Açoriano Oriental
Desfrute do maior concelho dos Açores em ‘regime de exclusividade’

A redução do fluxo turístico tem permitido uma menor sobrelotação de muitos locais de recreio e lazer, favorecendo um maior e melhor usufruto dos mesmos. Uma vantagem que pode servir residentes mas também forasteiros, num pontapé de saída para a retoma


Autor: Concelho@concelho

Apesar de ser a principal porta de entrada nos Açores, não existem, de momento, razões para elevar os receios de uma visita a Ponta Delgada, seja residente, seja forasteiro. No caso de ser visitante, irá perceber logo à chegada ao aeroporto que há uma estrutura montada pela Autoridade Regional de Saúde capaz de detetar eventuais focos de contágio por Covid 19, já para não falar na resposta médica pronta, por força da proximidade daquele que é o maior hospital da região. Depois, há todo o trabalho que tem vindo a ser feito por entidades públicas e privadas no sentido de garantir segurança, com a disponibilização de desinfetantes, medidas de distanciamento e outros requisitos que a atual situação pandémica exige. Há, de facto, sinais na cidade e pelas restantes freguesias do concelho que a ‘lição’ da prevenção está aprendida e, se todos fizerem a sua parte, lá diz o povo, ‘pés ao caminho que há muito que aproveitar”. E verdade seja dita, o facto de a retoma turística ainda ser tímida, pode servir de argumento para que os filhos da terra usufruam em maior acalmia de alguns dos muitos locais de encanto dos Açores… E quem diz os residentes, diz também os forasteiros, este ano com menos dores de cabeça para estacionar ou reservar uma mesa no restaurante. E é precisamente pelos sabores que começa a nossa viagem.

Sabores regionais para todos os gostos
Nesta altura, a grande maioria da restauração do concelho já abriu portas e mais do que nunca está empenhada em fazer a diferença, já que os lugares disponíveis são menos e, por conseguinte, os clientes também. Desde o peixe fresco à carne, as opções de restauração são cada vez mais, ao gosto e à medida de cada carteira. Pelas freguesias mais rurais, também encontra espaços com algumas das mais típicas iguarias, como é o caso da carne guisada, do debulho ou do polvo que, para os lados dos Mosteiros, tem receita especial. Se for ao jantar, ainda consegue como bónus um pôr-do-sol que lhe ficará na memória. O que também não pode faltar, até porque é tempo delas, são umas boas lapas ou umas cracas. De sugestão, para sobremesa, o genuíno ananás de São Miguel, cujas estufas podem ser visitadas, para revisitar a história e a cultura deste que se tornou um dos maiores embaixadores do concelho. Se é mais de doces, recomendamos as “esperanças”, um doce conventual que foi vencedor dos Açores para estar presentes na Final das 7 Maravilhas Doces de Portugal.

Depois do paladar, o encanto dos olhos…
E por falar em maravilhas, há no concelho mais uma que, por estes dias, está ao seu dispor como em outros tempos: tranquila, sem aglomerados… Falamos da Lagoa das Sete Cidades, eleita uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal. Pelas suas margens, pode estender uma manta, fazer um piquenique e desfrutar do som dos pássaros ou, se for mais aventureiro, alugar uma canoa ou uma prancha e fazer-se à água, numa experiência única de comunhão com a natureza no seu estado mais puro. Mas, se quiser, descobrir outros encantos mais recônditos, fica a sugestão da visita à Lagoa das Empadadas, formada por duas massas de água e circundada por uma verdejante mata de criptoméria. É, segundo muitos, uma das “lagoas secretas” de São Miguel. E da terra para mais perto do mar, outra sugestão para um trilho um pouco mais exigente mas altamente compensador, não só pelo enquadramento paisagístico mas, sobretudo pela ambiência: a Rocha da Relva. É uma das poucas fajãs detríticas da ilha. Para além de zona de veraneio, devido ao microclima que favorece o desenvolvimento das vinhas e outros produtos hortícolas, pode ir degustando alguma da fruta que vai encontrando ravina abaixo. Encontra ainda fontanários, uma zona de repouso e um altar em honra de Nossa Senhora dos Anjos. É apenas um dos muitos trilhos homologados que vai encontrar pelo concelho.

Ver a ilha a partir do mar…
A encosta do concelho de Ponta Delgada, sobretudo a virada a norte, é merecedora de contemplação. Pode sair, por exemplo, do porto de Capelas para um passeio de barco que jamais apagará da memória. Navegando em águas cristalinas, pode ver grutas e até entrar em algumas. Não se admire se durante o passeio for brindado pelo cumprimento de algum golfinho. Há também quem se aventure num mergulho ou na pesca. Certamente, não sairá desta aventura sem ter noção do quanto a caça à baleia marcou a história nesta terra. Aliás, o testemunho disso mesmo está eternizado num monumento no coração da freguesia. Hoje, a realidade é bem diferente, a ânsia de ir ao encontro de uma baleia é simplesmente para a contemplar, assim como outros cetáceos que se fazem presentes nos passeios de quem se aventura nas águas que banham os Açores.

Ida a banhos… o difícil é escolher
É o imperativo da época: um banho revigorante, no mar, mas não só. Para já, por força da pandemia, as Termas da Ferraria encontram-se encerradas mas a natureza é sábia e contorna as atuais contingências, proporcionando uma experiência de termalismo em pleno mar. Basta apenas dirigir-se à piscina natural, onde desagua uma nascente termal. Se gosta de temperaturas mais altas, apareça por hora de maré baixa. E por falar em piscinas naturais, tem outras opções igualmente agradáveis, embora desprovidas de “aquecimento termal”. É o caso dos Poços de São Vicente Ferreira, do chamado “pesqueiro”, junto às Portas do Mar e, mesmo ao lado, o complexo de piscinas de São Pedro. Já para os amantes da areia, as opções mais próximas da cidade são o Pópulo e as Milícias. Ainda assim, é cada vez mais procurada a praia dos Mosteiros, na freguesia com o mesmo nome.

Cultura e tradições… em tempo de pandemia
Não fosse o atual contexto e este mês Ponta Delgada tinha assistido a mais uma edição das Grandes Festas do Espírito Santo, festividade promovida pela autarquia com a colaboração das mordomias das 24 freguesias do concelho. Um dos momentos altos era a distribuição das tradicionais sopas, que chegam a reunir à mesa no Campo de São Francisco mais de 14 mil pessoas. Moldura humana que, depois, se concentrava pela avenida marginal para ver passar o cortejo etnográfico. Entre a homenagem ao Divino e os retratos das vivências populares de cada freguesia, o momento servia como uma montra da cultura do concelho. Ao longo dos anos, para além da massa sovada, tornou-se habitual a oferta a quem assistia de outros petiscos típicos de cada localidade. No domingo, havia o tradicional bodo de leite e a Coroação. Ainda assim, para que não fosse esquecida a data em que se celebraria aquela que é a maior manifestação cultural dos Açores, a autarquia de decidiu montar um quarto do Espírito Santo no exterior dos Paços do Concelho, bem como ornamentar as Portas da Cidade e distribuir pensões a instituições de solidariedade social. Outro evento que, por força da pandemia, não se vai realizar, é a PDL White Ocean, mais conhecida como “festa branca”. À semelhança das Grandes Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada, este é já um dos maiores cartazes turísticos do concelho no Verão. Só para se ter uma ideia, na edição do ano passado, estima-se que tenham estado no coração de Ponta Delgada cerca de 50 mil pessoas, num evento que envolveu dezenas de pontos de animação e os agentes económicos locais.

Bailes do Coliseu ainda foram a tempo
Por pouco, escapou à onda de cancelamentos, outro dos mais emblemáticos eventos de Ponta Delgada: os bailes de Carnaval no Coliseu Micaelense. De resto, desde festivais de música aos impérios e mordomias do Espírito Santo, tudo foi condicionado pelas restrições impostas pela pandemia. Em algumas freguesias, não se deixaram de realizar as cerimónias religiosas inerentes ao culto do Espírito Santo, com os mordomos a distribuir pelos mais necessitados as tradicionais pensões. No caso das chamadas “festas de verão”, realizadas em cada freguesia em honra dos seus patronos, espera-se que a homenagem seja simbólica porque os tradicionais arraiais este ano não podem acontecer, nem tão pouco as procissões animadas pelas muitas filarmónicas existentes no concelho. Sons que se perderam também naquela que era a maior manifestação religiosa dos Açores: as festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres. 2020 ficará na história como o ano em que, pela primeira vez em mais de três séculos, a veneranda imagem do Ecce Homo não saiu pelas ruas da sua cidade, arrastando milhares e milhares de devotos…

Olhar pelos nossos…
Não podíamos terminar este roteiro sem um apelo a uma paragem no Mercado da Graça. Se for turista, é daqui que leva, artesanato ou sabores, que certamente ajudarão a perpetuar um pouco mais a passagem por Ponta Delgada e pelos Açores. Para quem vive na ilha e no concelho, é um convite a consumir a produção regional, fruto do trabalho de quem mesmo em época de pandemia pôs mãos ao trabalho para que nas bancas do mercado não lhe faltasse o melhor da nossa terra. O mesmo se aplica aos pequenos negócios… Desde o amigo que tem um alojamento local numa zona mais recôndita do concelho, ao colega que aluga bicicletas ou material de desportos radicais, porque não ocupar o lugar que o turismo ainda vai deixando vago? Afinal, há sempre o reverso da moeda. E, neste caso, a acalmia de movimento turístico trazida pela pandemia pode bem ser uma oportunidade para desfrutar novamente da sua terra, sem stress ou aglomerados. Será que já visitou as várias valências do Museu Carlos Machado? Conhece, porventura, os encantos dos vários jardins botânicos existentes mesmo dentro da malha urbana? E aquele seu restaurante favorito que queria ir mas a reserva era difícil? Talvez seja agora o momento de la ir. Um aniversário e não sabe o que oferecer? Porque não pensar nas mãos habilidosas que há no concelho e que este ano não terão festas ou feiras para escoar os seus produtos? Este é o tempo de olhar pelos outros, fazendo da soma de pequenos gestos uma grande diferença na vida de muitas pessoas…

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