Açoriano Oriental
Inteligência artificial pode “abrir portas” nos Açores

Entre os dias 5 e 8 de setembro, o Faial vai acolher 150 cientistas que irão partilhar os mais recentes trabalhos realizados no âmbito desta área que pode “abrir portas a novas colaborações” nos Açores

Inteligência artificial pode “abrir portas” nos Açores

Autor: Joana Medeiros

Sendo uma das “mais antigas conferências da Europa” relacionada com o tema da Inteligência Artificial (IA), a Conferência Portuguesa de Inteligência Artificial verá, este ano, a realização da sua 22.ª edição nos Açores, mais concretamente no Faial, entre os dias 5 e 8 de setembro.

Pela segunda vez, os Açores irão acolher durante quatro dias, desta vez na Sociedade Amor da Pátria, cerca de 150 cientistas provenientes de 20 países diferentes e que, através de diferentes painéis temáticos, irão discutir entre si temas que conjugam a IA com a criatividade, a arte ou, ainda, a ética e a responsabilidade.

Em debate, conforme explica Nuno Moniz, estarão também as aplicações da Inteligência Artificial em várias áreas com impacto significante na sociedade, como a medicina, a agricultura, a indústria ou a robótica, sem esquecer ainda a interceção entre a inteligência artificial e o direito.

De acordo com este professor açoriano na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e um dos responsáveis pela organização deste evento, é fundamental que este se realize no arquipélago, tendo em conta que “pode ter um impacto gigante” na investigação que é, atualmente, conduzida nas ilhas.

“A ciência é feita de encontros e de discussões, é assim que os cientistas desenvolvem o seu trabalho, sendo confrontados via debate ou com apresentações de colegas com novas realidades, e nos Açores nós temos um cenário particular. Independentemente do tamanho da Região, temos áreas científicas nas quais nós temos investigação de proa, nas quais somos reconhecidos internacionalmente” e nas quais, afirma, a IA pode ter um papel relevante.

Destaque para a cooperação com o Instituto Okeanos e com o Departamento de Oceanografia e Pescas, realça Nuno Moniz, considerando que o evento pode “abrir portas a novas cooperações, novas colaborações e projetos que podem ter um impacto enorme naquilo que é a nossa capacidade para, por exemplo, estudar os nossos mares e a nossa sustentabilidade, a sustentabilidade das pescas e toda uma série de desafios que enfrentamos hoje em dia”.

Há dez anos, este evento realizou-se pela primeira vez nos Açores, mais concretamente na ilha Terceira, sendo este espaço temporal “o mote” perfeito para trazer, de novo, a conferência ao arquipélago.

No decorrer de uma década, Nuno Moniz destaca que “muitíssima coisa” mudou no que à IA diz respeito, tendo também em consideração que esta é uma ciência com uma história “bastante longa”, com 70 anos de discussões e avanços.

Porém, há dez anos, considera o professor de inteligência artificial, estaríamos “no começo desta espécie de nova vaga”. Refere-se ao facto de, atualmente, existir um grande nível de interesse e discussão sobre IA na sociedade, “ao nível das suas implicações ou das responsabilidades de quem aplica ou desenvolve inteligência artificial, algo que há dez anos era muito reduzido”.

Ainda nos desafios que a IA enfrenta, Nuno Moniz salienta que uma boa parte se prende com “a quantidade avassaladora de dados que têm que ser tratados” em todas as áreas ao alcance desta ciência.

“Quando estamos a falar de mar, vulcanologia, meteorologia e de toda uma série de áreas que são fundamentais para os Açores, estamos a falar da nossa necessidade de tentar compreender melhor os vários fenómenos nestas áreas, tentar antecipá-los e tentar percebê-los melhor, bem como a sua interceção com uma série de muitos outros fatores, e isso, essencialmente, resume-se a análise de dados e a geração de teorias”, explica o académico açoriano.

Neste sentido, a inteligência artificial permite também “compreender como é que todos estes fenómenos e desafios funcionam”, afirma Nuno Moniz.

Questionado se a IA deve ser vista como uma “aliada ou como uma inimiga” da sociedade de uma forma geral, o professor refere que este tem sido “um debate latente e público, agora menos latente e muito mais público”.

Tendo em conta esta dicotomia que se instalou na sociedade atual, Nuno Moniz refere a importância de nesta conferência internacional se incluir uma sessão pública, que irá decorrer no dia 6 de setembro, pelas 19h00, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, na Horta, para responder a dúvidas e aumentar a sensibilização para este tema, desmistificando as ideias pré concebidas que existem.

“Nós temos uma ideia sobre o que é a inteligência artificial motivada pelo folclore, por aquela que é a nossa exposição a ficção científica e a muitas outras coisas, e isso leva-nos, muitas vezes, a criar uma ideia ou uma imagem sobre aquilo que é a IA que, depois, não corresponde àquilo que é feito”, explica.

Em suma, embora existam muitos desafios em relação à IA, nomeadamente com a sua utilização discriminatória, sem “criar problemas sérios a pessoas injustamente”, o professor realça que, de uma forma geral, o trabalho desenvolvido pelos cientistas dedicados à área “tem um potencial enorme para o benefício geral” da população, sendo essa a meta que se deseja alcançar, reforça.

“A inteligência artificial é construída por pessoas reais e, para a construirmos, aquilo que nós precisamos é de uma combinação de visão mas também de responsabilidade”, conclui.

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