Autor: Lusa/AO Online
Com uma agenda sobretudo bilateral, segundo fontes diplomáticas, no encontro entre a chanceler do país que mais contribui para os fundos de resgate europeus e o primeiro-ministro de um dos países resgatados não faltarão, no entanto, as grandes questões da nova arquitetura para o governo económico da zona euro.
A vertente bilateral e do governo da zona euro acabam também por se confundir, até porque se a exposição dos maiores bancos alemães à dívida soberana portuguesa é de 3,577 mil milhões de euros, segundo dados do banco central alemão e da Associação Europeia de Bancos, a exposição do Banco Central Europeu (BCE) a Portugal é de pelo menos 20 mil milhões de euros, segundo cálculos de analistas, e é à Alemanha, que tem a maioria do BCE, a quem cabe assumir a maior parte deste risco.
Quanto ao reforço dos mecanismos de governo da zona euro e às medidas de consolidação orçamental, Berlim e Lisboa andam a velocidades diferentes, desde logo no que toca aos limites constitucionais ao endividamento público.
A Alemanha já tem estes mecanismos inscritos na constituição enquanto que a posição do Governo de Lisboa é ainda esperar para ver, com Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros a dizer em meados de agosto que “o programa do Governo português é muito claro quanto à redução dos défices e à inversão da trajetória das dívidas, e o acordo político que sustenta a maioria inclui a abertura para uma discussão constitucional sobre os respetivos limites”.
Portugal "tem tido e mantém uma posição favorável a uma maior integração económica do espaço europeu", tendo em conta "que o reforço da governação económica é coerente com a união monetária", disse ainda Paulo Portas.
Já no que toca à consolidação orçamental, Lisboa adiantou-se a Berlim na taxação sobre os mais ricos. Na quarta-feira, o ministro português das Finanças anunciou uma "taxa adicional de 2,5 por cento [que] incide sobre a parcela do rendimento coletável que exceda o limite do último escalão” do imposto sobre rendimentos.
Na Alemanha, os contribuintes mais ricos pagam de imposto uma taxa máxima de 45 por cento, depois do governo anterior a Merkel ter reduzido para 42 por cento a anterior taxa máxima de 53 por cento. Um grupo de 50 alemães com altos rendimentos pediu recentemente a Merkel para aumentar os impostos sobre quem mais tem, mas a chanceler, que se saiba, ainda não respondeu.
Para além do debate sobre o futuro da zona euro, as relações bilaterais com a Alemanha são por si só de peso, até porque os alemães são dos maiores clientes e os maiores investidores em Portugal.
Em 2010, segundo estatísticas oficiais, a Alemanha surge logo a seguir a Espanha como o segundo maior cliente e o segundo maior fornecedor português.
Portugal, por outro lado, é apenas o 27.º maior cliente alemão e o 30.º maior fornecedor. Em 2010, as exportações para a Alemanha renderam 4,8 mil milhões de euros a Portugal, que gastou 7,9 mil milhões de euros em importações alemãs.
A Alemanha é também o país que mais investe em Portugal, 6,43 mil milhões de euros em 2010, mas a tendência recente tem sido de redução de investimento.