Autor: Tatiana Ourique / AO Online
Localizada numa pequena baía no concelho da Praia da Vitória, a “Santa” é uma laje de pedra vulcânica que produz uma onda superpesada e tubular que “tem tanto de espetacular como de perigoso”, como referem os seus frequentadores. A onda é, por si só, tão apelativa quanto a lycra verde do Crédito Agrícola que distingue os campeões nacionais. “Uma onda de classe mundial pouco explorada, mas que tem um lugar especial entre um nicho de bodyboarders locais e alguma da elite nacional que regularmente ali se desloca quase em segredo”, refere a Associação de Surf da Ilha Terceira.
Miguel Ferreira de 21 anos
é líder das contas no que diz respeito ao título nacional, segundo
classificado na Figueira da Foz. Nunca esteve em Santa Catarina, mas
diz-se preparado para tudo: “Honestamente, não foi uma surpresa
chegar à final na Figueira. Vinha de um bom momento do Sintra
Portugal Pro e tive até de me acalmar para não ser traído pelo
excesso de confiança. Para a Terceira, as expectativas são as
mesmas da etapa anterior: chegar à final. Quanto à onda, estou
preparado para tudo. Toda a gente quer que esteja clássico e
perfeito, mas enquanto atleta, repito, estou preparado para tudo”.
Questionado o sonho do título nacional: “Claro que sim, ambiciono o título. Há algum tempo que me sinto tecnicamente capaz de o conquistar, mas demorei um pouco a habituar-me a surfar no open com malta mais velha, atletas que cresci a ver surfar e que demorei a ver como iguais. Mas agora são mais três licras coloridas dentro de água".
Daniel Fonseca, o homem da licra verde - símbolo que distingue o campeão nacional - apesar de estar em sétimo lugar com mais duas etapas para disputar, assegura que ainda não está pronto para se render: “O circuito não correu da forma como esperava, mas está supercompetitivo e a verdade é que nem sempre a sorte cai para o nosso lado. Na Figueira, na bateria das meias-finais em que fui eliminado, andei 20 minutos atrás do prejuízo e não encontrei a onda que precisava. Fiquei chateado, mas acredito no meu potencial e acredito em fazer bons resultados. E correr atrás dos resultados às vezes é bom".
Daniel, bicampeão nacional em título, também nunca esteve na Terceira e está entusiasmado com a estreia: “Já comecei a ver as previsões. Estou com vontade, vou dois dias mais cedo e fico lá mais três dias depois do campeonato para umas miniférias. Essencialmente vou para surfar as condições que se apresentarem e mostrar bom surf. O resto, a acontecer, virá por arrasto”, acrescenta.
Na competição feminina, o estado da nação espelha o que aconteceu no Open, com a heptacampeã nacional Joana Schenker a ser eliminada nas meias-finais, algo que aconteceu apenas duas vezes nos últimos sete anos. “Competi condicionada fisicamente com uma lesão nos lombres e medicada com analgésicos. Não é desculpa porque se não ajudou, o problema nem foi esse. Apenas escolhi mal o sítio para surfar e não consegui compensar por estar sem a remada normal”, explicou Joana Schenker, sublinhando que “a lesão não justifica os meus erros".
Na outra ponta do espetro
competitivo está Filipa Broeiro. A jovem de 20 anos, antiga campeã
europeia de juniores e agora líder do “ranking” nacional, já só
pensa na estreia nos Açores: “Estou tranquila, tento não pensar
muito no título. Só estou ansiosa porque nunca andei de avião e
espero apenas surfar bem e divertir-me. Tenho treinado muito em fundo
de pedra e tenho recolhido informações sobre a onda de Santa
Catarina. Dizem-me que é uma onda potente e rápida, para tubo e
manobra no fim. Estou curiosa".
André Avelar, presidente da Associação de Surf da Ilha Terceira, explica a motivação em ter o Nacional de volta à ilha: “É um orgulho ter aqui o Circuito Nacional Crédito Agrícola 10 anos depois. Queremos que esta prova aproveite todo o potencial da onda de Santa Catarina e levante um pouco o véu do que temos para oferecer aqui nos Açores. A ideia é começar a vender outras vertentes do turismo açoriano numa altura em que estamos a recuperar da crise provocada pela pandemia”.
E a ajudar neste propósito, os atletas açorianos vão participar em força com os terceirenses Tiago Navega e João Ferreira, mais os micaelenses Rodrigo Rijo, Pedro Correia e Miguel Reis.
É precisamente no vetor desportivo que se concentra Luís Couto, diretor regional do Desporto: “Qualquer tipo de evento que chegue até nós integrado em competições nacionais e que traga atletas do mais elevado nível, aportam desenvolvimento desportivo. Devido à nossa natureza insular, estamos um pouco mais fechados para desenvolver iniciativas desportivas, o que limita o desenvolvimento. E a competição é a levedura do processo desportivo".
Clélio Meneses, secretário regional da Saúde e do Desporto, por seu turno, garante
“imensa satisfação” pelo regresso da prova à Terceira, 10 anos
depois: É uma honra para os Açores fazer parte deste circuito, e
uma oportunidade de revelar ao mundo as nossas capacidades e o
potencial que o arquipélago oferece aos desportos náuticos.
O quadro de participantes garante acesa competição e isso é já um forte incentivo para todos, desde os competidores, até ao público, passando pela organização. A Onda de Santa Catarina, em particular, parte integrante deste potencial açoriano, vai exigir tudo dos participantes e oferecer um espetáculo inolvidável aos espetadores que se desloquem à baía da Praia da Vitória”.