Açoriano Oriental
Cerca de mil pessoas em Lisboa exigem política de defesa da floresta

Cerca de um milhar de pessoas manifestou-se hoje na Praça do Comércio em Lisboa, para exigir uma política de defesa da floresta e mais meios de proteção em casos de incêndio.

Cerca de mil pessoas em Lisboa exigem política de defesa da floresta

Autor: AO/Lusa


Várias pessoas empunhavam bandeiras nacionais e cartazes com palavras de ordem como “Quem lucra com os incêndios”, “Incêndios já basta”, “Eucaliptização/combustão” e “Exigimos responsabilidades” e “Exigimos proteção”.

Vários manifestantes envolveram-se em cenas de pancadaria, junto à estátua do rei D. José, quando um grupo tentou desenrolar uma fixa onde se podia ler “Governo PS, PSD/CDS: Culpados”.

“A agressão surgiu porque quando nós abrimos a faixa, logo uma pessoa começou a dizer ‘olha PSD/CDS não’, e juntaram mais três e mais cinco e mais dez, e os ânimos exaltaram-se e começaram à porrada”, contou Pedro Fortunato, um dos manifestantes, que acrescentou que um amigo seu foi deitado ao chão a ser “pontapeado e a levar socos”.

A pronta intervenção dos agentes da PSP pôs fim aos distúrbios e a manifestação prosseguiu de forma calma, com alguns dos participantes transportando retratos de algumas das vítimas dos incêndios.

“Estamos todos tranquilos, e no resto do país a mensagem é a mesma, queremos que as coisas mudem, que tragédias como estas não se repitam”, disse o humorista Rui Maria Pedo, um dos promotores da iniciativa, que acrescentou: “Provou-se que os cidadãos estão unidos”.

“Este é um passo, a história é longa, é um despertar de consciência e a prova de que a sociedade civil está atenta. [Esta manifestação é]Um momento, esperemos, do início de uma rutura com o passado, em que as pessoas não se preocupam, e que todos somos responsáveis de alguma maneira, todos os governos, todas as entidades”, disse Pego.

Cristina Vale, que não foi afetada, nem a família, pelos incêndios fez questão de estar presente por “ser uma manifestação apartidária” e por exigir “um país que nos respeite e nos proteja”.

“Foi por isso que lutámos uma vida inteira. Prendam quem faz mal e atuem o mais depressa possível”, disse.

Carolina Covelos, que também não foi afetada diretamente pelos incêndios, disse por seu turno, que “todos os portugueses deviam estar presentes, não como obrigação, mas pelo país”.

“As pessoas que morreram os animais que sofreram, as casa que foram perdidas, os terrenos que foram destruídos”, disse Cristina Covelos que chamou a atenção para o aumento da produção da celulose, e com isso o aumento de plantação e eucaliptos, “que são as árvores que mais secam e destroem as áreas à volta”, no distrito de Castelo Branco, que lamentou a destruição de mais de metade do pinhal de Leiria.

Em solidariedade com o pinhal de Leiria, outro manifestante, Valentim Rodrigues, empunhava uma bandeira branca com brasão real de Portugal.

Uma solidariedade não só com o pinhal de Leiria, mas também “relembrar o importante que foi a política do rei D. Dinis, no incentivo à ocupação dos campos, tendo isentado de impostos durante 20 anos todas as pessoas que ocupassem e trabalhassem os campos”.

A sua participação nesta ação visou “chamar a atenção para o problema das vítimas dos incêndios, da incúria que houve na prevenção dos incêndios, e também para a necessidade de as pessoas voltarem aos campos, e trabalhar-se para a reflorestação e ocupação dos campos”.

Valentim Rodrigues afirmou que será difícil mudar as mentalidades, “pois esta é uma política que está a ser seguida há quase 200 anos”, mas espera que se volte aso campos e à floresta.

Hoje em todo o país decorreram várias manifestações contra os incêndios e as políticas florestais, mas também de homenagem às vítimas dos fogos, iniciativas organizadas nas redes sociais e por grupos de cidadãos.

A maioria dos eventos foi convocada através das redes sociais em pelo menos dez distritos do país: Lisboa, Porto, Aveiro, Viseu, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Braga, Guarda e Bragança.

“Manifestação silenciosa: Portugal contra os incêndios” é a designação da ação que decorreu na Praça do Comércio, exigindo um planeamento de defesa e proteção florestal e para que as medidas de prevenção de combate a incêndios sejam realmente executadas.

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo último, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 44 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois de Pedrógão Grande, em junho deste ano, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.

 



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