Autor: Lusa/Açoriano Oriental
"Quando olhei para este Orçamento e este Plano Regional Anual lembrei-me logo de 'Dom Quixote de la Mancha', a imortal obra Miguel de Cervantes. Tal como na novela de Cervantes, o Orçamento e o Governo socialista inserem-se num mundo ficcionado, em que a realidade é fantasiada a um nível que só a paródia consegue resgatar", afirmou Paulo Estêvão, na primeira intervenção que fez no debate sobre os documentos orçamentais, na Assembleia Legislativa Regional.
Para Paulo Estêvão, "nos Açores socialistas, a ficção devora permanentemente a realidade", considerando que "o Governo Regional vive enclausurado num mundo irreal, numa espécie de novela de cavalaria medieval que retrata um mundo que nunca existiu".
"É este mundo irreal e quixotesco que pretendo, numa utilização abusiva da novela de Cervantes, aqui desmitificar, utilizando para isso a contundência da sátira intemporal do 'Cavaleiro da Triste Figura'", referiu.
Paulo Estêvão relatou, então, a aventura de Dom Quixote "num lugar dos Açores", acompanhado pelo seu fiel escudeiro, Sancho, a quem mostra os "gigantes" da sua governação, a começar no Emprego.
Sancho responde que o Emprego "só é grande à custa de programas ocupacionais, do aumento da administração regional, dos empregos criados num setor público empresarial regional falido e do trabalho precário".
D. Quixote fala depois da Educação, área em que os Açores estão "tão avançados" que, "na semana passada, foi notícia, no território continental do reino, a criação de ementas vegetarianas nas escolas".
"Nós, nas escolas dos Açores, há muito que servimos, ao longo de todos os dias da semana e em todos os meses do ano, ementas vegetarianas. Pelo menos, é isso que dizem os nossos entusiasmados alunos. Somos uma espécie de farol de civilização para os bárbaros do continente", assinala D. Quixote, para garantir a Sancho que os Açores já não são os últimos na Educação.
Paulo Estêvão prometeu noutra oportunidade revisitar "estes gigantes governamentais, pois a governação socialista nos Açores parece tão imortal como o eterno D. Quixote" e, sobre o Orçamento para 2017, considerou que se "assemelha a um colete-de-forças que aprisiona a sociedade açoriana" e é "pouco mais que uma soma de esmolas".
"O dinheiro é distribuído por uma grande parte da sociedade açoriana, da Igreja à lavoura, das pescas ao artesanato, nada escapa à cultura de dependência criada por um governo que não governa. Subsiste, sobrevive e dura, dura e dura", acrescentou o deputado do PPM.
Para o parlamentar, "não existe um grande projeto de desenvolvimento para os Açores", mas "uma grande nau com remendos por todo o lado, cada vez mais pesada, esventrada e miserável".
"Os que nela se abrigam, tirando o oficialato socialista, sobrevivem cada vez com menos, mas ainda assim não arriscam e não ousam libertar-se das grilhetas da dependência", disse Paulo Estêvão, retomando D. Quixote que "disse um dia ao seu amigo Sancho 'que mudar o mundo não é loucura, não é utopia, é justiça'".
Para Paulo Estêvão, "não é apenas uma questão de justiça", mas "também uma questão de liberdade individual e coletiva, a liberdade de escolher, a liberdade de mudar, a liberdade de não depender de ninguém".