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Melo Abreu: Há 131 anos a brindar aos Açores

A Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo Abreu mantém-se como a produtora de bebidas mais icónica no arquipélago



Autor: Made in Açores

Falar de refrigerantes é, para a maioria dos portugueses, trazer à memória tardes de praia, churrascos, sol e calor, “patrocinados por uma bebida qualquer”, como ouvimos todos os Verões cantar os Fúria do Açúcar. A doçura faz parte desta história, mas ela está longe de ser acerca de umas bebidas quaisquer, ou não fosse uma delas chamada Especial.


“Quando se fala em Melo Abreu, inquestionavelmente, as pessoas pensam em cerveja Especial, mas não é o nosso único produto estrela”, garante Margarida Cristino, chefe de produção.


Recorda um dos momentos em que se apercebeu da importância do que se faz na fábrica para os açorianos. Aconteceu quando recebeu a diretora comercial da Coca Cola Ibéria, uma visita no contexto de uma das auditorias anuais a que a Melo Abreu era sujeita na altura em que engarrafava os produtos da multinacional. Margarida lembra-se com clareza da questão que a diretora trazia preparada.


“A primeira coisa que ela perguntou, sentada aqui nesta mesa, foi o que era exatamente a Laranjada e como é que, em São Miguel, ela vendia mais do que a Coca Cola”, descreve.


Apesar de as vendas da multinacional já terem ultrapassado a força regional, a Laranjada continua a ser o artigo que regista o maior volume de vendas da fábrica, um fenómeno com um segredo ainda mais bem guardado que o da icónica Coca Cola.


Margarida revela apenas que é essencial respeitar as etapas do processo de fabrico com rigor e garantir a qualidade da matéria prima. “Só assim é que se mantém o sucesso do produto ao longo de tantos anos”, assegura.


Foram vários os sabores que passaram pelas prateleiras e balcões com o rótulo Melo Abreu, mas há 131 anos, quando tudo começou, havia algo bem mais simples a representar grande parte do volume de vendas da fábrica: o gelo. Margarida explica que a procura elevada se devia, muito provavelmente, à escassez de energia elétrica e dificuldade em conservar alimentos nos finais do século XIX, quando a fábrica abriu.


Se algo que hoje é tão simples, como conservar alimentos, era um desafio na época, abrir uma fábrica de cervejas e refrigerantes era ainda mais. Um dos maiores entraves ao arranque era conseguir arranjar mão de obra qualificada. Para garantir a qualidade do produto, João de Melo Abreu fez questão de juntar especialistas de vários países onde há tradição no fabrico de cervejas, como a Bélgica e a Alemanha, e trazê-los para os Açores. Mudados de malas e bagagens com as suas famílias, foram eles que ajudaram a abrir a fábrica e depois também a mantê-la. Muitos dos seus descendentes ainda cá moram, conta Margarida.


“O sr João de Melo Abreu teve visão ao trazer os melhores equipamentos e os melhores técnicos para os trabalhar. Tinha tudo para começar bem”, garante, dirigindo o olhar para o retrato do fundador que permanece na sala de reuniões.


Para Margarida, os trabalhadores tiveram grande importância para o sucesso da fábrica no seu arranque e continuam a tê-la na atualidade. “Pela minha experiência na Melo Abreu ao longo destes 26 anos, o segredo da longevidade da empresa são as pessoas. Grandes produtos e grandes marcas ajudam, mas não se fazem sem as pessoas. O mais importante é a equipa e a resiliência que tem mostrado ao longo destes anos, apesar das dificuldades”.


Neste ciclo de altos e baixos, o desafio mais recente foi trazido pela pandemia. Apesar de o maior volume de vendas da empresa estar dirigida ao canal alimentar, nomeadamente supermercados, o fecho de hotéis e restaurantes abrandou grande parte da produção da fábrica. Contudo, como explica Margarida, o processo nunca parou. “A cerveja é fabricada com recurso à levedura, que é um mecanismo vivo e que não pode ser deixado morrer. Isso significa que tínhamos de estar sempre a produzir, mesmo que nos mínimos. Se deixássemos de laborar a 100%, o recomeço era muito mais difícil”, explica.


Ultrapassada esta fase, a fábrica retomou a sua atividade em pleno e com uma procura crescente dos seus vários artigos além Açores. “Os consumidores de Portugal Continental são dos que mais pedem os nossos produtos. Já perdi a conta das mensagens que recebi a pedir Kima Maracujá, Especial e Laranjada”, confessa Nicole Raposo, responsável pelo Marketing da empresa. “Vêm aqui de férias, provam e gostam. Muitas vezes, quando voltam a casa, procuram lá e não encontram. Ainda não conseguimos fazê-lo, mas isso não quer dizer que, um dia, não se chegue lá”, acrescenta Margarida.


Atualmente, os produtos Melo Abreu estão apenas em lojas de especialidade em Portugal Continental, nos Estados Unidos e no Canadá. Embora a procura venha de cada vez mais pontos do mundo, a exportação continua a não ser rentável.


Mais de um século depois, a insularidade continua a revelar-se um desafio sobretudo no que diz respeito aos transportes marítimos, pelos custos elevados que acarretam e os constrangimentos que provocam atrasos ou mesmo cancelamentos na entrega da mercadoria como os principais responsáveis, sublinha Margarida. “Calculo que isto não se sinta apenas nos Açores mas em todas as ilhas que dependam quase exclusivamente de transportes marítimos. Condiciona muito a atividade industrial e é um desafio gigante mudar isso”, afirma.


Isso não os impede de sonhar mais alto e de querer continuar a inovar, sempre com o respeito à tradição e às expetativas dos consumidores. Nicole adianta que este ano, à semelhança de 2023, já estão a ser preparados os rótulos natalícios. Margarida adianta ainda o que o novo ano poderá trazer: “Temos estado em conversações e pode ser que surja alguma novidade, quer em termos de diversificação dos sabores, quer outra gama de refrigerantes paralela à que temos”. No ar fica a curiosidade e nos copos o sabor único das bebidas Melo Abreu, que prometem manter o seu especial cunho açoriano.

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