Autor: AO Online/ Lusa
Esta reunião da Mesa Nacional do BE, em Lisboa, que já estava marcada desde meados de dezembro do ano passado, acontece um dia depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter recebido, na sexta-feira, o BE e o PCP, em São Bento, reuniões que se destinaram a encontrar pontos de consenso para a viabilização do OE2020, mas sobre as quais não se conheceu ainda qualquer desenvolvimento, uma vez que foram fechadas e não houve declarações à imprensa no final.
Fonte oficial do partido tinha adiantado já à agência Lusa que esta reunião do órgão máximo do partido incluía na ordem de trabalhos a análise da “proposta de Orçamento do Estado entregue pelo Governo na Assembleia da República”.
Tal como acontece no final de todas as reuniões da Mesa Nacional, também para hoje à tarde está marcada uma conferência de imprensa da coordenadora do BE, Catarina Martins, na qual deverá ser apresentada a posição do partido sobre o OE2020.
O BE tem mantido em aberto o seu sentido de voto do OE2020 na generalidade - cuja votação acontece já na próxima sexta-feira -, mas logo na primeira reação à proposta orçamental do Governo, a deputada Mariana Mortágua apontou as "muitas insuficiências" e "falta de compromisso", considerando que por ter sido desenhada "pela obsessão do PS com o excedente orçamental" é de recuo face aos últimos quatro anos.
Na última intervenção pública, já em 18 de dezembro, Catarina Martins afirmou, num jantar no Porto, que a proposta OE2020 é "uma desilusão" uma vez que trava o trabalho desenvolvido durante os últimos quatro anos e “não responde aos problemas” do país.
No mesmo dia, mas de tarde, no Palácio de Belém, à saída da audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a coordenadora do BE lembrou ao PS que não tem maioria absoluta e disse esperar que socialistas e Governo deem sinais de que querem negociar o OE2020.
Questionada se houve medidas que foram acordadas e que não constam do documento, Catarina Martins respondeu que "o BE teve o cuidado de fazer chegar ao Governo propostas de convergência", acrescentando: "Registamos que, em concreto, elas não estão refletidas no Orçamento do Estado".
Já esta sexta-feira, no seu espaço habitual de comentário no jornal Público, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, escreveu um artigo intitulado “Fio da navalha”, no qual considera que o orçamento entregue pelo Governo “é insuficiente porque falha no essencial: não tem um desígnio”, acusando que, “sem ideias, resume-se a um objetivo contabilístico”, que é o superavit.
“É possível endireitar o que nasceu torto? É preciso pousar a máquina do calculismo partidário para passar a discutir as soluções que o país precisa, sem fantasmas de maiorias absolutas falhadas ou orgulhos feridos. As pessoas assim o exigem. Será possível?”, desafiou, no final do texto.
Na perspetiva de Pedro Filipe Soares, “o toque de finados à ‘geringonça’ ocorreu ainda não tinham passado sete dias desde as eleições legislativas”, quando “o PS negou qualquer acordo à esquerda e escolheu o caminho do fio da navalha, com negociações caso a caso”.
“O que parecia ser uma escolha ponderada, demonstra ser uma navegação à vista, fuga em frente após a ida às urnas ter negado a maioria absoluta. O resultado é o impasse nas escolhas estratégicas e a política resumida ao calculismo partidário”, criticou.