Açoriano Oriental
Associação aplaude Plano Nacional
O presidente da associação VIME, de familiares de doentes mentais, considerou hoje "muito positivas" as mudanças previstas no Plano Nacional de Saúde Mental, que prevê a descentralização de serviços para facilitar a integração dos doentes com as famílias e comunidades.

Autor: Lusa / AO online
    "Aproximam-se tempos de mudança. Mudanças que cremos serem muito positivas para um sub-sistema de saúde que tem sido reconhecidamente negligenciado"", afirmou Manuel Viegas Abreu, catedrático jubilado da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

    O presidente da VIME - Viver Melhor, associação de familiares e amigos de pessoas com doença mental de carácter persistente, discursava na sessão de abertura do I Congresso de Reabilitação e Inclusão na Saúde Mental, que decorre até sexta-feira no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra, subordinado ao tema "O papel das famílias e das redes de apoio social".

    Viegas de Abreu referiu que "as pessoas com problemas de saúde mental, assim como as associações dos seus familiares e amigos, depositam grande esperança na concretização das propostas e recomendações aprovadas no relatório [sobre a reestruturação e desenvolvimento dos serviços de saúde mental] e no Plano Nacional de Saúde Mental recentemente aprovado".

    "Com efeito, em Portugal, a insuficiência ou, em muitos casos, a inexistência de equipamentos, estruturas e de serviços de reabilitação intermediários entre os hospitais e as famílias faz com que as pessoas com doença mental persistente sejam as mais dependentes das famílias em toda a Europa", salientou.

    Na sua perspectiva, "a exclusão a que os doentes mentais têm sido votados constitui uma perda pessoal e social de valor incalculável".

    "Importa reconhecer que a sua recuperação é possível. As pessoas com problemas de saúde mental conservam potencialidades que são desaproveitadas por falta de estruturas e serviços dedicados ao seu desenvolvimento", frisou.

    Segundo Viegas de Abreu, "a criação de centros de actividades ocupacionais e formativas diferenciadas, a constituição de equipas multidisciplinares de apoio à reabilitação psicossocial e inserção no trabalho, a construção de unidades residenciais inseridas na comunidade, de centros de formação profissional, de empresas de inserção e de postos de emprego protegidos constituem algumas das propostas para a reestruturação e desenvolvimento dos serviços de saúde mental".

    De acordo com o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, Adriano Vaz Serra, a recepção das pessoas com doença mental na comunidade "implica a organização de equipas que tomem conta dos doentes em todas as suas carências" após a desinstitucionalização.

    "O meu receio é que não se faça o investimento necessário na saúde mental para que ela possa recuperar a dignidade dos doentes", disse o catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, um dos intervenientes no congresso, à agência Lusa.

    Reestruturação dos serviços de saúde mental, inclusão social de pessoas com doença mental e importância das condições de trabalho e "Do internamento à integração na comunidade: o passado e o futuro da reabilitação", são alguns dos temas em debate no congresso.

    O Plano Nacional de Saúde Mental, até 2016, foi aprovado em Conselho de Ministros a 03 de Outubro.

    "Trata-se de um plano que demorou cerca de um ano a preparar e que terá uma aplicação transversal, envolvendo vários ministérios", disse na altura o ministro da Saúde, Correia de Campos, adiantando que a coordenação do plano caberá ao Alto Comissariado da Saúde, através de um coordenador nacional a nomear.

    Um relatório divulgado no final de Maio pela Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental (CNRSSM) propunha a desactivação de três dos seis hospitais psiquiátricos existentes e a criação de uma rede de cuidados continuados de saúde mental que acolha os doentes crónicos "num sistema mais humano e menos estigmatizante".
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