Açoriano Oriental
Apenas 6 em 35 marcas de roupa têm iniciativas de recolha para reciclagem, diz Zero

A associação ambientalista Zero indicou hoje que apenas seis, de 35 marcas de roupa avaliadas, estão a assumir parcialmente a sua responsabilidade na geração de resíduos têxteis, apelando para o alargamento urgente da responsabilidade do produtor neste setor.

Apenas 6 em 35 marcas de roupa têm iniciativas de recolha para reciclagem, diz Zero

Autor: Lusa /AO Online

Estes são os resultados de uma análise que a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável efetuou às lojas ‘online’ de 35 grandes marcas de roupa, no âmbito da semana europeia da prevenção de resíduos, dedicada ao tema do têxteis, que revelou que apenas seis marcas (17%) referem ter iniciativas de recolha para reciclagem.

Em comunicado, os ambientalistas sublinham que “ainda que a reciclagem esteja longe de ser a principal solução para este setor, é preocupante ver como a maioria das marcas não assume ainda a sua quota-parte de responsabilidade pela gestão deste fluxo de resíduos que, só nos resíduos urbanos, representa 3,45% do total de resíduos recolhidos”.

Segundo o Relatório Anual de Resíduos Urbanos, em 2021 foram recolhidas 176.400 toneladas de resíduos têxteis pelos sistemas de gestão de resíduos urbanos.

“Este é um valor preocupante, mas representa apenas uma parte do problema, pois não estão aqui contabilizados os têxteis recolhidos de forma seletiva por entidades sem fins lucrativos”, considera a associação.

A Zero considera urgente aplicar uma abordagem adequada da responsabilidade alargada do produtor (RAP) ao setor dos têxteis, de forma a garantir que “é quem coloca o produto no mercado que financia o sistema de encaminhamento e tratamento dos resíduos quando estes chegam ao fim da sua vida”.

“Contudo, não podemos ter uma RAP assente apenas em ‘pagar para poluir’. É fundamental que o foco seja na redução da produção, no incentivo a têxteis duráveis/reutilizáveis/reparáveis e na garantia de que a sua produção é feita a pensar também na sua reciclagem em ‘upcycling’, ou seja, fibra reciclada que possa ser usada para fazer novos têxteis”, salientou.

Atendendo a que a recolha seletiva de têxteis usados passará a ser obrigatória em 2025 em toda a União Europeia, e que “esta recolha só faz sentido no âmbito da aplicação da responsabilidade alargada do produtor, é urgente garantir o enquadramento legal que permita tornar o setor circular”, defende a Zero.

De modo a conseguir alterar o paradigma de produção e consumo e aumentar reutilização e a reciclagem no setor dos têxteis, a Zero defende como fundamental estabelecer objetivos claros de redução, reutilização e reciclagem, autónomos entre si; medidas (como a ecomodulação) que desincentivem financeiramente a produção em quantidade, a baixa qualidade e a difícil reciclabilidade; critérios mínimos de durabilidade, reparabilidade e reciclabilidade, que, se não forem respeitados, impeçam o produto têxtil de ser comercializado.

A Zero preconiza ainda a fixação de percentagens de alocação de parte do ecovalor à reutilização de têxteis, a criação de uma boa rede de recolha, a reciclagem em sistema fechado (fibra para fibra), triagem prévia à exportação de têxteis, transparência nos processos, e acesso do setor social à roupa em segunda mão.

Segundo dados europeus são produzidas 5,8 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano na União Europeia (UE), o que corresponde a cerca de 11 kg por pessoa/ano.

Segunda a caracterização de resíduos de Portugal Continental, os têxteis representam 3,45% dos resíduos urbanos e, tendo por base os dados do último Relatório anual de Resíduos Urbanos (RARU 2021), só nesse ano foram recolhidas 176.400 toneladas deste tipo de resíduos.

A nível europeu, o setor dos têxteis é o 4.º com maior impacte no ambiente e nas alterações climáticas e o 3.º com maior uso de recursos hídricos e solo.

“É importante ter presente que 80% dos impactos ocorrem fora do espaço da UE. Assenta, cada vez mais em fontes não renováveis – como o poliéster que é um recurso fóssil – e é uma das grandes fontes de libertação de microfibras (fibras sintéticas) ”, destaca a associação, apelando para um uso consciente dos têxteis, reduzindo a compra, maximizando o uso, doando, trocando ou vendendo, e sempre preferindo materiais o mais renováveis possível.


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