Açoriano Oriental
A "Sé vacante" e o conclave
A renúncia de Bento XVI, anunciada a 11 de fevereiro e efetiva a partir de 28 de fevereiro, iniciou o período de "Sé apostólica vacante", que vigora até à eleição de um novo papa.
A "Sé vacante" e o conclave

Autor: Lusa/AO Online

Neste período, quase todos os chefes de dicastérios (ministérios) da Cúria romana terminam as suas funções e os apartamentos pontifícios são selados, aguardando o próximo inquilino.

O responsável interino do Vaticano é o cardeal camerlengo, cargo que pertence ao secretário de Estado, Tarcisio Bertone, atual 'número dois' do Vaticano, desde que foi nomeado em 2007 por Bento XVI.

A 01 de março, o Vaticano emitiu um selo especial para ser utilizado durante a "sé vacante".

O decano do Colégio Cardinalício, Angelo Sodano, enviou, um dia depois da oficialização da renúncia de Bento XVI, cartas a todos os cardeais para os convocar para as "congregações gerais".

Estas são uma espécie de pré-conclave que decorreram em Roma, na passada semana, com a participação de mais de 150 cardeais eleitores (com menos de 80 anos, à data da resignação) e não eleitores.

O "anel do pescador", símbolo do poder pontifício que servia outrora para autenticar documentos, foi destruído com um martelo pelo cardeal Bertone logo na primeira reunião dos cardeais, para evitar qualquer falsificação.

Após a designação do novo papa, cabe ao camerlengo colocar o novo anel papal no dedo do eleito.

O conclave é uma reunião secreta dos cardeais de todo o mundo encarregados de eleger o papa. Desta vez, são 115 cardeais eleitores. Desde 1970, Paulo VI fixou em 80 anos a idade limite dos eleitores do papa.

O grupo de 115 cardeais com menos de 80 anos que deve marcar presença na Capela Sistina, após a renúncia apresentada por dois eleitores, está assim distribuído geograficamente: Europa - 60, América Latina - 19, América do Norte - 14, África -11, Ásia - 10 e Oceânia - 1.

O patriarca de Lisboa, José Policarpo, será o 32.º cardeal a votar no conclave, segundo a "ordem de precedência", disposição utilizada em procissões, votação e juramentos relacionados com o período de "Sé vacante", de acordo com a agência Ecclesia.

O cardeal Manuel Monteiro de Castro ocupa o 104.º lugar nesta lista. O outro cardeal português, José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos, não participa no conclave por ter mais de 80 anos.

Se antes do início do conclave, um cardeal anunciar que não participa, não poderá ser admitido depois do início dos trabalhos. O contrário, por exemplo em caso de doença, é possível.

No conclave estão presentes outros elementos: o secretário do colégio cardinalício (Lorenzo Baldisseri), que desempenha as funções de secretário da assembleia eleitoral, o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias (Guido Marini).

Está também prevista a presença de mais pessoas para ajudarem em diferentes tarefas (confissões, médicos, enfermeiros, serviços técnicos, alimentação, limpeza e motoristas).

Os lugares do conclave serão fechados por dentro (responsabilidade do cardeal camerlengo), e por fora (responsabilidade do substituto da Secretaria de Estado, o arcebispo Giovanni Angelo Becciu).

A duração da reunião dos cardeais, que recebeu o nome de conclave em referência à sala que antigamente era fechada à chave, não é definida antecipadamente e a eleição é feita com a deposição dos boletins num cálice. De manhã realizam-se duas votações, e à tarde outras duas.

Depois de cada escrutínio, os boletins são queimados.

O conclave decorrerá sob os frescos de Michelangelo na Capela Sistina até à obtenção de uma maioria de dois terços sobre um nome entre os candidatos favoritos.

Se o resultado for inconclusivo, juntam-se produtos químicos aos boletins que serão queimados para que produzam fumo negro. Se um novo papa estiver escolhido serão queimados unicamente os boletins, produzindo um fumo branco, que anuncia a eleição. Nesse momento, o grande sino da basílica de São Pedro tocará a repique.

Uma vez escolhido, o eleito responde a duas questões do decano dos cardeais: "aceita a eleição canónica como soberano pontífice? qual o nome escolhido?". Se responder "sim" à primeira questão, o eleito torna-se imediatamente papa e bispo de Roma. Estes são os dois últimos atos formais do conclave.

O novo papa entrará depois numa sala adjacente à Capela sistina, denominada "sala das lágrimas" porque vários papas aí deram largas à emoção perante a tarefa que lhes era confiada, e envergará uma das três sotainas brancas, de diferentes tamanhos, preparadas pelo alfaiate escolhido pelo Vaticano.

Um a um, os cardeais prestam homenagem ao novo papa, antes do anúncio aos fiéis, com a fórmula "Habemus Papam" ("temos papa", em latim), que será pronunciada pelo "protodiácono" (o cardeal mais antigo no cargo), atualmente o francês Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso.

O novo papa profere depois a bênção apostólica "Urbi et Orbi" (à cidade e ao mundo), a partir da varanda da basílica de São Pedro.

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