Açoriano Oriental
Festas Sanjoaninas esbatem ‘rivalidades’ entre ilhas dos Açores

Nas festas Sanjoaninas, que decorrem de sexta-feira a 1 de julho, em Angra do Heroísmo, os habitantes das ilhas ‘rivais’ de São Miguel e Terceira deixam o bairrismo de parte e marcham lado a lado.

Festas Sanjoaninas esbatem ‘rivalidades’ entre ilhas dos Açores

Autor: Lusa/AO Online


Nos Açores, ainda se mantém uma certa ‘rivalidade’ entre os “rabos tortos” da ilha Terceira e os “coriscos” de São Miguel, mas na noite de São João os micaelenses marcham pelas ruas da cidade de Angra do Heroísmo, na Terceira, e são recebidos com entusiasmo.

Há dois anos que a noite de São João se dividiu em duas, nas Sanjoaninas - o elevado número de marchas levou a autarquia a propor que os desfiles se realizem nos dias 23 e 24 de junho (feriado municipal em Angra do Heroísmo).

Este ano são esperadas 37 marchas, contando com cinco infantis, mas cinco chegam de outras ilhas: duas de São Miguel, uma de São Jorge, uma do Pico e uma do arquipélago da Madeira.

Para Guido Teles, vereador do município de Angra do Heroísmo, que organiza as festas, este interesse resulta da afirmação das festas não só nos Açores, mas no país e junto das comunidades emigrantes.

“O facto de as Sanjoaninas terem ganho este peso e esta imagem positiva e das noites de marchas terem conseguido esta projeção acaba por fazer com que as marchas de fora da ilha se organizem e façam questão de cá estar”, adiantou, em declarações à Lusa.

Para alguns, é já uma tradição desfilar pelas ruas de Angra do Heroísmo, como é o caso da “Marcha dos Coriscos”, criada em 2010 por um grupo de amigos de São Miguel, “com o intuito único e exclusivo de participar nas Sanjoaninas”.

“É sempre com agrado e com muita emoção que arrancamos do Alto das Covas e descemos a Rua da Sé. A emoção é muito grande e não há palavras para descrever”, salientou Fernando Nunes, que participa na marcha desde 2013.

O micaelense garante que nunca sentiu qualquer animosidade por parte do público que assiste à “Marcha dos Coriscos”, que integra também vários terceirenses a residir em São Miguel.

“Nunca houve rivalidade, até pelo contrário. Nós somos sempre muito bem recebidos na ilha Terceira”, frisou.

Para Fernando Nunes, as festas Sanjoaninas são “únicas” e vividas de uma “forma diferente”, por isso a vontade de participar “é sempre grande”.

“Nós sentimo-nos muito gratos pelo carinho e pelo apoio que o povo terceirense nos dá ao longo das ruas de Angra”, disse.

Márcio Rocha, participante na marcha oficial das Sanjoaninas, considera que é precisamente a alegria e a envolvência entre os diferentes grupos que faz com que a noite de São João seja diferente em Angra do Heroísmo.

“Não há uma competição. Nós somos amigos de várias marchas, inclusive de marchas que vêm de outras ilhas dos Açores, e é isso também que distingue as marchas das Sanjoaninas”, apontou.

Ao todo são milhares de pessoas a desfilar e muitas mais a assistir nas principais ruas da cidade, com “energia, alegria e boa disposição”, que, segundo Márcio Rocha, tornam estas noites de São João “não melhores ou piores, mas diferentes”.

A marcha oficial, acompanhada pela filarmónica de Chino, dos Estados Unidos, ilustra nas roupas, nas cantigas e nas coreografias o tema das festas, que este ano é “Angra, Berço do Liberalismo”, mas entre os 37 grupos há quem represente freguesias, instituições, ginásios e até juventudes partidárias e clubes de futebol.

Apesar de não agradar a todos, a distribuição das marchas por duas noites foi a solução encontrada para não prejudicar as que desfilam por último e para evitar limites à participação, segundo Guido Teles.

“De facto, 37 marchas numa só noite acaba por ser demasiado exaustivo e acaba por ser também, sobretudo para quem tem todo o trabalho na preparação destas marchas, algo injusto para quem sai no fim da noite, a meio da madrugada”, frisou.

O vereador alega que a presença de marchas de outras ilhas não só enriquece a festa, como tem impacto na economia da ilha.

“Estamos a falar de centenas de visitantes que acabam por vir participar nas nossas festas, não só os marchantes, mas também as famílias. É inegável, é inquestionável o impacto económico que esta quantidade de marchas, sobretudo de marchas visitantes, acaba por trazer”, sublinhou.

As noites de marchas são um dos pontos altos das Sanjoaninas, mas em Angra do Heroísmo o São João comemora-se durante 10 dias, com desfiles, espetáculos musicais, tauromaquia, artesanato, exposições, atividades desportivas e gastronomia.

O município investe todos os anos entre 600 e 800 mil euros na organização das festas, o que, segundo Guido Teles, é um valor "residual" face ao retorno na economia.

“Aquilo que nos tem sido transmitido é que os alojamentos, não só a hotelaria tradicional, mas os próprios alojamentos locais, estão com as suas lotações praticamente esgotadas, não só no concelho, mas em toda a ilha. Isso é um claro sinal do peso e da importância que as Sanjoaninas têm nesta vertente turística e nesta componente económica”, defendeu.

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