Açoriano Oriental
Extrema-direita pode ser base para “entrada” de “aceleracionistas”, diz Abílio Morgado

O presidente do conselho de fiscalização dos serviços de informações alertou que há, em Portugal, “uma base de extrema-direita” para a “entrada” das ideias “aceleracionistas”, mas não existem, por enquanto, indícios dessa presença.


Autor: AO Online/ Lusa

Em declarações à Lusa, Abílio Morgado, que preside ao Conselho de Fiscalização do Sistema de Informação da República (CFSIRP), afirmou que é “muito preocupante” o crescimento do fenómeno na Europa e noutros países, e que isso deve merecer uma continuada atenção dos serviços de informações portugueses.

Esta é uma realidade que “tem de começar a ser olhada de forma muito clara, em termos quase paralelos ao jihadismo muçulmano”, dado que “em Portugal há, de facto, uma base de extrema-direita que é permeável a essas conceções” do ‘aceleracionismo’, associadas aos neonazis e extrema-direita.

Segundo um artigo do jornal britânico The Guardian, em 2017, os ‘aceleracionistas’ defendem que a tecnologia, a informática e o capitalismo devem ser “acelerados e intensificados”, o que tem vindo a ser adotado por grupos de extrema-direita e nazis como tese ou 'slogan'.

Tem havido “um aproveitamento e uma radicalização dessa ‘teoria’”, disse à Lusa Abílio Morgado, acrescentando que no relatório do conselho se faz o alerta para os riscos de "extremismos violentos" de grupos conotados com a "supremacia branca" e radicais do chamado "aceleracionismo", uma "tendência externa" que "vai ganhando evidência".

Pode ser uma “transformação num ‘slogan’”, mas traduz a tese de que é preciso um “resgate da soberania branca” através de “uma aceleração de um processo” de consolidação de “uma estrutura societária que naturalmente é de direita e é capitalista”, disse.

“Seja lá o que o que eles entendam por isso”, rematou.

Se em Portugal não existem indícios relevantes desta corrente, na Europa e nos Estados Unidos registaram-se vários incidentes e com um crescente número de atentados e mortes atribuídos a “lobos solitários”, que atuam sozinhos, ou grupos associados a ideias de extrema-direita.

Este tipo de ataques “aumentaram 320%” nos últimos cinco anos na Europa, América do Norte e Oceania e são cada vez mais letais, de acordo com o Índice de Terrorismo Global de 2019, do Instituto de Economia e Paz (IEP).

As contas do índice, revelado em fevereiro, indicam que em 2017, morreram 17 pessoas, em 2018, foram 26, e em 2019 foram 77.

Um número que surge em contraciclo com a tendência geral do índice, segundo o qual o número de mortes por terrorismo baixou pelo quarto ano consecutivo, após atingir um pico em 2014, passando de 33.555 para 15.952, em 2019.

Nos Estados Unidos, há grupos de extrema-direita, que, pelo que foi revelado pelo jornal britânico The Guardian, pretenderiam usar a pandemia de covid-19, que já matou milhares de norte-americanos, para “espalhar o caos”, cometer “atos de violência”, causar o colapso para “construir” uma “nova sociedade”, baseada na supremacia branca.

Em 04 de maio, no seu relatório anual de 2019, o conselho avisou para os riscos de "extremismos violentos" de grupos conotados com a "supremacia branca" e radicais do chamado "aceleracionismo", uma "tendência externa" que "vai ganhando evidência".

No relatório, destacam-se também as ameaças como o terrorismo, "não apenas o de matriz islamista jihadista", os extremismos, insegurança cibernética, os movimentos migratórios, as criminalidades organizadas, a espionagem, sabotagem e subversão.

Sem mais pormenores, o CFSIRP faz outra advertência quanto aos riscos do "terrorismo" de "matriz islamista jihadista", uma das "preocupações centrais dos serviços de informações portugueses, face à muito notória disseminação por novos e vastos territórios da jihad global protagonizada (em termos efetivamente operacionais ou através de processos de radicalização muito assimétricos) pela Al Qaida e pelo grupo Estado Islâmico e respetivas estruturas afiliadas".


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