Açoriano Oriental
Militares americanos gostam da "simplicidade" da Terceira e alguns escolhem ficar
Nem todos os norte-americanos saem da ilha Terceira quando acabam as suas comissões na base das Lajes, havendo quem tenha escolhido viver nos Açores depois da reforma ou da passagem à vida civil.

Autor: Lusa / AO online

 

"As pessoas que vêm para cá começam por se queixar de que não há nada para fazer e não há para onde ir. Dois anos depois, quando eles vão embora, escrevem-nos a dizer que sentem falta da ilha, porque cá toda a gente estava unida", contou à Lusa o militar norte-americano reformado Art Nilsen, que vive há cerca de dez anos na Terceira.

O que o fez apaixonar-se pela ilha, "para além das coisas óbvias", como o mar, as paisagens ou o clima, foi a simplicidade da vida na Terceira.

"Não acho que seja assim hoje, mas em 1987 era. Não havia muitos carros, via-se muitas pessoas a andar de burro, havia muito mais trabalho manual. Parecia que as pessoas estavam muito mais interessadas umas nas outras do que em acumular coisas", frisou.

Art foi colocado pela primeira vez na base das Lajes em 1987, por dois anos, acompanhado pela mulher, Debra. Trabalhava como enfermeiro num hospital americano que existia dentro da base, onde nasceu o seu filho mais velho.

Em 1996, o casal regressou às Lajes, mas desta vez pediu para prolongar a estadia por mais um ano. Durante essa comissão nasceu a filha mais nova, já no hospital de Angra do Heroísmo.

Quando se reformou, Art decidiu estudar teologia e ser pastor de uma igreja Baptista, uma vocação que descobriu precisamente na Terceira, durante a segunda comissão, quando a igreja que frequentava ficou sem pastor e ele, ainda como diácono, começou a fazer sermões.

Art e Debra sempre quiseram voltar à Terceira e quando ele perguntou ao pastor da igreja que tinham frequentado na ilha se precisava de ajuda, o destino, ou a mão de Deus em que acredita, voltaram a dar um empurrão. O pastor estava de saída e Art substituiu-o.

Hoje vive na vila das Lajes, numa casa ao lado da Azorean Baptist Church, onde continua a ser pastor, mas apesar de fazer o sermão em inglês, são mais os portugueses que a frequentam.

Quando Art esteve na Terceira pela primeira vez, passavam pela igreja todos os domingos cerca de 125 americanos da base. Hoje são bem menos e famílias americanas já só restam a do pastor e uma outra.

Art está a aprender português, mas raramente coloca os ensinamentos em prática: "De cada vez que eu me esforço para falar em português, os portugueses falam em inglês. Em cada loja, em cada restaurante, em todo o lado".

Tendo acesso às lojas dentro da base, como militar reformado, o pastor não sente grande necessidade de se adaptar aos hábitos portugueses, mas confessa que já se rendeu ao bacalhau.

Quando os militares são colocados numa base no estrangeiro, onde a língua e a cultura são diferentes, há uma tendência para ter receio de sair das instalações militares, mas Art e Debra saíram para jantar na primeira noite que passaram na Terceira.

Debra diz que se apaixonaram pela simplicidade da ilha, mas também pela simpatia das pessoas: "Havia um restaurante na Praia [da Vitória] a que costumávamos ir e nós fazíamos o pedido, a senhora cozinhava e depois, enquanto nós comíamos, ela levava o Dan [o filho mais velho] para a cozinha com ela".

Maria Amélia Cordeiro é empregada de limpeza na igreja de Art e retribui os elogios aos americanos. "Ele é um santo homem", disse, referindo-se ao pastor.

Natural da vila das Lajes, começou a trabalhar para americanos há 41 anos, quando tinha apenas 19. Nunca aprendeu a falar inglês, mas isso não a impediu de comunicar com os patrões.

"Quando eu não comunicava bem, a minha filha era o meu auxílio. Eu levava-a comigo e ela aprendeu com as crianças deles a falar inglês", contou.

Maria viu partir em julho mais uma família americana e agora já só lhe resta Art como patrão. Comove-se quando fala da redução do número de americanos nas Lajes, que encara com "muita mágoa".

"Sempre fui muito bem tratada por eles. Eles nunca perguntam a nossa idade, perguntam é se a gente tem forças para trabalhar", salientou, acrescentando que os americanos pagam bem e ficam gratos pelo trabalho prestado.

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