Açoriano Oriental
Rua em Londres pavimentada com mármore português

Uma rua pavimentada com mármore alentejano, no âmbito de uma intervenção urbana, foi inaugurada esta quarta feira em Londres, com o objetivo de promover o uso de matéria-prima considerada excedentária e também de dar visibilidade à indústria portuguesa.

Rua em Londres pavimentada com mármore português

Autor: Lusa/Ao online

A intervenção, descrita como "um tapete de mármore reciclado", foi feita com excedente da pedra que é rejeitada por empreiteiros, arquitetos e designers devido a falhas, descoloração ou imperfeições e que normalmente é enviado para escombreiras, os aterros das pedreiras.

O projeto foi desenvolvido pelo designer Michael Anastassiades para o programa Primeira Pedra, da Associação Portuguesa dos Industriais dos Mármores, Granitos e Ramos Afins (ASSIMAGRA), e a associação cultural experimentadesign, em parceria com o Festival de Design de Londres.

Enquanto que normalmente o Festival faz intervenções temporárias junto de locais emblemáticos da capital britânica, esta é a primeira vez que é realizada uma obra com carácter permanente, adiantou à agência Lusa o diretor do evento, Ben Evans.

"É uma forma de contribuir para a comunidade e tornar distintiva uma área que não é uma parte nobre da cidade, dando um motivo de orgulho aos moradores, e, ao mesmo tempo, celebrar o mármore e mudar a perceção de que aquele que não é usado não tem qualidade", vincou.

Mint Street é uma pequena rua no município de Southwark, no sul de Londres, numa área bastante pobre ao longo de vários séculos, onde viveu o escritor Charles Dickens, mas que está a ser alvo de uma regeneração urbana, protegendo os edifícios históricos típicos da era vitoriana, do final do século XIX.

O bairro foi sugerido por Anastassiades, designer cipriota conhecido pelo trabalho em mobiliário, iluminação e joalharia, que vive perto e que valorizou o facto de a rua ser uma das vias de entrada para um parque público.

Na obra foram usadas 40 toneladas de mármore em vários tons de rosa e azul, transportados em dois camiões a partir de Estremoz, no Alentejo.

Guta Moura Guedes, presidente da experimentadesign, que desenvolveu o projeto em parceria com o Festival do Design de Londres, destacou a mensagem transmitida da importância da economia circular e da colaboração entre indústria e designers.

"No fundo, este mármore é tão bom como o mármore que classificamos como sendo de maior qualidade para o mercado, são apenas os requisitos de quem o compra que o tornam mais ou menos importante. A criatividade permite uma reutilização de um material que, se não fosse assim, não seria utilizado e seria perdido".

Miguel Goulão, presidente da ASSIMAGRA, espera que esta intervenção aumente a visibilidade da rocha ornamental portuguesa, cuja indústria representa um volume de negócios anual de 1,2 mil milhões de euros e exportações de 350 milhões de euros, dos quais 21 milhões de euros para o Reino Unido.

"Quando conseguimos que estes grandes designers e arquitetos que trabalharam connosco no projeto Primeira Pedra se despertem para o interesse daquilo que é o nosso produto, estas coisas podem acontecer. E, no futuro, não tenho a menor dúvida de que elas acontecerão em muito maior escala, porque isto é dar a visibilidade que a nossa pedra merece e já merecia há muito tempo", defendeu.

O Primeira Pedra é um programa internacional desenvolvido desde 2016 pela experimentadesign, cofinanciado pela União Europeia e enquadrado no PORTUGAL 2020, que explora o potencial da pedra portuguesa associando a indústria ao design através do desenvolvimento de utilizações inovadoras da matéria-prima.

Michael Anastassiades já tinha colaborado anteriormente com a experimentadesign numa outra iniciativa que mobilizou arquitetos e designers nacionais e internacionais, como os britânicos Peter Saville e Jasper Morrison, os portugueses Eduardo Souto de Moura, Paulo David, Miguel Vieira Baptista e Jorge Silva, o chileno Elemental e a dupla austríaca e norte-americana Sagmeister & Walsh, a produzir peças com calcário e mármore portugueses.

Vinte destas peças estiveram na exposição "Set In Stone", no Museu do Design de Londres, em 2017, no âmbito do Festival de Design de Londres, e foram expostas em Veneza, Milão, Weil am Rhein (Alemanha) e São Paulo.

Para 2019 e 2020, estão previstas novas ações da iniciativa Primeira Pedra, que vão também associar artistas plásticos e cujo resultado será apresentado em Veneza, Paris e EUA, culminando numa exposição retrospetiva, em Lisboa, de todos os projetos e peças desenvolvidas desde o lançamento.


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