Açoriano Oriental
José Nuno da Câmara Pereira deixou "obra pautada por uma incessante renovação"

O artista plástico José Nuno Monteiro da Câmara Pereira, que morreu no passado domingo, deixou "uma obra pautada por uma incessante renovação", afirma o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, numa nota de pesar, divulgada esta quarta-feira.

José Nuno da Câmara Pereira deixou "obra pautada por uma incessante renovação"

Autor: Lusa/AO online

Castro Mendes recorda que o artista, conhecido como José Nuno, iniciou a sua carreira em 1974, com uma exposição em Lisboa.

"O espírito desse tempo revolucionário parece ter firmado uma inquietação criativa e um certo apelo à experimentação que o levou a trabalhar proficuamente no campo da pintura, da escultura, da instalação, [e] do vídeo", afirma ao ministro, referindo que, "na fragmentação e na efemeridade com que foi construindo a sua produção, surgem, ainda assim, permanências ou valores estéticos constantes como a evocação de elementos naturais - a terra, o fogo, a água, que tão claramente emanavam das suas origens açorianas -, e uma atenção particular aos processos de evolução das substâncias, de entropia dos materiais, de caos do mundo".

O ministro cita o artista plástico que, por ocasião da exposição retrospetiva "Um Sísifo Feliz", organizada pelo curador José Porfírio, afirmou: "O que eu pretendo é entrar verdadeiramente no tempo da formação do universo".

"No seu percurso, salientaríamos igualmente o papel de pedagogo, cultivado pela docência no Instituto de Arte e Decoração – IADE, no Arco – Centro de Arte e Comunicação Visual, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, e ainda os galardões com que foi agraciado, como o prémio de instalação, no âmbito da III Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian ou o primeiro prémio na exposição AICA/[Associação Internacional de Críticos de Arte]-Philae, realizada na Sociedade Nacional de Belas-Artes, ambos em 1986".

José Nuno Monteiro da Câmara Pereira, natural da ilha de Santa Maria, nos Açores, morreu no domingo, aos 80 anos, em Lisboa, onde residia.

O diretor regional da Cultura, Nuno Lopes, disse que José Nuno da Câmara Pereira "é um dos expoentes máximos da arte plástica açoriana, com dimensão nacional e internacional".

Entre as suas principais exposições individuais, de acordo com a Carmina Galeria, na Terceira, contam-se “Paisagens de Mito e Memória”, no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, e “Imaginação da Matéria”, na Central Tejo, além da série "Transfiguras", para a coletiva “Histórica Trágico-Marítima”, organizada pela AICA, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.

“Recado para Inês”, instalação na Igreja de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, "A window on the Azores", no Newbedford Art Museum, nos EUA, e a mostra itinerante "O riso de Buda em tempo de Guerra" são outras exposições destacadas pela galeria açoriana.

José Nuno da Câmara Pereira expôs ainda, na década de 1980, na Feira Internacional de Arte Contemporânea, no Grand Palais, em Paris, em representação da Galeria Quadrum, e fez parte da coletiva “1984 o Futuro é já hoje”, do Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Decorou as paredes do altar-mor e da entrada da Igreja Matriz de Almada, a convite do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, assinou as instalações de homenagem a Goethe e Fernando Pessoa, no edifício Círculo de Leitores, e os relevos da entrada e envolvente da escadaria da Biblioteca Pública de Ponta Delgada, assim como o teto do Teatro Faialense, a convite do arquiteto José Lamas.

É autor dos painéis de azulejos na Escola Secundária da Lagoa, São Miguel, no Jardim dos Corte-Reais e no Jardim Público de Angra do Heroísmo, e do Jardim de Pedra para as Vinhas do Pico, nos Açores.

Foi premiado pela 1.ª Bienal dos Açores e Atlântico, na III Exposição de Artes Plásticas Fundação Calouste Gulbenkian, pela Associação Internacional de Críticos de Arte e pela Direção Regional da Cultura Açores, entre outras instituições.

O artista foi distinguido em 2010 nas cerimónias oficiais do Dia dos Açores.

Em 2016, foi organizada uma exposição retrospetiva da sua obra, no Centro de Artes Contemporâneas - Arquipélago -, na Ribeira Grande, S. Miguel, comissariada por José Luís Porfírio, com o título "Um Sísifo Feliz", que reconstruiu uma das suas principais instalações, "Paisagem ou Mar de Lama", de 1986.


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