Autor: Lusa/AO Online
“Não conseguimos da parte do Governo Regional, ao longo de dois anos, na área do Turismo, uma resposta que nos permitisse avançar com esse projeto”, disse, em declarações à agência Lusa, o presidente do Cine-Clube da Ilha Terceira, Jorge Paulus Bruno.
Segundo o responsável pela organização, a mostra Cine Atlântico resulta do aproveitamento dos apoios atribuídos pela Direção Regional da Cultura para a realização de um festival internacional com competição sobre os temas mar, ilhas, viagens e aventuras.
Jorge Paulus Bruno destacou a importância dos Açores terem um festival de cinema, alegando que o evento seria um grande acontecimento, não só do ponto de vista cultural, como turístico.
“O facto de se realizar aqui um festival internacional dessa dimensão e sobre este tema trará necessariamente muitas pessoas de fora”, frisou.
O dirigente lamentou que a tutela do Turismo não tenha sido “sensível a esse desejo, que se materializou numa candidatura a incentivos para financiamento”, à qual não obteve resposta, mas disse que vai insistir no projeto.
“Não desistimos e continuaremos a tentar conseguir os recursos financeiros necessários para um projeto desta natureza, porque temos a certeza e estamos convictos de que ele tem muito valor”, frisou.
Criado em 1977, o Cine-Clube da Ilha Terceira esteve vários anos inativo, retomando a sua atividade há cerca de quatro anos.
Desde então, a organização tem apostado sobretudo em extensões de festivais, como o Cine-Eco ou o Faca, exibições de filmes ao ar livre e ciclos de cinema nacional e europeu alternativo, conquistando progressivamente cada vez mais público.
Segundo Jorge Paulus Bruno, o Cine-Atlântico dá resposta ao principal objetivo do cine-clube, que é a formação de públicos, e procura desmistificar o preconceito existente sobre o cinema nacional, numa ilha em que os filmes portugueses praticamente não são exibidos.
“As pessoas têm uma certa aversão ao cinema português. Acham que é maçador, que é um cinema só para intelectuais. Todavia, a par de produções de menor qualidade, há produções muito boas. Veja-se a quantidade de prémios internacionais que produções portuguesas têm recebido”, salientou.
O Cine-Altântico decorre de quinta-feira a domingo e presta uma homenagem ao ator Nicolau Breyner, contando com a presença de quatro realizadores em Angra do Heroísmo: Paulo Filipe Monteiro, António-Pedro Vasconcelos, Marta Pessoa e António Borges Correia.
Na quinta-feira é exibido, em estreia nacional, “Zeus”, de Paulo Filipe Monteiro, um filme sobre o escritor e ex-Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, na sexta-feira, “Yvone Kane”, de Margarida Cardoso, que joga com a memória da pós-independência, num país africano, e “Os Imortais”, de António-Pedro Vasconcelos, com Nicolau Breyner, centrado em quatro ex-comandos e nos traumas da guerra colonial.
No sábado, está programada a exibição de “Cavalo Dinheiro”, de Pedro Costa, Leopardo de Melhor Realizador, no festival de Locarno (2014), um reencontro com Ventura, o imigrante cabo-verdiano de filmes anteriores do cineasta.
No mesmo dia passam “Montanha”, primeira longa-metragem de João Salaviza, dirigida na perspetiva de um adolescente, num dado momento da sua vida, e “O Medo à Espreita”, de Marta Pessoa, documentário com a memória dos que viveram sob a ameaça dos informadores da PIDE/DGS e da sua tortura, diariamente, durante a ditadura.
O festival termina no domingo com “O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu”, de João Botelho, “Os Olhos de André”, de António Borges Correia, história de reconstrução de uma família, melhor filme português no IndieLisboa 2015, e “Cartas da Guerra”, de Ivo M. Ferreira, assente na correspondência do escritor António Lobo Antunes, com a primeira mulher, durante a Guerra Colonial.