Autor: Paula Gouveia
A fotógrafa Andrea Santolaya, desafiada pelo município, acompanhou o seu quotidiano durante 20 dias. O resultado pode agora ser visto no Quiosque do Largo Mártires da Pátria, em frente ao antigo Liceu.
Impressos
em fotografias de grande formato - três metros - estão os rostos de
quem faz este trabalho. “Eu espero que a população veja que são seres
humanos, pessoas a fazerem este trabalho. Não é uma máquina, um camião a
passar, não é um robot. E, por outro lado, perceba, não só a
importância da limpeza, mas também da reciclagem”, diz a fotógrafa
espanhola que está a residir nos Açores, e cujo trabalho já correu
países como França, Itália, Israel, Venezuela, México, Estados Unidos,
Portugal e o seu próprio país, estando neste momento em exibição na
Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada, a exposição “Isolado”.
“Estive quase 20 dias a fazer todo o concelho de Ponta Delgada num camião de lixo. Na primeira hora da manhã, antes de começarem o trabalho, fazia os retratos – dois a quatro por dia. E eles ajudavam-me como assistentes de fotografia”, conta.
“Eu aprendi imenso. Não fazia ideia, por exemplo, do esforço físico e mental que exige esta profissão”, sublinha, confessando que o que mais gosta neste projeto “é a sua humanidade”.
“Para
muitos, era a primeira vez que eram retratados de forma profissional.
Como foi o caso do Sr. João que se vai reformar em dezembro depois de
uma vida toda dedicada à limpeza de verdes. E é o caso do Sr. Adriano”,
diz a fotógrafa que conta ainda que “André sabia que ia fazer o seu
retrato naquele dia e veio com a barba feita e penteado”.
“Todos cuidavam de mim. Eles fazem pequenas pausas, e todos me convidavam, e eu partilhava com eles a pausa. E isso mudou a minha maneira de fotografá-los também. A forma como foram tão abertos de coração, comigo”, explica.
Para Andrea Santolaya, “o trabalho fotográfico é uma ferramenta social forte”. “Uso esta ferramenta para aproximar as pessoas, a realidades que, de outra maneira, se calhar não percebiam”, explica.
No Quiosque , está uma seleção de retratos de quem está por detrás do serviço de recolha de resíduos do município e de fotografias que mostram o seu trabalho; bem como informação sobre esse mesmo trabalho.
“Eu adoro a magnitude das imagens” e “a relação entre a
arquitetura, as imagens, o jardim”, diz Andrea que confessa que temia
que as fotografias fossem vandalizadas, mas que admira “o respeito” que
as pessoas têm demonstrado pelo projeto e os seus protagonistas.