Açoriano Oriental
IPMA quer conhecer a fundo atividade da "pequena pesca" para gerir melhor recursos naturais

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera já monitoriza em tempo real toda a frota portuguesa de apanha de bivalves, mas quer alargar o projeto a mais atividades pesqueiras, para gerir melhor os recursos naturais.

IPMA quer conhecer a fundo atividade da "pequena pesca" para gerir melhor recursos naturais

Autor: Lusa /AO Online

A intenção é conhecer a fundo a atividade da denominada "pequena pesca”, feita por embarcações com menos de 12 metros, que representam “80% da frota nacional” e da qual pouco se sabe, disse à Lusa o coordenador do projeto Montereal, Miguel Gaspar, adiantando que se trata de "informação essencial para gerir não só a frota, mas também os recursos e todo o ecossistema”.

O projeto Montereal (acrónimo para monitorização em tempo real) teve início há cerca de 10 anos e pretende colmatar a falta de informação sobre os locais onde operam as pequenas embarcações, sobre os seus principais pesqueiros e saber como se distribui em termos espaciais e temporais o esforço de pesca, com custo zero para os pescadores.

A bordo das embarcações foi colocado equipamento que reporta a sua localização a cada 30 segundos e transmite também informação que, "através de algoritmos desenvolvidos pelos investigadores", permite criar padrões de caracterização da atividade em curso.

Se a informação sobre localização permite saber onde a embarcação está a pescar, "o padrão de velocidade da embarcação permite aferir qual a arte de pesca que está a ser usada, uma vez que algumas embarcações podem operar várias artes ao longo do ano”, disse Miguel Gaspar, adiantando que a informação transmitida permite igualmente saber se as embarcações estão a 'calar' (lançar artes de pesca) ou a 'alar' (recolher para bordo).

Neste momento o projeto Montereal monitoriza, 83 embarcações da frota da ganchorra - arte utilizada na captura de bivalves - entre Vila Real de Santo António e Matosinhos, no que se tornou uma obrigatoriedade legal desde 2015, com as associações de pescadores a assumirem o pagamento das comunicações.

Miguel Gaspar disse que os equipamentos de monitorização foram colocados a bordo inicialmente apenas para “fins científicos”, mas “com o tempo os pescadores entenderam quão benéficos poderiam ser para proteger o bem de todos e querem agora que sejam usados para controlo, obrigando todos a respeitarem as regras”.

O investigador do IPMA avançou que “mais 200 aparelhos devem ser colocados em breve em outras artes de pesca pelo país e dentro de dois anos em mais 300 a 400 embarcações, o que vai permitir conhecer o padrão de atividade de várias artes de pesca, sem ter de cobrir todos os 3.000 barcos da pequena pesca".

A informação recolhida diariamente da frota da ganchorra já permitiu elaborar mapas de “distribuição do esforço de pesca”.

“Conseguimos relacionar essa informação com as espécies que estão a pescar, ao cruzarmos com as descargas em lota e com isso identificar os bancos que (os pescadores) foram explorando ao longo do tempo”, explicou o biólogo.

Com quase uma década de dados recolhidos, Miguel Gaspar disse que os investigadores já sabem que, das quatro espécies com valor comercial, “o lingueirão é a que leva mais tempo a recuperar devido à fragilidade da concha”, tendo os bancos de pesca “sido esgotados em 1996“ e só agora “a recuperar para níveis que podem vir a ser explorados novamente”.

As outras espécies comerciais de bivalves - conquilha, ameijoa branca e ameijoa pé-de-burrinho – “recuperam facilmente de um ano para o outro, já que efetuam desovas muito grandes”, podendo, no entanto, haver “flutuações naturais” em alguns anos, disse.

Miguel Gaspar destacou que o projeto permite ainda tirar ilações sobre "zonas onde houve pesca e depois deixou de haver, significando que o banco (pesqueiro) deixou de ter uma abundância que justifique a atividade. Se no ano seguinte os pescadores voltarem significa que ao fim de um ano o banco recuperou”, realçou.

As campanhas de pesca anuais de monitorização dos bancos de bivalves realizadas pelo IPMA permitem “validar os dados” e saber “o que há, onde há e relacionar com o esforço de pesca”, conhecimento que o projeto Montereal pretende agora alargar a outros tipos de pesca, concluiu.


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