Açoriano Oriental
Fotógrafa revela os rostos por detrás da recolha de lixo

É um trabalho quase invisível, feito por quase uma centena de pessoas. Em Ponta Delgada, uma equipa de 30 funcionários faz a recolha noturna de resíduos, 40 a recolha diurna, e 20 têm a seu cargo a limpeza urbana.


Autor: Paula Gouveia

A fotógrafa Andrea Santolaya, desafiada pelo município, acompanhou o seu quotidiano durante 20 dias. O resultado pode agora ser visto no Quiosque do Largo Mártires da Pátria, em frente ao antigo Liceu.

Impressos em fotografias de grande formato - três metros - estão os rostos de quem faz este trabalho. “Eu espero que a população veja que são seres humanos, pessoas a fazerem este trabalho. Não é uma máquina, um camião a passar, não é um robot. E, por outro lado, perceba, não só a importância da limpeza, mas também da reciclagem”, diz a fotógrafa espanhola que está a residir nos Açores, e cujo trabalho já correu países como França, Itália, Israel, Venezuela, México, Estados Unidos, Portugal e o seu próprio país, estando neste momento em exibição na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada, a exposição “Isolado”.

“Estive quase 20 dias a fazer todo o concelho de Ponta Delgada num camião de lixo. Na primeira hora da manhã, antes de começarem o trabalho, fazia os retratos – dois a quatro por dia. E eles ajudavam-me como assistentes de fotografia”, conta.

“Eu aprendi imenso. Não fazia ideia, por exemplo, do esforço físico e mental que exige esta profissão”, sublinha, confessando que o que mais gosta neste projeto “é a sua humanidade”.

“Para muitos, era a primeira vez que eram retratados de forma profissional. Como foi o caso do Sr. João que se vai reformar em dezembro depois de uma vida toda dedicada à limpeza de verdes. E é o caso do Sr. Adriano”, diz a fotógrafa que conta ainda que “André sabia que ia fazer o seu retrato naquele dia e veio com a barba feita e penteado”.

“Todos cuidavam de mim. Eles fazem pequenas pausas, e todos me convidavam, e eu partilhava com eles a pausa. E isso mudou a minha maneira de fotografá-los também. A forma como foram tão abertos de coração, comigo”, explica.

Para Andrea Santolaya, “o trabalho fotográfico é uma ferramenta social forte”. “Uso esta ferramenta para aproximar as pessoas, a realidades que, de outra maneira, se calhar não percebiam”, explica.

No Quiosque , está uma seleção de retratos de quem está por detrás do serviço de recolha de resíduos do município e de fotografias que mostram o seu trabalho; bem como informação sobre esse mesmo trabalho.

“Eu adoro a magnitude das imagens” e “a relação entre a arquitetura, as imagens, o jardim”, diz Andrea que confessa que temia que as fotografias fossem vandalizadas, mas que admira “o respeito” que as pessoas têm demonstrado pelo projeto e os seus protagonistas.

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