Açoriano Oriental
Brasil espera eleição menos polarizada, mas campanhas mais agressivas

O analista Paulo Baía considera que o ano de 2022 no Brasil será marcado por eleições presidenciais menos polarizadas face às de 2018, que dividiram o país entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, mas terá campanhas eleitorais mais agressivas.

Brasil espera eleição menos polarizada, mas campanhas mais agressivas

Autor: Lusa/AO Online

Em declarações à Lusa, o analista político brasileiro disse acreditar que a aprovação da lei que permite a formação de federações partidárias e o surgimento de nomes fortes na corrida eleitoral, como do ex-juiz Sergio Moro, farão com que a polarização seja menor no próximo ano, apesar do favoritismo do atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e do antigo chefe de Estado Lula da Silva, apontados como futuros candidatos presidenciais.

"A campanha de 2022 com certeza será mais equilibrada do que em 2018. Teremos uma campanha muito agressiva, mas em que o cenário é diferente do de 2018. Toda a deceção da população brasileira, o apoio à Lava Jato, a questão do 'anti-petismo' [anti Partido dos Trabalhadores] com o Lula preso, foi tudo concentrado em Bolsonaro em 2018", analisou Baía, indicando que no próximo ano o cenário será mais plural.

"Agora vamos ter Sergio Moro candidato, num momento em que é acusado de ser um juiz parcial, manipulador, que teve todos os seus atos anulados. Vamos ter uma campanha contra Bolsonaro em função da política económica e da questão da pandemia, e uma campanha contra o Lula em que os seus adversários vão levantar a questão da corrupção", afirmou.

Segundo Baía, também a federação de partidos, um bloco partidário que se forma para participar na eleição e que tem a obrigação de permanecer junto até ao final da legislatura, terá um impacto significativo, "uma vez que formada essa federação para concorrer nos sufrágios de 2022, esse grupo torna-se um partido federado que vai até 2026".

"Essa questão da federação partidária avança a passos largos agora neste final de 2021 e início de 2022. Vimos uma movimentação grande feita pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Certamente funcionará como polo aglutinador para formar a maior bancada de deputados federais, o que era um projeto do PT, e que agora se amplia", disse.

"Esta é uma questão que merece atenção porque as federações partidárias visam já o desenho do jogo parlamentar na Câmara dos Deputados e nas casas legislativas, mas também estão atreladas a campanhas de governador em cada estado", acrescentou o politólogo.

Apesar de Luiz Inácio Lula da Silva ainda não ter confirmado a sua candidatura, ele lidera as sondagens sobre as presidenciais de outubro de 2022.

De acordo com Paulo Baía, que é também sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as últimas sondagens mostram uma adesão muito forte do eleitor à candidatura de Lula da Silva e uma candidatura consolidada de Bolsonaro, posicionado em segundo lugar.

Contudo, segundo o politólogo, a entrada de Sergio Moro na corrida eleitoral "abala o sistema de competição, aparecendo já em terceiro lugar, mas faltando-lhe força para enfrentar Bolsonaro e tirá-lo da segunda volta".

Para Baía, será fundamental para Lula conseguir que o ex-candidato presidencial e antigo governador de São Paulo Geraldo Alckmin aceite ser seu vice-presidente, porque conseguirá atrair uma parcela de eleitores que votou em Bolsonaro e que se arrependeu: "Outra parcela irá para o Moro, mas a desmoralização da Lava Jato é muito grande", salientou.

Em relação à pandemia de covid-19 em 2022, que até ao momento já causou mais de 616 mil mortes e 22 milhões de infeções no Brasil, o professor universitário acredita que a postura do Governo não mudará e o negacionismo do chefe de Estado irá permanecer.

Já no campo económico, o economista brasileiro Alexandre Schwartsman assumiu, em declarações à agência Lusa, ter "uma perspetiva ruim para o ano que vem".

Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central do Brasil, apontou que a economia do país deverá entrar numa nova recessão, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5% em 2022.

"Por enquanto, a projeção é de -0,5%, muito por força da perceção de que a economia hoje já está praticamente estagnada e também por força do aumento da taxa real de juros, que já subiu para o redor de 6%. Temos uma taxa de juros muito alta, que deve ter impacto no crescimento a partir do primeiro para o segundo trimestre do ano que vem", declarou.

Do ponto de vista de inflação, o analista disse estar um pouco mais pessimista do que o consenso de mercado, que tem uma visão de inflação na casa dos 5%.

"Tenho uma projeção de inflação para 2022 mais perto de 5,5%. Não é muito pior, mas é pior, e bem acima da meta, acima inclusive do limite superior do intervalo de tolerância para a meta de inflação", frisou.

Também o desemprego deverá subir no próximo ano. Na média de 2021, o desemprego deverá fixar-se em torno de 13% e, no ano que vem, deverá ficar mais perto de 14%, segundo projeções de Schwartsman.

O ex-diretor do Banco Central admite que 2022 será um ano de "muita turbulência" no Brasil devido às eleições, mas sublinhou que os brasileiros "não vão eleger ninguém que vá ter uma postura muito favorável à continuidade de reformas".

"Entre os candidatos que parecem capazes de serem eleitos, acho que nenhum deles terá comprado essa ideia de que se precisa de fazer reformas profundas para o país voltar a crescer", afirmou.

Alexandre Schwartsman recordou que as privatizações, um dos principais projetos económicos do ministro da Economia, Paulo Guedes, não avançaram nos primeiros três anos de Governo, e que 2022 não será exceção.

"Não aconteceu nada nos últimos anos e não vai acontecer nada em 2022. Nada de relevante será privatizado. As promessas de privatizações foram um completo desastre. (...) Não se mexeu na Eletrobras, nos Correios, no que realmente interessa, como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Económica", elencou.

"Por mais que o Governo fale que faltam condições políticas, a grande verdade é que em momento algum se cogitou a sério levar isso adiante. O Paulo Guedes fala e ninguém leva a sério e muito menos o Presidente da República", concluiu Schwartsman.


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