Armindo Rodrigues, responsável pelo grupo do Departamento de Biologia referiu à Lusa que estão em curso dois projetos científicos de biomonitorização, um sobre ecossistemas agrícolas e outro em ambientes vulcânicos. "Em ecossistemas agrícolas, estamos a utilizar os ratos para perceber os efeitos dos agroquímicos, sejam eles fertilizantes ou pesticidas, na saúde, mas também para perceber, neste modelo animal, os efeitos do ambiente vulcânico na saúde", referiu o investigador. Os roedores, precisou o docente da academia açoriana, são uma vantagem na investigação. "A vantagem de usar ratos é que, de facto eles são muito abundantes, tem uma boa distribuição pelo território e, além disso, são mamíferos e por isso entendemos que são bons candidatos a serem usados como bioindicadores mamíferos da qualidade ambiental", disse Armindo Rodrigues. Os dois projetos de biomonitorização com recurso a ratos, que decorrem em diversos locais na ilha de São Miguel e contam com o apoio do executivo açoriano e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), estão em fases distintas de evolução, tendo sido recentemente iniciada a investigação sobre qualidade ambiental agrícola, que decorrerá até 2016. No próximo ano, terminará a vulcânica, já com conclusões. Segundo o investigador, foram analisados os pulmões de ratos recolhidos em três locais: nas Furnas (poluição vulcanogénica), em Ponta Delgada (poluição antropogénica, resultante da ação humana) e na periferia de Rabo de Peixe (mostra de controlo do estudo), cujas conclusões revelaram "danos" na saúde dos roedores expostos aos poluentes vulcânicos. "O grupo de ratos das Furnas, que vive permanente exposto à desgaseificação difusa de solos, à libertação de gases de origem vulcânica, demonstrava um maior dano ao nível pulmonar e uma maior taxa inflamatória", informou, referindo, contudo, que as conclusões "não se podem transpor" para os seres humanos uma vez que os ratos, ao viverem junto ao solo em locais confinados e com pouco arejamento, "estão sujeitos a concentrações dos gases muito superiores" às verificadas ao "nível respiratório dos humanos" que ocorre a 1,5/2 metros acima do solo. Ainda assim, a "legitimidade" do estudo, reforçou, criou pela primeira vez "um índice de funcionalidade pulmonar" que comprova que "a exposição crónica a poluentes de origem vulcanogénica é causadora de dano pulmonar nestes organismos". Ao nível agroambiental, o grupo de investigação vai recolher ratos provenientes de diferentes modelos de exploração agrícola, duas convencionais e duas orgânicas, localizadas entre os concelhos de Ponta Delgada e Ribeira Grande, além de uma zona sem qualquer uso, para controlo de dados, na Reserva Florestal de Recreio do Pinhal da Paz. "A nossa ideia é perceber se diferentes tipologias de agricultura têm diferentes efeitos nos ecossistemas e nos seres humanos, particularmente naqueles que estão nas atividades agrícolas", explicou.