Autor: Luís Pedro Silva
Cada vez mais há mulheres mais jovens na rua a venderem o corpo para sustentar o vício da droga, conforme constata Paulo Fontes, presidente da Associação Novo Dia - destinada ao apoio a mulheres e jovens em risco. "Apesar de não haver dados concretos, sabemos que aparecem casos de prostituição e toxicodependência cada vez mais cedo. Há mulheres com menos de 20 anos na prostituição, apesar da maioria das mulheres serem mais velhas", frisa o sociólogo, acrescentando que a existência de mulheres com doenças sexualmente transmissíveis é o principal problema da actividade.
"As pessoas que se prostituem na rua, na maioria dos casos, apresentam problemas muito graves, com doenças infecto-contagiosas, e procuramos que pratiquem sexo seguro, com a utilização do preservativo", refere o responsável da Associação Novo Dia. A maioria das mulheres tem hábitos de consumo de álcool e drogas, procurando através da prostituição encontrar uma forma de financiar a compra de bebidas alcoólicas e estupefacientes.
A Novo Dia apresenta uma equipa de rua que distribuiu preservativos, seringas e alimentos, uma vez por semana.
"A equipa procura estabelecer uma relação de confiança e mostrar que está presente para ajudar. Muitas vezes não querem falar, mas deixamos um cartão com a identificação e vamos mantendo contacto. Após haver uma relação de confiança, procuramos saber mais sobre os problemas das pessoas", sublinha o representante da associação.
Os monitores deste projecto informam as prostitutas sobre os comportamentos de risco associados a práticas sexuais, sem utilização de preservativo, e consumo de drogas.
"Existe um programa de troca de seringas, entrega de preservativos e aconselhamento. Mas, o importante é os clientes saberem que precisam de usar o preservativo. Caso não o façam cometem uma grande asneira, porque se a mulher estiver infectada, não corre nenhum risco, mas os clientes podem contrair uma doença grave, e contaminar a sua companheira em casa, devido a uma fantasia", afirma Paulo Fontes.
O Campo de São Francisco e a zona da Pranchinha são os locais mais utilizados para a prostituição em Ponta Delgada.
Existe "ainda outro género de prostituição, que a maioria das pessoas desconhece, onde mulheres com as suas redes de contactos esperam pelos clientes em locais determinados, não dando a entender que se estão a prostituir", explica Paulo Fontes.
A Associação Novo Dia conta com duas valências destinadas a apoiar as mulheres que se prostituem. Uma das residências é destinada às mulheres que pretendem efectuar um plano de tratamento e procura de trabalho.
Existindo ainda um segundo centro de acolhimento destinado a pessoas que se encontram a consumir álcool e drogas.
A escolha da prostituição é considerada "um recurso para as mulheres toxicodependentes, enquanto os homens optam por traficar droga", admite Paulo Fontes.
O representante da Novo Dia pretende alargar, brevemente, a área de intervenção da equipa de apoio às mulheres em risco, deslocando-se para os concelhos de Lagoa e Ribeira Grande.
A equipa deseja efectuar visitas diárias para troca de seringas e oferta de preservativos, no entanto, falta garantir a realização de um protocolo com a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais.
Apoiar as mulheres na rua
Ana Isabel Sousa, jornalista, autora do mais recente estudo sobre prostituição em São Miguel, denominado "A sombra da venda do corpo", aponta para a necessidade de existirem mecanismos de apoio às mulheres que estão na prostituição.
"Não se pode recuperar estas mulheres se elas não tiverem vontade de mudança. É preciso efectuar um tratamento para as retirar dos vícios do consumo de drogas e álcool, encontrar uma ocupação para garantir uma subsistência ou atribuir o rendimento de inserção social", defende a responsável pela elaboração deste estudo.
Ana Isabel Sousa considera que a prostituição aumentou durante os últimos anos, devido à existência de maiores problemas sociais, como a pobreza e consumo de droga.
No entanto, destaca que "a prostituição é transversal a todas as sociedades, existindo prostituição de elite na ilha de São Miguel".
A investigadora considera que uma das medidas a implementar na sociedade, para prevenir situações de prostituição juvenil, seria abordar o tema em algumas disciplinas na escola, para sensibilizar as crianças e jovens sobre os problemas relacionados com a prostituição. Neste sentido, a investigadora elogia a medida adoptada pela Escola Secundária das Laranjeiras, de distribuir preservativos para os alunos, "porque é nessas idades que muitos começam a vida sexual".
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