Autor: Lusa/AO online
Teodora Cardoso, que falava numa conferência organizada hoje em Lisboa pelo CFP, pelo Banco de Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian, afirmou que é “completamente impraticável” estabelecer na Lei Fundamental limites ao défice e à dívida, considerando que isso levaria a “práticas para contornar esses limites”.
“A Constituição deve estabelecer os princípios orçamentais. Agora, pôr um limite de 3% do PIB [Produto Interno Bruto] ao défice orçamental na Constituição seria uma coisa completamente impraticável”, afirmou Teodora Cardoso aos jornalistas depois da conferência.
A economista alertou que, caso estes limites estivessem definidos na Constituição, o seu cumprimento seria muito suscetível a “rodeios”: “Se um limite desses estivesse na Constituição, o Governo não ia cair por não ter cumprido o limite, mas ficava inconstitucional, o que era um grande sarilho (…) O limite pode existir numa lei, mas não é viável [esse limite estar na Constituição] em termos práticos e leva a que tenha de haver rodeios para fazer de conta que aquilo acontece e isso tira credibilidade ao sistema”, advertiu Teodora Cardoso.
A presidente do CFP deu o exemplo do défice estrutural que, segundo as regras europeias, não pode exceder os 0,5% do PIB, afirmando que o facto de este indicador ser “muito difícil de medir” é logo à partida uma limitação.
Num texto que serviu de base à sua intervenção, Teodora Cardoso refere que “princípios demasiado inflexíveis inscritos na Constituição – por exemplo, fixando limites numéricos ao défice orçamental ou ao rácio de dívida pública – não são aconselháveis e perdem credibilidade”.
Isto porque, lê-se ainda, a inclusão destes limites na Constituição “induzem práticas para os contornar, limitando a abrangência das contas públicas ou levando ao uso de contabilidade criativa”.