Açoriano Oriental
Condições singulares dos Açores atraem cada vez mais praticantes de canyoning
Atividade desportiva e de lazer, o canyoning encontra na geomorfologia vulcânica dos Açores cenários singulares para o crescimento de um novo nicho no turismo de aventura e de natureza no arquipélago, consideram praticantes e especialistas.
Condições singulares dos Açores atraem cada vez mais praticantes de canyoning

Autor: Lusa/AO online

A adrenalina de explorar ribeiras, cascatas e cursos de água com fortes declives através de uma descida com recurso a rapel, saltos, destrepes e tobogãs, tem captado a atenção e a procura centenas de turistas e locais e aumentado a oferta de empresas açorianas nos últimos anos.

Paulo Pacheco, um dos primeiros 'canyonistas' da região e coordenador da secção açoriana da Associação de Desportos de Aventura Desnível que, desde 2003, realiza expedições, estágios e formações regulares nos Açores, refere que "a atividade tem estado sempre a crescer nas ilhas" desde 2005.

"As condições ideais geralmente situam-se entre a primavera e o outono, onde efetivamente há mais caudal nas ribeiras. Na época alta, há muitas ribeiras que estão secas", disse à Lusa, sublinhando que as condições naturais das ilhas para o canyoning poderiam ser mais bem aproveitadas como estratégia turística.

"De facto, é uma atividade que, salvaguardadas as exceções de extrema pluviosidade ou condições atmosféricas adversas, pode ser feita o ano inteiro e isso ajudaria a anular a nossa sazonalidade", sublinha.

Há perto de uma centena de 'canyons' sinalizados nos Açores, concentrados sobretudo nas Flores (39 percursos) e São Jorge (26), consideradas as ilhas com as melhores condições para a prática desta atividade devido à grande verticalidade dos percursos. Mas há também 'canyons' sinalizados em S. Miguel (12), Santa Maria (8), Faial (5) e Terceira (4).

Percursos que, na sua maioria, foram abertos e equipados pela Associação Desnível e por clubes e operadores locais.

Variados, os desfiladeiros açorianos são marcados por uma "intensa vegetação" e distinguem-se, diferencia Paulo Pacheco, pela "exuberância" de "começarem em nascentes e desembocarem no mar".

"Principalmente as Flores e São Jorge, que têm arribas com plataformas na ordem dos 100/200 metros, são zonas fantásticas. O facto de terminarem no mar - e digo literalmente acabar a nadar no mar, e que implica terminar o percurso de barco porque não há trilhos - dá uma espetacularidade e uma envolvência completamente diferentes à atividade", acrescenta.

Apesar de existirem oito operadores de animação turística licenciados para a prática de 'canyoning' nos Açores (três em S. Miguel, dois na Terceira, um nas Flores, um em São Jorge e um no Pico, segundo registos da Direção Regional de Turismo), a atividade acaba por ser explorada interilhas através, sobretudo, de expedições organizadas.

Marco Melo, monitor de 'canyoning' e responsável pela Westcanyon, empresa criada nas Flores em 2009, recebeu no verão passado cerca de 100 clientes que queriam praticar esta modalidade numa ilha "privilegiada" pela variedade de 'canyons' que oferece e com muito mercado para crescer : "Falta apenas uma divulgação certa neste nicho de mercado", defende.

Em São Jorge, Dina Nunes, da Discovery Experience, diz que vai arrancar com a atividade "em força" este ano, apesar dos "muitos pedidos" já feitos em 2013, reconhecendo que esta ilha, a par das Flores e S. Miguel, possui "grandes potenciais".

Já em S. Miguel, Micaela Rodrigues, coordenadora da Picos de Aventura, que "já vende canyoning desde 2006", comprova a adesão crescente: "Em 2006, tivemos 30 clientes; em 2012, 330 e em 2013, 550 clientes".

Um aumento que atribui à "desmistificação do perigo", que explica ser "controlado", e pela adesão por parte de famílias.

Na Terceira, a Rope Adventures, criada em 2011, especializou-se em canyoning e desde então soma adeptos nas quatro ribeiras que explora: "Ao logo de 2013, levámos só a uma das ribeira mais de 450 pessoas", disse Emanuel Raimundo, responsável pela empresa.

Apesar de sediada no Pico, a Quinta da Ribeira da Urze trabalha, desde 2011, em cinco 'canyons' na vizinha ilha do Faial, "por uma questão de morfologia e de pluviosidade" e de sazonalidade: "Abri a empresa com o intuito de ter trabalho na época de inverno, época baixa, porque no verão trabalho na área do mergulho", diz Hugo Medeiros.

O 'canyoning', enquanto atividade coletiva e organizada, teve início na década de 1970 em Espanha e França e nos finais de oitenta em Portugal, na zona da Serra do Gerês, remontando a 1997 a primeira abertura de um 'canyon' nos Açores.

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