Açoriano Oriental
Entre ilhas, teclas e tintas

Tânia Gaspar foi uma das artistas convidadas a expor no Outono Vivo 2019. Aperfeiçoou o traço durante os 6 meses em que viveu na tranquilidade da ilha das Flores e já pintou mais de 100 telas desde que começou a expor os seus trabalhos no Facebook e no Instagram.



Autor: Tatiana Ourique / AO Online

Tânia nasceu na Praia da Vitória, formou-se na área de Design de Comunicação - que exerce a tempo inteiro - e divide o seu tempo livre entre o ensino do piano e o desenho: “estou ligada ás artes desde pequena. Sou licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa desde 2018. Atualmente, em paralelo com o investimento na área do design a nível profissional/freelancer, tenho desenvolvido a minha marca pessoal nas belas-artes”, disse a jovem ao Açoriano Oriental.

A vida da jovem terceirense tem sido cheia de chegadas e partidas: “Saí da Terceira para estudar 4 anos em Lisboa, depois vivi seis meses na Ilha das Flores e neste momento encontro-me em S. Jorge. Em Lisboa aprendi que sou açoriana e menos não consigo ser. Nas Flores aprendi o quão interessante pode ser conhecer o vizinho, o padeiro, o pescador, a professora. Em São Jorge estou a aprender o valor da história e do passado. Mas acho que as diferenças entre as ilhas estão apenas na forma como olhamos para elas e como as vivemos. Se estivermos na Terceira e não sairmos de casa, então ela não será o parque de diversões que é”, adianta.

Tânia Gaspar Art é a sua primeira afirmação no mundo da pintura/desenho. As páginas no facebook e instagram (@tanigasparart) - que se apresentam como portfólio-  mostram os seus trabalhos e servem de plataforma de interação com o público e os potenciais clientes.

Mas os lápis e pincéis não são os seus únicos instrumentos artísticos. A música também está presente no seu percurso: “sou pianista e tenho o privilégio de dar aulas de piano a crianças. A minha ambição é dedicar-me integralmente à produção artística através do ensino e da criação de obras pessoais”.

Um ano depois de aperfeiçoar as técnicas a cidade de onde é oriunda convidou-a fazer a “Hipérboles II”, uma exposição que nasceu em 2018 com a técnica da caricatura. “O convite para a Hipérboles II surge no início do Verão, quando regresso à Terceira e por mero acaso me cruzo com o Nuno Pereira que integra a equipa do Outono Vivo. Ele já conhecia o meu trabalho, inclusive já me tinha feito uma encomenda. Parece-me que a ideia de me lançar o desafio ocorreu naquele momento. O convite oficial aconteceu mais tarde”.

Hipérboles II é uma coleção de 12 pinturas: onze retratos de escritores portugueses (Padre António Vieira, Luís de Camões, Eça de Queiroz, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Vitorino Nemésio, Alexandra O'neill, Natália Correia, José Saramago, António Lobo Antunes) e um autoretrato.

A aguarela foi a técnica escolhida pela artista: “A proposta inicial da organização seria produzir o conceito em "retrato monocromático negativo" a grafite branco sobre cartão preto. No entanto, apresentei uma contraproposta com a aguarela porque face ao tempo de produção a grafite não seria viável e, mais que isso, queria trabalhar e promover a técnica que mais tem marcado o meu percurso neste momento”.

Em menos de um mês as 12 obras estavam terminadas, sem prejudicar as encomendas que já tinha agendadas: “foi um outubro de ritmo muito intenso a conciliar o tempo de trabalho, concertos, pinturas e descanso. Fiquei a dever ao descanso mas superei as minhas expectativas e valeu muito a pena”.

A artista expôs em casa, o que tem um sabor ainda maior: “Sinto que a seriedade do meu trabalho começa a ser entendida. Além do reconhecimento e apoio do público em geral, esta exposição aproximou-me de alguns artistas. Até agora, o auge foi conhecer o senhor Manuel Martins, que e é pintor de aguarela e que a encorajou. "Com Aguarela, aqui não há ninguém que possa apontar um dedo ao teu trabalho. Isto está bom", relembra Tânia as palavras do agora amigo. “Combinámos juntar pincéis e partilhar conhecimentos”, disse a artista ao Açoriano Oriental.

Na arte do desenho a jovem praiense de 23 anos fala da sua “ascendência”: “Não posso deixar de lado a mãe grafite e o pai carvão, pois foi com eles que dei os primeiros passos e muito cresci. Porém, ao fim de algum tempo a experimentar técnicas diferentes, rendi-me ao uso da tinta e do pincel. Tenho-me entregue à liberdade e leveza que há nas aguarelas, nos acrílicos e nos óleos. Sinto que é a forma como melhor expresso a minha arte e a forma como a minha arte se mostra mais bela”.

A “veia artística” de Tânia foi herdada: “Acredito que a minha ascendência artística vem do meu tio Armando Trigueiros. Era historiador, pianista e é o responsável pelo meu culto à arte. Pela sua mão entrei no conservatório de música aos seis anos e formei-me em piano. Ao fim de alguns anos, a rigidez da música clássica e situações da vida afastaram-me da formação e comecei a viver a música em casa, com amigos, com a minha liberdade, com o piano do meu tio”.

Atualmente Tânia é teclista do grupo FADOalado, que tem percorrido várias ilhas dos Açores. Mas do seu currículo musical já contam outras experiências: “A primeira investida pública no mundo da música começou em 2012 ao lado de três amigos de infância, numa garagem de tralhas onde a vontade era aprender a tocar os grandes clássicos de rock que os nossos pais tinham nas prateleiras. Eram os Rascunho, uma banda de pequenos da Praia que faziam covers de rock antigo. Crescemos muito juntos, fomos a escola uns dos outros.
Pelo meio metia-se o grande Carnaval da Ilha Terceira onde participei vários anos, em vários grupos a tocar diversos instrumentos.
E por fim, e com mais intensidade, o grupo FADOalado”.

 O grupo começou em 2016 e cresceu depressa. É composto por cinco músicos e cinco vozes, fazem fado-canção e já contam com alguns originais.

“Tenho evoluído muito com este grupo a nível musical e pessoal. É um prazer partilhar com eles a música, o palco, a força, a paixão e a amizade”.
Com FADOalado, além de atuações pelos Açores (S.Miguel, Faial, Pico, S.Jorge, Terceira), estão agendados concertos no Continente, no Canadá e no Brasil.


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