Autor: Maria Andrade
Quais são as principais linhas orientadoras do seu projeto para o Lusitânia e que visão tem para o futuro do clube, tanto a curto como a longo prazo?
A prioridade absoluta é garantir a viabilidade económica imediata do clube. A curto prazo, o foco está na sobrevivência, e depois na recuperação estrutural, no pagamento de dívidas prioritárias e na construção de uma gestão transparente. A médio e longo prazo, queremos transformar o Lusitânia num clube sustentável, com um modelo profissional, capaz de competir nacionalmente e, simultaneamente, assumir um papel social ativo na ilha Terceira.
Que principais desafios identifica no presente do Lusitânia e que obstáculos antevê que poderão surgir ao longo da época, tanto dentro como fora das quatro linhas?
O maior desafio é claro: não há dinheiro. Neste momento, o Lusitânia está a funcionar com base na confiança, no trabalho voluntário e na esperança de que conseguiremos apoio institucional e privado. Fora das quatro linhas, precisamos urgentemente de ter conhecimento da situação real, após essa constatação, teremos a necessidade de um plano financeiro sólido e de credores que acreditem no futuro. Dentro das quatro linhas, será um milagre manter um grupo competitivo sem garantias mínimas, e esse é um peso que carregamos todos os dias.
Referiu recentemente que este projeto é de continuidade e que não se irão cometer "loucuras", nomeadamente em termos financeiros. Como é que essa filosofia se traduz, na prática, na construção do plantel e na gestão do balneário?
Essa filosofia traduz-se numa regra simples: não se pode gastar o que não se tem. Estamos a tentar construir o plantel com base em apoios mínimos e atletas comprometidos com o clube. A gestão do balneário será feita com honestidade e clareza. Preferimos um grupo coeso e bem orientado do que promessas irrealistas que acabem por fragilizar ainda mais o clube.
Quais são os objetivos do Lusitânia no campeonato de Portugal?
O objetivo é competir! Que até ao momento não tem sido possível. Depois entrar na competição de forma digna e honesta, enquanto lutamos por estabilizar o clube fora do campo. O Campeonato de Portugal exige estrutura, logística e recursos. Temos talento, temos vontade, mas não temos, neste momento, os meios necessários. Se conseguirmos garantir o mínimo, acredito que poderemos ser competitivos.
A base do plantel permanecerá a mesma ou haverá espaço e orçamento para outros reforços?
Quando chegámos ao clube, havia zero jogadores com vínculo ao clube. É uma situação que nunca imaginámos, nem sabemos como lidar. Mas tudo dependerá do apoio que conseguirmos mobilizar nos próximos dias, seja junto da autarquia, da Região ou de investidores privados. Qualquer reforço só acontecerá com base em critérios claros de viabilidade e utilidade desportiva.
A permanência no campeonato de Portugal tem-se revelado um desafio para grande parte das equipas açorianas. Estará Lusitânia à altura do desafio?
Estará, se a comunidade e as instituições se unirem em torno deste projeto. O Lusitânia não pode ser deixado à sua sorte. Precisamos de apoios reais para viagens, estágios e estruturas mínimas. O Lusitânia é um emblema centenário e merece condições para competir. Sem apoio, será injusto exigir sequer a sobrevivência.
Para além do futebol sénior, o Lusitânia tem um ecletismo forte. Que projeto está a ser desenvolvido nas restantes modalidades do clube, como o futsal e o basquetebol, e que metas estão traçadas, sobretudo num momento em que algumas equipas, como os juniores de futebol e o futsal, enfrentam o desafio de reagir a descidas de divisão?
As restantes modalidades enfrentam as mesmas dificuldades: falta de recursos, desgaste organizativo e necessidade urgente de reestruturação. No entanto, há um esforço sério para manter viva a atividade formativa, particularmente no basquetebol, que tem tradição e potencial. A ideia é não desistir, mesmo que o caminho exija sacrifícios e soluções criativas. O desporto é um serviço público, e o Lusitânia quer continuar a cumpri-lo.