Açoriano Oriental
Mário Soares foi o primeiro Presidente da República a pernoitar na ilha do Corvo
O antigo Presidente da República Mário Soares, que morreu este sábado, foi o primeiro chefe de Estado a pernoitar no Corvo, no âmbito de uma Presidência Aberta de 14 dias no arquipélago.
Mário Soares foi o primeiro Presidente da República a pernoitar na ilha do Corvo

Autor: Lusa/Açoriano Oriental

Foi a 31 de maio de 1989, terceiro dia da Presidência Aberta aos Açores, que, num navio da Armada, Mário Soares deixou as Flores, o ponto mais ocidental da Europa, rumo ao Corvo, ilha com cerca de 400 habitantes distribuídos por 17 quilómetros quadrados, onde ficou na Casa Cabo do Mar e, no dia seguinte, fez uma comunicação ao país transmitida pela RTP.

Então, Mário Soares explicou que fez questão de passar uma noite com os habitantes do Corvo para "melhor lhes sentir a alma" e a população recebeu-o como se festejasse "a Nossa Senhora dos Milagres, a Sagrada Família, o Espírito Santo ou os Santos Populares", relatou a Lusa na ocasião.

"Isto é uma festa fora do calendário", justificavam os populares que o Presidente da República conseguiu reunir - todos - num serão corvino que incluiu jantar e festa que pôs "a dançar, na mesma pista, os presidentes da República e da Assembleia e Governo regionais".

A Presidência Aberta começou, contudo, a 29 de maio, na Terceira. À data, o Governo Regional, liderado pelo social-democrata Mota Amaral, decretou tolerância de ponto para as nove ilhas no dia em que o antigo chefe de Estado marcasse nelas presença.

Segundo o arquivo da agência Lusa e informação disponibilizada no sítio na Internet da Fundação Mário Soares, neste dia, numa homenagem à região, o então chefe de Estado afirmou que "a Europa, que nos Açores tem a sua fronteira oeste mais extrema, será, aliás, tanto mais rica e afirmativa quanto melhor souber garantir a diversidade e evitar qualquer tipo de uniformização ou de dissolução das diversas identidades em presença".

O ex-Presidente da República declarou, na ocasião, trazer ao povo dos Açores e às suas autoridades "a solidariedade, a compreensão, o estímulo de todo o Portugal, incluindo aquele que anda disperso pela diáspora".

Nesta viagem, Mário Soares teve à sua espera, por exemplo, nas Velas, ilha de São Jorge, um tapete de flores de 600 metros quadrados, desde os Paços do Concelho até ao cais. Nesta localidade também não faltaram as colchas em todas as janelas para a receção.

Mário Soares haveria de regressar à Terceira, onde, em Angra do Heroísmo, homenageou os mortos em combate e os antigos prisioneiros políticos - incluindo o seu pai, João Soares - da Fortaleza de São João Baptista.

Já em São Miguel, a 09 de junho, Mário Soares reuniu-se com o então primeiro-ministro Cavaco Silva em Ponta Delgada, cidade que, no dia seguinte, foi palco das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.

Mário Soares haveria de se cruzar com os Açores numa segunda Presidência Aberta, esta dedicada ao Ambiente e Qualidade de Vida, em abril de 1994.

Em Ponta Delgada, a 19 de abril, Mário Soares teve como receção uma manifestação de cerca de duas dezenas de ambientalistas contra a poluição das lagoas da ilha de São Miguel e, no dia seguinte, provocou um "sismo" quando, ao dar vários saltos de teste, acionou um sensor de sismos instalado na Universidade dos Açores.

Mota Amaral, que era presidente do Governo Regional dos Açores, ironizou com o resultado do gráfico: "Arrasador, deve ter atingido cinco graus de intensidade".

Antes, em junho de 1990, Mário Soares regressou à Horta, ilha do Faial, para a inauguração da nova sede do parlamento regional, local onde marcou de novo presença quase cinco anos depois, a 02 de março de 1995.

Neste dia, decorreu a sessão solene comemorativa do primeiro centenário da promulgação do decreto de 02 de março de 1895 que instituiu a autonomia administrativa dos Açores.

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