Autor: Lusa/AO Online
“Num mundo em transição, podemos considerar como relevante a posição dos Açores e de cada uma das suas nove ilhas no pensamento que, a nível planetário, se faz sobre transição energética, digital, mobilidade e movimentos migratórios, ou sobre as potencialidades das novas economias, como as do mar e as do espaço”, afirmou o chefe de Governo de coligação PSD/CDS-PP/PPM, no terceiro Fórum Autonómico realizado na Madalena, na ilha do Pico.
Para José Manuel Bolieiro, “a dimensão do mar é a verdadeira posição estratégica de Portugal e dos Açores”, pois “qualquer reflexão estratégica que a União Europeia queira fazer sobre o mar, ou sobre a economia que lhe está associada para a transição energética, ou sobre as alterações climáticas, tem de considerar os Açores como uma referência relevantíssima”.
“Temos potencial para sermos atores e autores nesta reflexão. Assim é também com o espaço. A nossa posição geoestratégica não está apenas no Atlântico Norte ou na Base das Lajes [na ilha Terceira]”, alertou.
Para o governante, um exemplo do que se pode fazer no “quotidiano da governação” é ter “a oportunidade, enquanto geração, de pensar nestas transições estratégicas”.
O presidente do Governo Regional, que cumpriu hoje o segundo dia de visita estatutária à ilha do Pico, destacou a importância da literacia digital ou da reflexão sobre as alterações climáticas.
“Os Açores não são contribuintes para economia carbonizada – são vítimas. Importa que tenhamos pensamento estratégico sobre os fenómenos da natureza a que estaremos sujeitos nos próximos tempos”, vincou.
De acordo com Bolieiro, “o pensamento geoestratégico dos Açores tem uma centralidade inquestionável na ilha terceira devido à base das Lajes, mas é preciso ver o valor que cada ilha tem para esta ideia”.
Relativamente ao Fórum Autonómico, um espaço de reflexão sobre a autonomia regional açoriana, Bolieiro notou que “os Açores não devem ser considerados apenas como uma abstração que parece, muitas vezes, esquecer a realidade intensa de cada ilha”.
“É preciso compreender a noção de autonomia e cada uma das ilhas, avaliando as potencialidades e fragilidades de cada uma e sem perder de vista a importância dos Açores no seu plano nacional e internacional”, afirmou.
“Pode parecer que o tema não interessa ao quotidiano das pessoas. Mas enganam-se. Precisamos de projetar e pensar a vivência que queremos trazer para o futuro”, destacou.
O convidado deste terceiro Fórum, Luís Andrade, professor catedrático da Universidade dos Açores, especialista em Ciência Política e geopolítica, frisou que os Açores ganham nova relevância geoestratégica numa altura em que os “problemas que se colocam à atual conjuntura internacional são complexos e imprevisíveis”.
O especialista defendeu que os Estados Unidos da América “não vão abandonar por completo a Base das Lajes num futuro mais ou menos próximo”.
“Não partilhamos da opinião de que os Açores perderam a importância geoestratégica após a guerra Fria. Isto prende-se com instabilidade das relações internacionais”, observou.
Para o
professor, a criação do ‘Air Center’ e do Centro de Defesa do Atlântico
“corroboram tese de que a importância geoestratégica dos Açores se tem
mantido ao longo dos tempos”.