Autor: Paula Gouveia
O director do Museu Maçónico Português, em entrevista mantém o secretismo sobre os protagonistas da Maçonaria nos Açores, mas faz algumas revelações sobre a influência que a Maçonaria exerceu durante o século XX nas ilhas e a forma como o continua a fazer nos nossos dias.
A que conclusões chegou depois de consolidada a investigação sobre a Maçonaria nos Açores?
A Maçonaria teve um papel muito importante nos Açores, no apoio social, fundando inúmeras escolas e entidades de carácter social. Talvez a mais significativa seja a Sociedade Amor da Pátria, que nasce a partir de uma Loja, e em São Miguel o Clube Micaelense, que emerge de duas Lojas Maçónicas que se unem. Representavam duas sociedades que juntas vão dar origem ao Clube Micaelense. A União Açoriana era de tendência cartista e a Loja 11 de Agosto de 1829 de tendência saldanhista, primeiro, e depois de tendência setembrista. Eram duas linhas que dividiam a família liberal portuguesa na primeira metade do século XIX - uma que defendia que a Constituição do país deveria ser dada pelo rei, e outra que defendia que a Constituição deveria ser criada pelo povo e imposta ao rei. Duas linhas - uma mais moderada e outra mais extremista.
Que papel desempenhou a Maçonaria em São Miguel?
Nas escolas agrícolas Maria Cristina e com algumas escolas João de Deus. As escolas agrícolas Maria Cristina em São Miguel tiveram, no princípio do século XX, um papel fundamental para o desenvolvimento agrícola de São Miguel. Mas também houve outras associações de carácter agrícola com nomes como o do Barão das Laranjeiras, que tinham o mesmo objectivo.
Que evolução teve a Maçonaria e como funciona hoje nos Açores?
A partir de 1935 as Lojas Maçónicas foram ilegalizadas pelo Estado Novo. Praticamente desarticuladas, algumas Lojas ainda funcionaram - estou-me a lembrar da Ribeira Grande, a Acção Renovadora, com o Agostinho Sá Vieira. Mas tiveram uma acção que se foi reduzindo e que se desarticulou. Entre 1935 e 1940 praticamente todas deixaram de funcionar, o que não quer dizer que os maçons não tivessem alguma actividade individual. No entanto, a partir de 25 de Abril a Maçonaria retomou a sua actividade pública. E hoje está presente.
E como é que marca presença ?
Está presente nas Lojas que reúnem homens livres que estão disponíveis para debater tudo. Quando digo homens livres, estou-me a referir a pessoas de todos os partidos e religiões.
Continua a ter uma organização estruturada e activa?
A Maçonaria estrutura-se em Lojas e essas Lojas estão interligadas nacionalmente e dependem do Grande Oriente Lusitano.
Há muitos maçons nos Açores?
Há bastantes. Não posso dizer quantos, mas há bastantes.
Que influência exercem e como a exercem?
Exercem influência através do exemplo e da sua actividade, ao transmitirem para a sociedade os valores da liberdade, igualdade e fraternidade - que continuam extremamente actuais. Poderíamos adicionar a tolerância, que nos dias que correm faz muita falta. Transmitindo esses valores, exercem a sua influência. É assim que se faz sentir a Maçonaria.
Nos Açores há mulheres maçons?
Actualmente não. Nos Açores a Maçonaria feminina, que eu tenha conhecimento, nunca teve Lojas.
Quem são os líderes da Maçonaria nos Açores?
Isso não lhe digo. Posso dizer-lhe que o grão-mestre da Maçonaria do Grande Oriente Lusitano é o dr. António Reis. Por princípio, não divulgamos nem nomes, nem números. É uma das regras da Maçonaria - há 200 anos e hoje.
Em que locais se encontram?
Não posso dizer. Não é uma questão de segredo, é uma questão de disciplina. Mas posso dizer-lhe que numa vulgar sala.
Na sua opinião é importante que a Maçonaria persista?
Há valores que continuam a fazer falta hoje - a sua defesa e o seu desenvolvimento. Portanto, em meu entender continua a ser perfeitamente válida a aposta da Maçonaria.
Hístória, Maçonaria e Fotografia
O autor de “A Maçonaria Portuguesa e os Açores (1792-1935)” é, desde 2003, director do Museu Maçónico Português, cargo que acumula com as funções de presidente da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, de membro do Conselho Cultural da Associação Industrial Portuguesa e de consultor do Instituto do Património (IPPAR).
É licenciado em História pela Universidade Nova e possui mestrado, precisamente com a tese sobre a relação da Maçonaria Portuguesa e os Açores no período de 1792 a 1935.
Além da obra lançada ontem em Angra do Heroísmo, publicou em 2003, o livro sobre Gomes Freire de Andrade .
Actualmente é membro da equipa de investigação sobre o 5 de Outubro de 1910, trabalho que será publicado em livro este ano.
A que conclusões chegou depois de consolidada a investigação sobre a Maçonaria nos Açores?
A Maçonaria teve um papel muito importante nos Açores, no apoio social, fundando inúmeras escolas e entidades de carácter social. Talvez a mais significativa seja a Sociedade Amor da Pátria, que nasce a partir de uma Loja, e em São Miguel o Clube Micaelense, que emerge de duas Lojas Maçónicas que se unem. Representavam duas sociedades que juntas vão dar origem ao Clube Micaelense. A União Açoriana era de tendência cartista e a Loja 11 de Agosto de 1829 de tendência saldanhista, primeiro, e depois de tendência setembrista. Eram duas linhas que dividiam a família liberal portuguesa na primeira metade do século XIX - uma que defendia que a Constituição do país deveria ser dada pelo rei, e outra que defendia que a Constituição deveria ser criada pelo povo e imposta ao rei. Duas linhas - uma mais moderada e outra mais extremista.
Que papel desempenhou a Maçonaria em São Miguel?
Nas escolas agrícolas Maria Cristina e com algumas escolas João de Deus. As escolas agrícolas Maria Cristina em São Miguel tiveram, no princípio do século XX, um papel fundamental para o desenvolvimento agrícola de São Miguel. Mas também houve outras associações de carácter agrícola com nomes como o do Barão das Laranjeiras, que tinham o mesmo objectivo.
Que evolução teve a Maçonaria e como funciona hoje nos Açores?
A partir de 1935 as Lojas Maçónicas foram ilegalizadas pelo Estado Novo. Praticamente desarticuladas, algumas Lojas ainda funcionaram - estou-me a lembrar da Ribeira Grande, a Acção Renovadora, com o Agostinho Sá Vieira. Mas tiveram uma acção que se foi reduzindo e que se desarticulou. Entre 1935 e 1940 praticamente todas deixaram de funcionar, o que não quer dizer que os maçons não tivessem alguma actividade individual. No entanto, a partir de 25 de Abril a Maçonaria retomou a sua actividade pública. E hoje está presente.
E como é que marca presença ?
Está presente nas Lojas que reúnem homens livres que estão disponíveis para debater tudo. Quando digo homens livres, estou-me a referir a pessoas de todos os partidos e religiões.
Continua a ter uma organização estruturada e activa?
A Maçonaria estrutura-se em Lojas e essas Lojas estão interligadas nacionalmente e dependem do Grande Oriente Lusitano.
Há muitos maçons nos Açores?
Há bastantes. Não posso dizer quantos, mas há bastantes.
Que influência exercem e como a exercem?
Exercem influência através do exemplo e da sua actividade, ao transmitirem para a sociedade os valores da liberdade, igualdade e fraternidade - que continuam extremamente actuais. Poderíamos adicionar a tolerância, que nos dias que correm faz muita falta. Transmitindo esses valores, exercem a sua influência. É assim que se faz sentir a Maçonaria.
Nos Açores há mulheres maçons?
Actualmente não. Nos Açores a Maçonaria feminina, que eu tenha conhecimento, nunca teve Lojas.
Quem são os líderes da Maçonaria nos Açores?
Isso não lhe digo. Posso dizer-lhe que o grão-mestre da Maçonaria do Grande Oriente Lusitano é o dr. António Reis. Por princípio, não divulgamos nem nomes, nem números. É uma das regras da Maçonaria - há 200 anos e hoje.
Em que locais se encontram?
Não posso dizer. Não é uma questão de segredo, é uma questão de disciplina. Mas posso dizer-lhe que numa vulgar sala.
Na sua opinião é importante que a Maçonaria persista?
Há valores que continuam a fazer falta hoje - a sua defesa e o seu desenvolvimento. Portanto, em meu entender continua a ser perfeitamente válida a aposta da Maçonaria.
Hístória, Maçonaria e Fotografia
O autor de “A Maçonaria Portuguesa e os Açores (1792-1935)” é, desde 2003, director do Museu Maçónico Português, cargo que acumula com as funções de presidente da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, de membro do Conselho Cultural da Associação Industrial Portuguesa e de consultor do Instituto do Património (IPPAR).
É licenciado em História pela Universidade Nova e possui mestrado, precisamente com a tese sobre a relação da Maçonaria Portuguesa e os Açores no período de 1792 a 1935.
Além da obra lançada ontem em Angra do Heroísmo, publicou em 2003, o livro sobre Gomes Freire de Andrade .
Actualmente é membro da equipa de investigação sobre o 5 de Outubro de 1910, trabalho que será publicado em livro este ano.