Universidade de Évora desenvolve 'kit' que deteta microrganismos no património

Investigadores da Universidade de Évora criaram uma ferramenta inovadora capaz de detetar, “de forma rápida, simples e económica”, os microrganismos existentes no património cultural, que deterioram superfícies edificadas e obras de arte, segundo a academia.



O ‘kit’ foi criado pelo Laboratório HERCULES, um dos centros de investigação da academia alentejana, no âmbito do projeto MICROTECH-ART, que visa o “desenvolvimento de uma ferramenta analítica rápida para deteção de microrganismos que proliferam no património cultural”.

Segundo a Universidade de Évora (UÉ), a ferramenta, considerada “inovadora”, está a ser desenvolvida por uma equipa de investigação liderada pela espanhola Marina González, investigadora de pós-doutoramento no HERCULES e bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

“Em apenas duas horas e meia e sem necessidade de intervenção de especialistas, o ‘kit’ de deteção vai possibilitar a identificação de vários tipos de microrganismos em superfícies do património edificado e obras de arte”, explicou a UÉ.

Marina González explicou à agência Lusa que o protótipo da ferramenta já se encontra criado, mas ainda está “na última fase de desenvolvimento”, para que “possa ser patenteado” ou para que seja “protegida a propriedade intelectual”.

“Ainda temos um ano de trabalho, porque o projeto financiado pela FCT está ativo até final de 2018. Temos de desenvolver o protótipo e testá-lo corretamente para oferecer ao usuário fiabilidade e sensibilidade” adequadas, disse.

Após o registo da propriedade intelectual, o passo seguinte será contactar empresas, nomeadamente na área da conservação e restauro, que “possam estar interessadas na comercialização” deste instrumento e em “continuarem com este projeto”, frisou.

E como é que esta ferramenta faz com que as bactérias, algas, fungos e outros microrganismos que deterioram monumentos e obras de arte “saltem à vista”, como referiu a UÉ, de conservadores e restauradores?

Marina González explicou à Lusa que o ‘kit’ funciona através de fluorescência, com uma tecnologia que já existia, denominada FISH (Hibridação Fluorescente In Situ), mas à qual a equipa da UÉ adicionou “inovações” que permitem aplicar o processo no património cultural “de forma rápida, simples e económica”.

“A tecnologia existia, até tinha sido aplicada no património, mas era demorada” e “os investigadores desistiam” devido aos “problemas que encontravam. O que nós estamos a fazer é ultrapassar estes problemas e conseguir desenvolver uma ferramenta mais rápida e simples”, disse.

Os microrganismos, que “degradam e têm efeitos muito danificadores no património”, não conseguem ser detetados “a olho nu”, mas, com o ‘kit’ e a aplicação de reagentes em amostras recolhidas de forma não invasiva, é possível detetar “a fluorescência (luz) que emitem”.

“Mais ou menos em duas ou três horas”, consegue-se “um sinal fluorescente, no caso de ter os microrganismos que estamos à procura, nomeadamente fungos filamentosos, bactérias ou leveduras”, indicou.

Consoante a cor dessa luz, assim é identificada a comunidade microbiana, podendo, depois, os conservadores e restauradores decidirem qual a metodologia ou estratégia a adotar “para inibir” a sua proliferação no património.

“O que se pretende é que, cada vez que um conservador ou restaurador pretenda fazer um restauro ou conservar uma determinada peça, antes de aplicar qualquer tipo de estratégia para inibir o crescimento destes microrganismos que degradam a obra, tem de perceber quais aqueles que estão presentes”, sublinhou.

A nova ferramenta, continuou, contribui para “facilitar o seu trabalho”, por um lado, “facilitando o investimento”, e, por outro, evitando o envio das amostras para um laboratório especializado: “Qualquer pessoa, um conservador ou restaurador, conseguiria aplicar” a ferramenta, mesmo “sem perceber nada de biotecnologia”.


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