colecionadores tanto nacionais como estrangeiros. Passar uma pintura a alguém não só me dá um grande apreço, como também alimenta o ego artístico”, reconhece.
Hoje, Nina Medeiros continua a explorar novas formas de expressão e a expandir os horizontes da sua arte, mantendo sempre a essência de quem vê no ato de criar uma maneira de compreender o mundo e de comunicar com ele.
“Perceber que o artista é um profissional, que detém um suporte ou linguagem, por mais subjetiva que seja, dinamiza, motiva e influencia quem passa no seu caminho. É muito sedutor, é inerente ao criativo seduzir e despertar consciências. É para mim motivo para dar início a mais um processo ou corpo de trabalho”, conclui.